sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 29: A CARTA DE CHEFE MANECO


Ao fundo o edifício Martinelli, no centro de são Paulo. Este edifício, o primeiro arranha céu da America Latina, foi visitado pelos escoteiros antoninenses em janeiro de 1942
(Estamos no mês de janeiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão desde 16 de dezembro de 1941 numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 10 de janeiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) estão passeando por São Paulo quando recebem uma carta importante.)

O dia seguinte, um sábado, amanheceu garoando. Entretanto, as 9 da manhã a garoa, clima antes tão típico da capital paulista, se dissipou. Com o dinheiro recebido no dia anterior, os rapazes deixaram o quartel e foram às compras. 

Milton e Chefe Beto compraram alpargatas roda e tênis de basquete, para usarem na caminhada. Os velhos tênis que haviam trazido já estavam por demais gastos. Lydio comprou mais um cantil e meias pretas três quartos. 

Depois de bater a boia no quartel, os rapazes fizeram uma pequena sesta e, mais dispostos, foram visitar o senhor Laudemiro Munn, na Casa Verde. De lá, senhor Laudemiro os levaria para conhecer a cidade. Em sai companhia, os escoteiros visitaram o terraço do Martinelli, e viram lá de cima a confusão e o mar de prédios do centro da capital. Segundo Lydio, era impressionante sob todos os pontos de vista. 

A seguir estiveram em diversos pontos do centro da cidade, como o parque do Anhangabaú, o largo de São Bento, a Praça do Patriarca, entre outros. Na avenida São João, entraram num bar e fizeram um lanche. E se divertiram olhando as vitrines das lojas. A predileção dos rapazes eram ver os manequins que estavam expostos. 

A noite, os rapazes jantaram em casa de seu Laudemiro. Depois, tinham compromisso: visitas oficiais a diversas rádios da cidade. Neste dia, os rapazes visitaram a rádio Tupi, em com as rádios Cruzeiro do Sul, Kosmos, Difusora e rádio Bandeirantes. Os rapazes foram muito bem recebidos, e contaram sobre sua aventura aos jornalistas. 

No dia anterior, os rapazes haviam recebido uma carta do Chefe Maneco. Na carta, Seu Maneco anunciava que estava mandando uma pequena quantia para cada um deles. Mas tinha um outro assunto, mais espinhoso. Seu Maneco advertia Lydio para que não escrevesse mais para sua família relatando os problemas do grupo, como ele fizeram na carta que enviou de Itapetininga. “Escrevam para mim, que eu dou jeito daqui mesmo”, aconselhou chefe Maneco.

Mas não foram só problemas que tratava a carta. Chefe Maneco ainda procurou incentivá-los a continuar o Raid, pois tudo estava indo bem. “Não esmoreçam, pois faremos bonito perante as demais Associações da Federação [de escoteiros]”. 

Também confortava a todos que ele estaria sempre ao lado deles, e advertia para que eles não encrencassem mais com Chefe Beto. “Todos vocês são bons escoteiros, e confio que nada mais haverá”. Na margem da carta, escrita a lápis, um pedido: “Veja se apuram mais um pouco o Raid, não parem, quem aqui pede é o chefe e amigo. Veja se a 25 estão no Rio”. 

Chefe Beto também recebeu uma carta de Seu Maneco. Lydio acha que ele não gostou, pois ficou carrancudo o resto do tempo.

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