quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 49: "SUJOS DE POEIRA, E AINDA FEDENDO!"


A Praça da República, no centro do Rio. Aqui acabou a marcha histórica dos escoteiros antoninenses em 30 de janeiro de 1942. Ainda faltava encontrar Getúlio Vargas..
(Estamos no mês de janeiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 30 de janeiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) finalmente chegam ao seu destino e se apresentam ao Comando dos escoteiros. Que surpresa eles vão ter!)

Os cinco escoteiros de Antonina saíram do 8º distrito Policial, em Campinho, as 6 horas da manhã. Era o último dia de viagem, e a vontade de encerrar estava maior que tudo. Lydio, Chefe Beto, Canário, Manduca e Milton juntaram todos os petrechos, se despediram do delegado adjunto e seus auxiliares e caíram na estrada. Segundo Lydio, partiam felizes. 

As 6 e meia já estavam tomando um café reforçado num bar e seguiram pela rua coronel Rangel até chegar em Cascadura. Lá, eles viram pela primeira vez os trens elétricos da Central do Brasil. Depois de passar por Piedade e Engenho de Dentro, deram uma pequena parada. As 11 da manhã chegaram ao Meyer. Gastaram seus últimos centavos num almoço por ali, num restaurante da rua Dias da Cruz. 

O sol estava de arrebentar cano d’água, segundo Lydio. Mas pelo menos agora tinha sombra na calçada. Eles pararam para um pequeno descanso na rua São Francisco Xavier. 

Ali, Lydio lembrou ao Chefe Beto que eles deveriam procurar um posto de gasolina para tomar banho. Seria bom trocar a roupa suja pela roupa limpa que eles tinham nos bornais. Afinal, como Lydio disse, não ficava bem a eles chegar ao destino todo sujo de pó e cheirando a suor. 

Chefe Beto respondeu com desdém: “lá vem você com parte de arrumação!”, disse irritado. “O que você quer é cartaz!”, e rematou “Já está vendo moças bonitas e é por isso que quer ficar bonitão!”. 

As duas da tarde, eles já estavam no famoso canal do mangue, depois de passar pela avenida Maracanã. Meia hora depois chegaram à praça Onze e, logo depois na Praça da República. Ali, protegido por uma estatua do Duque de Caxias, estava o Quartel General das Forças Armadas. 

Um sargento passava por ali. Os rapazes pediram a ele pelo General Heitor Borges, o presidente da União dos Escoteiros do Brasil. O que aconteceu deixou Lydio e os rapazes muito vexados. 

 O general estava por ali, trajando um terno branco e ao lado de um caro oficial, no pátio interno do quartel. O general chamou o Chefe Beto, mas ele não foi, e não deixou nenhum dos rapazes irem. O general, segundo conta Lydio, ficou muito irritado. 

O sargento interveio: “meu general, estes rapazes são escoteiros de Antonina, e estão fazendo um raid a pé para entregar uma mensagem uma mensagem ao presidente”. Tendo a atenção do general, o sargento continuou: “o motivo de trazê-los aqui foi porque eles me procuraram pedindo que eu informasse quem era o presidente da UEB. Como eu conheço o general eu atendi os rapazes, encaminhando eles até aqui”. 

O general olhou firme para os rapazes e disparou: “Como é que vou apresentar vocês assim deste jeito?”, perguntou, zangado. “Garotos sujos de poeira, e ainda fedendo!”. E concluiu: “já imaginaram os colegas me dizendo que sou o chefe de escoteiros maltrapilhos? Eu me orgulho de vocês terem feito este raid, mas tenho raiva do modo como vocês estão apresentados!”. 

O general dispensou o sargento e mandou os rapazes para uma salinha no primeiro andar, onde fizeram uma rápida higiene pessoal. Trocaram de roupa, colocando os uniformes limpos, e as três da tarde um automóvel chegou para levá-los à sede da Federação dos Escoteiros Cariocas. 

No carro que os conduzia, os rapazes estavam meio preocupados, meio vexados com a situação. Não era a chegada que eles esperavam, e não era a recepção que eles imaginavam, por certo. Porem, na Federação dos Escoteiros, eles foram recebidos pelo major Inácio de Freitas Rolim, que fora ex-chefe de Lydio no grupo escoteiro do Círculo Militar de Curitiba e ex-presidente da federação dos escoteiros de Paraná e Santa Catarina. 

Além de bem recebidos pelo Major Rolim, eles ouviram uma fala do Dr João Ribeiro dos Santos, comissário de propaganda da UEB. O Dr João a partir deste momento se tornou o protetor dos rapazes enquanto estes ficaram no Rio de Janeiro. 

Da Federação, os rapazes foram hospedados no Albergue da Boa Vontade, onde ficaram nos primeiros dias na Capital Federal. Ali, eles ficariam enquanto não abriam vagas para eles no Colégio Militar de São Cristóvão. 

A caminhada estava encerrada. A entrega da carta, que era o final da aventura, ainda não. Como os escoteiros iriam encontrar com Getúlio?

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