quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 63: PASSEANDO EM SÃO CRISTOVÃO


Entrada do Colégio Militar do Rio de Janeiro, onde os escoteiros ficaram alojados em fevereiro de 1942
(Estamos no mês de fevereiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, percorreram 1250 quilômetros numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 13 de fevereiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) passeiam pelas imediações do Colegio Militar, em São Cristóvão. Enquanto isso, o mundo em guerra tem momentos decisivos na Asia e na União Sovietica.)

No Colégio Militar, tudo mudou de novo para os rapazes. Ordem, disciplina, Higiene. O Colégio Militar do Rio de Janeiro fora o primeiro colégio militar do país. O colégio havia sido fundado no fim do Império, em março de 1889. Ocupando um palacete que havia sido construído por um barão do império, foi um importante local de formação de quadros militares durante todo o século XX. 

A rotina do Colégio Militar não era muito diferente do que os rapazes haviam visto no Albergue da Boa Vontade. Era uma constante em tempos de higienismo, como a primeira metade do século XX. Pela manhã, todos os hospedes tinham que tomar uma ducha fria e somente após o banho é que eram admitidos no refeitório para tomar o café da manhã. 

Depois das 9 horas, era o momento do esporte. Segundo Lydio nos conta, praticavam toda sorte de esportes, e a ginastica era obrigatória. Somente depois do almoço é que eles eram liberados. 

À tarde, eles foram à Federação dos Escoteiros Cariocas para escrever e mandar cartas para a família. Lá, eles tiveram uma bela surpresa. Chefe Maneco havia remetido uma boa quantidade de dinheiro para cada um. A mensagem dizia que o dinheiro tinha sido enviado via cheque para o banco Boa Vista. 

Os rapazes ficaram sem saber o que fazer, pois não estavam acostumados a trabalhar com cheques. Mas não tinha necessidade. O dinheiro estava à disposição deles nas mãos do chefe David Barros, diretor do Jornal do Brasil. Foi lá, na sede do famoso jornal, que eles receberam o dinheiro. 35 mil réis para Chefe Beto e 25 mil para cada um dos outros. Era uma bela grana. 

Durante a tarde, sem mais para fazer, os rapazes ficaram passeando por São Cristóvão. Naquele tempo ainda não havia o Maracanã, que é o nome atual do bairro. Sem o icônico estádio, o antigo “maior do mundo”, aquela região era conhecida por São Cristóvão. Os diários de Lydio não falam de visita que eles tivessem feito a Quinta do Boa Vista, ali do ladinho. 

Por certo, também não devem ter conhecido o Museu Nacional, o maior do Brasil e recentemente em luto após um incêndio avassalador. O incêndio, que destruiu todo o edifício e muitas de suas peças em exposição, foi um incidente grave num país inculto e sem respeito pela sua memória. 

Nestes dias, as atenções do mundo estavam em Singapura. A Cidade-Estado resistia ao avanço das tropas nipônicas. Mas a situação era desesperadora. As tropas inglesas estavam desesperadas e sem moral para combater. Neste dia, os jornais noticiaram que as rádios da cidade estavam transmitindo músicas clássicas, para mostrar que ainda estavam em poder dos britânicos. 

Em Singapura, na Indonésia, na União Soviética, na Líbia, muitas batalhas estavam sendo travadas para conter o avanço nazista e nipônico. 

Fevereiro de 1942 era, como hoje, um momento de resistência.

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