sábado, 4 de janeiro de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 23: MANDUCA BAIXA AO HOSPITAL


A cidade de Araçoiaba da Serra, a Antiga Campo Largo de Sorocaba. Ao fundo, o belo Moro do Araçoiaba
(Estamos no mês de janeiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão desde 16 de dezembro de 1941 numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 4 de janeiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) estão saindo de Araçoiaba e chegando em Sorocaba. Manduca, doente, tem que ir ao hospital!)

Os rapazes partiram cedo de Araçoiaba. Faltavam só 140 quilômetros até São Paulo, o que ainda demandaria quatro dias de marcha. Lá pelas dez da manhã o sol ia impondo o ritmo da caminhada. A água que eles tinham era muito salobra, e não matava a sede. A caminhada era penosa, feita sob o sol quente. 

No entanto, o que os ajudou neste caminho foram as laranjas. Como conta Lydio, Araçoiaba, antigamente conhecida por Campo Largo de Sorocaba, tinha extensas plantações de laranja. Segundo nos conta, estas laranjas eram consideradas as mais doces do mundo, sendo exportadas para o exterior. 

No entanto, o laranjal também tinha problemas éticos a oferecer. Segundo lídio, a 9ª lei do escoteiro diz que “o escoteiro é econômico e respeita o bem alheio”. Quando acabavam as laranjas que eles haviam levado, e não querendo se apropriar indevidamente do produto, os meninos ficavam mesmo com sede sob o sol escaldante, olhando, com agua na boca, as laranjas madurinhas nas laranjeiras bem na frente deles. 

À esquerda da estrada que os meninos seguiam estava o famoso morro do Araçoiaba. Destacando-se na planície, o morro era um dos marcos mais importantes do planalto de Sorocaba. É formado por rochas ígneas alcalinas que perfuraram os sedimentos paleozóicos havia uns 60 milhões de anos. 

O morro não se destacava somente pelo relevo. Continha importantes jazidas de ferro, que haviam sido mineradas desde o período colonial. Ali estão as famosas “lavras dos Sardinha”, o primeiro registros de fundição do ferro no Brasil. E, também, a grandiosa Fábrica de Ferro de Ipanema, que havia funcionado, com  alguns períodos de interrupção, de 1817 até o final do século XIX, tendo fabricado boa parte do ferro consumido no Brasil e estimulado o desenvolvimento da agricultura e da indústria paulista. No entanto, apesar disso, e apesar de tê-lo visto imponente, Lídio não deve ter notado o morro do Araçoiaba, pois não faz nenhuma menção a ele em seu diário. 

As 11 horas da manhã daquele domingo, 4 de janeiro de 1942, os meninos comeram um “qualquer-coisa” numa venda de beira de estrada – uma rápida refeição e um cafezinho temperado com açúcar – os meninos finalmente chegavam em Sorocaba. As 16 horas estavam entrando na área urbana da cidade. 

Lídio anota que Sorocaba, fundada em 1654 pelo Capitão Baltazar Fernandes, era conhecida como a “Manchester Paulista”, em razão de suas inúmeras fabricas. Tinha na época uma população de 120 mil habitantes. Rica cidade industrial, Lídio anota que Sorocaba possui “diversas escolas de ensino superior, duas emissoras de rádio e muitos estabelecimentos bancários”. 

Os meninos procuraram alojamento no 7º Batalhão de Caçadores da Força Pública de São Paulo. Lídio considerou o quartel uma maravilha de engenharia militar. Situado numa colina, o quartel dominava toda a cidade. Foram recebidos por um oficial subalterno e conduzidos ao comandante da corporação. 

A assistência que recebera no 7º BC foi, para Lídio, “sem igual”. Massacrados pelo sol, os meninos foram imediatamente tomar um banho para se refrescar. Foi quando aconteceu o acidente: antes de entrar no chuveiro, Manduca sentiu-se mal e caiu duro no piso do banheiro. Com o pescoço todo retesado, parecia que estava morto. 

Assustados, os meninos procuraram a assistência do quartel. Na enfermaria, constatou-se que o pobre Manduca estava com estafa, subnutrição e diarreia. Foi imediatamente conduzindo para tomar injeção e soro. Nisso, todos os meninos acabaram por fazer exame médico geral. Apesar de cansados, todos estavam bem, e foram aprovados no exame médico. Mas Manduca ainda ficaria internado por mais um tempo, para se recuperar. 

Finalmente, os meninos tomaram banho e foram jantar. Tiveram direito até a gasosas, e a uma comida reforçada. Comeram muito. Precisavam repor as energias gastas com aquelas caminhadas ao sol quente. 

Depois, foram passear pela cidade. Andaram por algumas ruas e foram ver uma retreta na praça, também fizeram uma visita à PRD 7 rádio difusora de Sorocaba. Mas era esforço demais. Os meninos voltaram mais cedo para o quartel e foram dormir, ainda preocupados com a situação de saúde de Manduca.

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