terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 54: A CARTA DOS ESTIVADORES


A praia de Copacabana em 1940, quando os escoteiros passaram por lá
(Estamos no mês de janeiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, percorreram 1250 quilômetros numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 4 de fevereiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) vão entregar uma importante carta dos estivadores de Antonina. E ainda teria mais coisas...)

Na quarta feira de manhã, logo depois do café no albergue da Boa Vontade, os rapazes receberam a visita do Dr. João Ribeiro. Ele deu uma passadinha para convidá-los para um passeio pelas praias do Rio. Programão, programão! 

Mas, antes, os escoteiros tinham que cumprir uma das missões que eles foram incumbidos de fazer na Capital Federal. Não, não foi só a carta para Getúlio Vargas, como todos sabem. Além de entregar a carta ao presidente, eles tinham um ofício confidencial do Sr. Lucídio Rocha, agente do IAPE em Antonina, para o presidente do órgão, o Dr Antônio Ferreira filho. 

O IAPE era o Instituto de Aposentadoria e pensão dos estivadores. Foi um dos muitos institutos de aposentadoria e pensões criadas nos anos 1930, e que foram importantes na regularização e melhoria das condições de trabalho no país. Foi inicialmente criada em 1934 como Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Operários Estivadores e alterada em 1938 para o IAPE. 

Pela primeira vez, após a implementação da legislação trabalhista os trabalhadores brasileiros tiveram acesso a aposentadoria por invalidez ou velhice, além de auxílio funeral e assistência médica. Para os trabalhadores, que viviam sob a égide do liberalismo da República Velha, que não aceitava a associação de classes e impedia uma legislação trabalhista mais avançada, foi uma verdadeira revolução. 

Os rapazes foram até o prédio da rua Venezuela para entregar o tal ofício. Foram recebidos pelo Doutor Antônio Ferreira numa sala com ar-condicionado, que era uma raridade naquela época. Ele leu o relato dos estivadores e disse que ia fazer tudo o que pudesse para melhorar o Serviço da Estiva no Porto de Antonina. Não podemos dizer se deu certo, mas os rapazes ficaram satisfeitos com a promessa. 

Ao ouvir o relato das aventuras dos cinco rapazes, Doutor Antônio lhe disse que deveriam seguir a obra de difundir o escotismo no Brasil, “a fim de formar uma raça forte e sadia”. E, claro convidou os rapazes para almoçar no restaurante do IAPE, o que eles por certo não desperdiçaram. 

Lydio nos conta que viu pelos elevadores do prédio um ex-funcionário do IAPE em Antonina. Ramiro Muniz Galvão, o Bahia, que havia prejudicado muitos estivadores em Antonina. E ficou devendo para Lydio seis meses de pagamento. Um crápula. Daqueles. Assim que reconheceu Lydio, ele escapou de fininho por um dos elevadores. 

À tarde, Dr João Ribeiro chegou com seu carro para levar os rapazes a conhecer as praias do Rio. Eles costearam a orla, via Flamengo, Botafogo, praia Vermelha, Copacabana, até o Leblon. 

Para os rapazes foi um espetáculo impressionante. Apesar de ser quarta-feira, havia muita gente na praia. O que mais impressionou os rapazes, por certo, foram as “roupas de banho sumárias” usadas pelas mulheres na praia. “Foi uma alegria para os olhos”, comentou Lydio. 

Um escoteiro carioca, chamado Liberalino Salvini, da tropa almirante Tamandaré, foi visitar os rapazes no Albergue da Boa Vontade. Lá, o colega os convidou para partidas de futebol suíço, ping-pong e basquete. 

Mas já era tarde. Já eram quase 22 horas. Os rapazes voltaram ao Albergue e sua rotina de trocar de roupa, banho frio e cama. 

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