segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 25: CAMINHANDO NO DIA DE SANTOS REIS


Quadrinha do dia de Reis, publicado no Correio Paulistano no dia em que os escoteiros chegavam à cidade de São Roque, em sua marcha rumo ao Rio de Janeiro
(Estamos no mês de janeiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão desde 16 de dezembro de 1941 numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 6 de janeiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) estão chegando em São Roque. Falta pouco para chegar em Sampa!)

Era o dia de Santos Reis, 6 de janeiro de 1942. 

Neste dia os jornais noticiavam os combates no Pacífico. As frotas Americana e Japonesa travavam um combate nos ares, e havia possibilidade de enfrentamento nos próximos dias. As áreas mais prováveis de combates seriam a Nova Guiné, onde os americanos ameaçavam a cidade de Rabaul e o estreito de Sonda. Enquanto isso, os ingleses enfrentavam pesado bombardeio japonês na Birmânia. 

Enquanto isso, fazia 1 mês do ataque na Marinha Japonesa à base americana de Peral Harbour. Neste interim, ocorriam intensos debates entre os países latino-americanos em relação ao alinhamento pró-Estados unidos e contra as potencias do Eixo. Dali a poucos dias a III Conferência Pan-americana, no Rio de Janeiro, deveria dar um tom unificados dos países americanos em relação à agressão Japonesa contra os Estados Unidos. 

A partir da localidade de Brigadeiro Tobias, onde tinham arranchado na noite anterior, os rapazes acordaram cedo e seguiram sua marcha. Quando eles se levantaram, o sol nem tinha surgido no horizonte ainda. Quando ele finalmente surgiu, os rapazes já tinham caminhado cerca de 9 quilômetros. 

Ao meio dia, pararam num gramado a beira da estrada para o almoço. Ainda com o farnel do 7º BC, os rapazes tiveram como almoço um verdadeiro banquete: peixes secos e salgados, uma caneca de café preparado pelo já refeito Manduca, e quatro colheres de farinha de milho para cada um. Como complemento, uma pequena broinha do tamanho de uma caixa de fósforos. A ideia era racionar e aproveitar para desenvolver a caminhada. 

Nesta parada, os rapazes ainda discutiram seus planos. Até aqui, já tinham caminhado cerca de 400 quilômetros em 21 dias. Entretanto, destes 21 somente 18 foram de caminhada, os dias restante eles ficaram descansando para se recuperarem. E concluíram que não estavam nada mal no planejamento. 

No entanto, caminhar era muito difícil. Uma sensação de desanimo e enjoo tomava conta dos rapazes algumas vezes. Caminhavam no limite das forças. Em geral andavam em passo regular 4 quilômetros por hora. Quando aceleravam o passo, chegavam a caminhar 5 quilômetros/hora. Quando resolviam correr pra afastar o desânimo, a canseira resultante acabava por derrubá-los a todos. 

À tardinha passaram pela localidade de Pantoja, e anoitecia quando cruzaram por Mairinque. Apressaram o passo, mas chegaram e São Roque tarde da noite. Lá. Como sempre faziam, procuraram o delegado de polícia. 

Segundo Lídio, não foi difícil encontrá-lo. Quando o encontraram, quase se arrependeram: como o homem era sistemático! Examinou folha por folha o livro de visitas, e averiguou uma por uma as carteiras escoteiras que os meninos portavam. Só depois desse exame é que o delegado colocou seu carimbo e assinou em cima. 

Uma vez alojados na delegacia, os meninos foram passear. Lídio achou uma beleza o footing dos rapazes e moças de São Roque. Segundo ele, as moças andavam da direita para a esquerda na rua, e o moços da esquerda para a direita. Quando um casal se formava (hoje se diz dar match) é que eles iam para o banco da praça a namorar. E lá ficavam até as 10 horas, quando todos tinham que se recolher. 

Lídio achou bacana o footing em São Roque. Porque em Antonina, como ele conhecia, o footing era tudo embolado, rapazes e moças. E só em frente ao cinema do Vico é que tinha footing. 

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