Operários indo trabalhar de bonde, Rio de janeiro 1940 |
(Estamos no mês de fevereiro de 1942. Enquanto o mundo está em
Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de
Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, realizaram uma marcha a pé de mais de 1.200 quilômetros rumo ao Rio de
Janeiro, para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 5 de fevereiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) estão passeando peo Centro do Rio, desde a Cineladia até o cais do Porto.)
No dia 5 de fevereiro de 1942, os escoteiros antoninenses,
após o café no Albergue da Boa Vontade, tinham um compromisso urgente. As 10
horas da manhã os quatro – chefe Beto ainda estava de tratamento, por conta da
sarna que havia pegado durante a viagem – foram até a Federação Carioca dos Escoteiros,
situada na avenida Álvaro Alvim, em plena Cinelândia. Foram solicitar um “auxílio
pecuniário”, como comentou Lydio. Bufunfa, dindim, pila...estavam
precisados, pois a grana dos rapazes estava o fim...
A sede da federação era no 20º andar. De lá, os rapazes
aproveitaram para ver o belo espetáculo que era a cidade. De um lado, via-se a
baia de Guanabara. A Ilha Fiscal se destacava por um lado. Niterói aparecia lá
no fundo. O aeroporto Santos Dumont era um movimento só, com aviões de todos os
tamanhos subindo e descendo. Ao longe, na barra, podiam ser vistos os navios
entrando e saindo barrotados de mercadorias.
Para os lados do sul, poia-se ver o Pão de Açúcar e o
bondinho. Ao seu lado podia-se descortinar a enseada de Botafogo, a Urca e seu
famoso cassino. Lá longe a oeste, aparecia ainda o pico do Dedo de Deus.
Neste dia, eles souberam que em breve teriam companhia. Em
breve chegaria, por via marítima, uma excursão de escoteiros gaúchos. Por via
férrea, chegaria mais uma tropa, esta vinda de São Paulo. Todo este povo vinha
para uma cerimonia que prestava homenagem para Getúlio Vargas.
Era muito comum nesta época as caravanas que vinham de todo
o país saudar o Ditador. O Estado Novo tinha esta característica de forte culto
à personalidade, e o movimento escoteiro foi ativo participante desta prática.
Os cinco escoteiros antoninenses só puderam ver Getúlio Vargas quando foram
encaixados numa destas caravanas, que envolvia tropas paulistas e gaúchas.
As 11 horas, os rapazes foram para o quartel, onde não
poderiam perder a bóia. Comeram que não se aguentaram, e ficaram um pouco
jiboiando na praça da Harmonia. Depois, saíram de novo a passeio, para conhecer
o restante do cais do porto do Rio.
Andando ali, pelas ruas da cidade portuária, os rapazes
ficaram muito alarmados com os acontecimentos estranhos que eles viam acontecer. Muita confusão em quase todas as ruas. Muitas brigas. A ponto de se fazer notar. Brigas de jornaleiros adultos,
brigas entre marítimos embriagados, eram brigas entre desocupados de todos os
tipos.
Viram, nas ruas de prostituição, brigas entre as mulheres “por
causa de um malandro qualquer”, escreveu Lydio. A polícia reagia rápido.
Já-já vinha um carro de polícia e levava todos para o Distrito. Por vezes,
quando havia feridos, o barulho das ambulâncias cortava o ar quente da tarde de
verão. Uó-uó-uó, repicavam elas, levando os feridos para o Pronto Socorro.
Os rapazes ficaram felizes ao irem jantar no quartel.
Naquele dia, não teria comida e sim canjicada. Os rapazes, saudosos de uma
canjiquinha, se empanturraram.
Que espetáculo inusitado "passear" pela zona portuária do Rio para quem saiu da pacata Antonina.
ResponderExcluirPelos comentários deve ter sido chocante
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