Foliões voltando pra casa na quarta feira de cinzas, depois de pegar um cana...a policia cumprindo seu papel de achacar e constranger o cidadão, naquele longínquo carnaval de 1942 |
Acabou mais um carnaval.
Naquela quarta-feira de cinzas o
Rio de Janeiro – e o país, por que não? – amanheceram de ressaca. E daquelas
brabas.
Nada abria no período da manhã, a
não ser as “luginha” dos turcos. Repartições Federais, estaduais, municipais,
nada abria naquela quarta-feira de cinzas. Era um silencio quase mortal pelas
ruas que ontem estavam roucas. Aqui e ali ainda se viam alguns foliões
retardatários pela cidade.
Estes foliões desgarrados
pareciam zumbis andando nas ruas, procurando suas casas. Alguns tinham dormindo
na rua mesmo, em algum canto de marquise, em algum banco de praça. Outros
tinham achado um lugar pra dormir na casa de aguem, quem sabe dormindo agarradinho.
Outros, foliões de raça, ficaram firmes, de bar em bar, até o último gole de
cachaça. Até tudo virar saudade.
À tarde, quando a cidade anda
tentava se recobrar da vida normal, os escoteiros saíram pela rua. Alguns de
ressaca, outros não. Mas eram muitos. Eram quase duzentos escoteiros. Naquela
cidade enzumbizada, eles procuravam um destino. E seu destino, naquela
quarta-feira de cinzas, era o Museu Histórico.
Lá no pátio do museu, alinhados
uns aos outros, estavam os canhões do tempo das invasões holandesas ou do tempo
da Guerra do Paraguai. Havia canhões que estiveram nas caravelas ou nos navios
de piratas e flibusteiros que rondavam as costas da terra dos papagaios.
Havia ali canhões de todos os
tipos e tamanhos. Canhões para afastar qualquer inimigo. Entretanto, ao contrário
dos canhões sempre em riste, apontados para o céu, as bolas de ferro destes
canhões descansavam, apaziguadas, na grama verde do museu. Para elas, que todos
os horrores viram, aquele museu era uma eterna quarta-feira de cinzas.
Lá no Museu, os duzentos
escoteiros demoraram bem umas três horas. Tinha muita coisa pra ver. Os rapazes
viram o trono que foi de dom Pedro, bem como a mobília de Dom João VI. Será que
alguém teve o desejo de se sentar no trono imperial?
Lydio conta que os rapazes se
encantaram com a espada de ouro de Dom Pedro e a outra, também de ouro, que
fora do Marechal Deodoro. Se estivessem na mesma sala, o primeiro imperador e o
primeiro presidente republicano terçariam armas? Ou tomariam um chazinho para aparar
as diferenças?
Eles viram também o chapéu de Santos
Dumont, ainda fresco, pois o grande inventor havia falecido havia somente uns
dez anos. E já era a glória que era. Simples, meio arredio, Santos Dumont não
comparecera para a história e mandara seu chapéu vir representá-lo.
Também estavam no museu os
sapatos de diversas imperatrizes. Como eram? Incompetente em coisas femininas,
os rapazes somente citaram a presença de tão fundamental peça de vestuário. De
qual das imperatrizes? Bonitos, feios, limpos ou sujos de terra? Ou mimosos, de
cores delicadas? Diante deles, os olhos marciais de duas centenas de escoteiros
devem ter feito olhares de indiferença.
Ao sair do museu, aquela multidão
de escoteiros foi visitar o Major Alencastro Guimarães. Como vimos
anteriormente, ele era o Diretor da Central do Brasil, e os rapazes de Antonina
já o conheciam. Depois, ainda tiveram um tempinho para ir ao aeroporto Santos Dumont.
Lá, divertiram-se à beça com os aviões pousando e decolando naquela pista curta
e tão rente ao mar.
Exaustos de passeio e carnaval,
os rapazes regressaram com Colégio Militar, em São Cristóvão, para descansar. Deveriam
mesmo.
O dia seguinte seria o dia da mais
importante da jornada...
Finalmente, o ditador dignou-se a receber os rapazes!
ResponderExcluirÉ AMANHÃ!!
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