terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 68: UMA QUARTA FEIRA DE CINZAS

Foliões voltando pra casa na quarta feira de cinzas, depois de pegar um cana...a policia cumprindo seu papel de achacar e constranger o cidadão, naquele longínquo carnaval de 1942
(Estamos no mês de fevereiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, percorreram 1250 quilômetros numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 11 de fevereiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca), ainda de ressaca do carnaval, vão dar um passeio por Museus do Rio. Amanhã será o dia do encontro com o ditador Getúlio Vargas!)


Acabou mais um carnaval. 

Naquela quarta-feira de cinzas o Rio de Janeiro – e o país, por que não? – amanheceram de ressaca. E daquelas brabas. 

Nada abria no período da manhã, a não ser as “luginha” dos turcos. Repartições Federais, estaduais, municipais, nada abria naquela quarta-feira de cinzas. Era um silencio quase mortal pelas ruas que ontem estavam roucas. Aqui e ali ainda se viam alguns foliões retardatários pela cidade. 

Estes foliões desgarrados pareciam zumbis andando nas ruas, procurando suas casas. Alguns tinham dormindo na rua mesmo, em algum canto de marquise, em algum banco de praça. Outros tinham achado um lugar pra dormir na casa de aguem, quem sabe dormindo agarradinho. Outros, foliões de raça, ficaram firmes, de bar em bar, até o último gole de cachaça. Até tudo virar saudade. 

À tarde, quando a cidade anda tentava se recobrar da vida normal, os escoteiros saíram pela rua. Alguns de ressaca, outros não. Mas eram muitos. Eram quase duzentos escoteiros. Naquela cidade enzumbizada, eles procuravam um destino. E seu destino, naquela quarta-feira de cinzas, era o Museu Histórico. 

Lá no pátio do museu, alinhados uns aos outros, estavam os canhões do tempo das invasões holandesas ou do tempo da Guerra do Paraguai. Havia canhões que estiveram nas caravelas ou nos navios de piratas e flibusteiros que rondavam as costas da terra dos papagaios. 

Havia ali canhões de todos os tipos e tamanhos. Canhões para afastar qualquer inimigo. Entretanto, ao contrário dos canhões sempre em riste, apontados para o céu, as bolas de ferro destes canhões descansavam, apaziguadas, na grama verde do museu. Para elas, que todos os horrores viram, aquele museu era uma eterna quarta-feira de cinzas.

Lá no Museu, os duzentos escoteiros demoraram bem umas três horas. Tinha muita coisa pra ver. Os rapazes viram o trono que foi de dom Pedro, bem como a mobília de Dom João VI. Será que alguém teve o desejo de se sentar no trono imperial? 

Lydio conta que os rapazes se encantaram com a espada de ouro de Dom Pedro e a outra, também de ouro, que fora do Marechal Deodoro. Se estivessem na mesma sala, o primeiro imperador e o primeiro presidente republicano terçariam armas? Ou tomariam um chazinho para aparar as diferenças? 

Eles viram também o chapéu de Santos Dumont, ainda fresco, pois o grande inventor havia falecido havia somente uns dez anos. E já era a glória que era. Simples, meio arredio, Santos Dumont não comparecera para a história e mandara seu chapéu vir representá-lo. 

Também estavam no museu os sapatos de diversas imperatrizes. Como eram? Incompetente em coisas femininas, os rapazes somente citaram a presença de tão fundamental peça de vestuário. De qual das imperatrizes? Bonitos, feios, limpos ou sujos de terra? Ou mimosos, de cores delicadas? Diante deles, os olhos marciais de duas centenas de escoteiros devem ter feito olhares de indiferença. 

Ao sair do museu, aquela multidão de escoteiros foi visitar o Major Alencastro Guimarães. Como vimos anteriormente, ele era o Diretor da Central do Brasil, e os rapazes de Antonina já o conheciam. Depois, ainda tiveram um tempinho para ir ao aeroporto Santos Dumont. Lá, divertiram-se à beça com os aviões pousando e decolando naquela pista curta e tão rente ao mar. 

Exaustos de passeio e carnaval, os rapazes regressaram com Colégio Militar, em São Cristóvão, para descansar. Deveriam mesmo. 

O dia seguinte seria o dia da mais importante da jornada...

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