domingo, 16 de fevereiro de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 66: SEGUNDA SEM FOLIA



Vista da Cidade Maravilhosa do alto do Corcovado, década de 1940

(Estamos no mês de fevereiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, percorreram 1250 quilômetros numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 16 de fevereiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) estão de castigo após chegarem atrasados ao colégio Militar. Motivo: ficaram até mais tarde curtindo o carnaval de rua do Rio.)

Na segunda feira, 16 de fevereiro de 1942, os escoteiros antoninenses tiveram que passar a manhã de castigo. A punição por ter ficado tempo demais no carnaval e entrado tarde no alojamento foi a arrumação dos quartos e dos banheiros do Colégio Militar, onde estavam hospedados. 


Lydio ficou arrumando camas, mais de 90, segundo ele. Milton varreu os três alojamentos e Canário lavou e secou os cinco banheiros. E lavaram rapidinho, por que senão não iria ter passeio para eles. 

O dia foi de passeios e caminhadas com os outros escoteiros. Fora os cinco antoninenses, havia mais duas delegações: os escoteiros paulistas, um grupo de 85 pessoas,  que haviam chegado de trem dias atrás, e os escoteiros gaúchos, cerca de 70 rapazes, que haviam chegado por mar no dia anterior. 

O grupo todo fez uma caminhada sob sol quente da Lapa até o bondinho do Corcovado. Os cinco rapazes lembraram-se dos dias de estrada, onde passaram por situações piores que aquela. O sofrimento os fortaleceu e deu motivo de orgulho.  Lydio comentou, com ironia, que os escoteiros gaúchos e paulistas que estavam com eles na caminhada só assim puderam ter uma pálida ideia do que era caminhar durante quarenta e quatro dias.

Apesar do sol quente, os rapazes chegaram finalmente ao Corcovado.  Subiram para apreciar a paisagem. De lá de cima, os cinco se extasiaram com a imensa vista.  Morrendo de sede, eles se fartaram de tomar refrigerantes no barzinho lá no alto, segundo as anotações de Lydio. 

A vista imponente maravilhou os rapazes. Lydio comentou sobre a baia de Guanabara, descreveu as ilhas todas. Do outro lado, ficou impressionado com o tamanho do Oceano. Notou também a lagoa Rodrigo de Freitas, que descreveu como bonita e cheia de barcos de recreio. 

As fotos da época da estada dos rapazes no Rio devem ter sido similares às fotos que temos hoje disponíveis na internet. Nele, pode-se ver uma cidade já grande, com avenidas sendo construídas e prédios sendo erguidos no centro e na zona sul.

Era uma cidade sendo reprojetada. A preocupação nesta época, era com obras de mobilidade e com a doutrina do higienismo, então muito em voga. A cidade demanda por ligação entre seus eixos de crescimento, assim como requer cuidados com a drenagem de águas pluviais e o abastecimento de água. 

Neste período destacam-se as obras da Avenida Getúlio Vargas que, como vimos, foi a causa da destruição da Praça Onze, lamentada no samba do ano anterior. A Avenida Brasil estava sendo projetada. Para melhorar e a ligação da Zona Norte com a Zona Sul da cidade O morro de Santo Antônio estava sendo demolido. Era um Rio em obras a cidade que os quatro escoteiros estavam vendo.

Ao voltar para o Colégio Militar, onde estavam alojados, os rapazes ainda viram os blocos, ranchos e frevos que iam passando, indo para o carnaval. Neste dia, entretanto, não ia ter folia. 

Todos voltaram nos horários regulamentares, tomaram banho e fizeram fila para o jantar. O resto da noite foi de conversas com os demais escoteiros que estavam por lá. 

Ainda tinha um dia de carnaval....


2 comentários:

  1. Que sensacional o diário de Lydio! Que riqueza ele notar e anotar a presença de Orson Welles. Cada vez fico mais surpreso com esse diário, merece até uma edição fac-similar. Fico imaginando alguém revendo os rolos do filme de Orson Welles e conseguindo identificar os rapazes na multidão carnavalesca da Praça Onze.

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    1. Sim, se tivéssemos em mãos o original...e mais dados que podem ser obtidos nas cidades onde eles passaram (algumas eu estive) e etc. É uma historia emocionante mesmo!!

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