domingo, 23 de fevereiro de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 73: LOURIVAL FONTES E A FOTO ICÔNICA


De terno branco ao centro da foto o Dr Lourival Fontes, diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda, o famigerado DIP; no dia seguinte ele teria uma reunião exclusiva com os escoteiros antoninenses, quando lhes entregou a icônica foto da entrega da mensagem a Getúlio Vargas

(Estamos no mês de fevereiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, percorreram 1250 quilômetros numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 23 de fevereiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) fazem nova visita ao Departamento de IMprensa e Propaganda, o famigerado DIP.)

Na segunda feira, 23 de fevereiro de 1942, os cinco rapazes fizeram uma visita ao DIP, o Departamento de Imprensa e Propaganda. Já haviam estado lá na semana anterior, mas com toda a balburdia dos outros escoteiros. Agora eram só os cinco. 

O DIP era o temido Departamento de Censura do governo do Estado Novo. O DIP atuava firmemente na censura a jornais e rádios. O jornal Estado de São Paulo, por exemplo, ficou cerca de três anos com um fiscal do DIP em sua redação, para censurar as notícias que o governo não gostava. 

Além disso, o DIP produzia muitas pelas de propaganda, em geral louvando Getúlio Vargas. Estes livros contavam desde sua infância em São Borja, até episódios de sua juventude. Tudo engrandecendo Getúlio, e fazendo uma propaganda da moralidade requerida pelo Regime. Quando criança, era louvado por ser “bom estudante”, “bom companheiro”. Como líder, era o homem sábio, defensor da justiça e, pra ficar por aqui, “amigo maior” das crianças. 

Desde quando foi montado, em 1938, até a visita dos escoteiros, o DIP era ativo numa propaganda estilo nazifascista, imitando a propaganda de Hitler e Mussolini. Entretanto, com a guinada de Vargas a um apoio aos Estados Unidos na Guerra, o DIP iria mudar de cara. Seus tempos finais o Departamento foi um apoio firme ao esforço de guerra aliado, embora mantivesse a ferrenha censura internamente. 

Os rapazes se encontraram com o diretor, Dr Lourival Fontes, que conversou demoradamente com eles a respeito da aventura deles. Lourival Fontes era um jornalista sergipano, que se mostrou um notório defensor de doutrinas autoritárias. Foi ele que imprimiu a maior parte da estratégia de propaganda fascista do DIP que os rapazes agora visitavam. Em julho deste mesmo ano de 1942, por causa das mudanças na política Getulista em relação a guerra, Lourival Fontes pediu sua demissão. 

Nesta visita dos rapazes ao DIP, o Dr Lourival Fontes deu a eles diversas fotografias oficiais. Entre elas, a icônica foto da entrega da carta a Getúlio por Milton Oribe. Temos claro, portanto, que a viagem dos rapazes ao Rio também foi uma propaganda do Regime do Estado Novo. Também lhes passou vários livros didáticos. 

Depois, eles passaram pela Federação Carioca dos Escoteiros. Agora, eles queriam receber notícias dos amigos e familiares, mas também saber como é que eles voltariam. 

Da parte dos rapazes, tudo era especulação. Canário achava que eles deveriam voltar de avião. Sonhava com uma viagem em que pudesse ver tudo do alto. Já para Manduca, o melhor seria voltar de trem, pois eles poderiam conhecer outras cidades. Lydio achava que de navio seria o método melhor e mais rápido. Chefe Beto dizia que o melhor seria voltar num automóvel militar. Já imaginou entrar em Antonina num daqueles caminhões de choque?

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