domingo, 26 de janeiro de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 45: "QUE SEJA, MENINO?"


A velha Maria-Fumaça na Estação Passa Tres (RJ), dez anos antes da passagem dos escoteiros por aqui
(Estamos no mês de janeiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 26 de janeiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) estão passando por Getulândia em direção à Serra das Araras.)

Naquela segunda feira, 26 de janeiro, cinco escoteiros antoninenses amanheceram animados. Aquela era a última semana da marcha, se tudo desse certo. Aproveitando as primeiras horas da madrugada, onde o ar era mais fresco, eles iniciaram a jornada pelas estradas fluminenses. 

O ritmo da marcha foi lentamente aumentando, e o calor do sol que ia se erguendo não abatia o moral dos meninos. Manduca, Canário, Lydio, Milton e Chefe Beto estavam muito perto do destino. Caminhavam em silencio, para não gastar energia. 

Claro que de vez em quando, alguém reclamava por pisar num pedregulho, que tanto doía a sola dos pés já tão machucados. A areia quente fazia das suas, deixando a sola dos pés em situação lamentável. 

As 10 horas, neste passo, eles atravessaram a vila de Getulândia, e seguiram mais adiante. Cerca de uma hora depois pararam num portão de fazenda para uma refeição bem rápida. 

O portão da fazenda, segundo o relato, era “monumental”. Essa foi a palavra empregada por Lydio. Aliás, observando ao longe o Solar de uma fazenda, a cerca de 500 metros dali Lydio resolveu ir lá pedir água. 

Do portão, eles viam um empregado e um homem comprido e esquálido, esparramado numa cadeira postada embaixo de uma janela. Ao se aproximar, Lydio sentiu certo ar de desconfiança do empregado, que o fitava com uma cara feroz. O senhor comprido levantou-se da cadeira, bocejou e olhou Lydio com cara de poucos amigos. Tamanho era o ar de brutalidade e autoridade, que Lydio se referiu a ele como Coronel. 

O senhor perguntou: “Que seja, menino?”. “Preciso saber onde encontro água para fazer o nosso café”, respondeu Lydio. O homem fez um quase sorriso e apontou para um poço ali perto. E perguntou novamente: “De que lugar você procedem?”.” Antonina, Paraná”, respondeu Lydio. Devia ser a milésima vez que dava aquela resposta durante a viagem. “Somos escoteiros e estamos fazendo um raid a pé até a Capital Federal”, acrescentou. 

Lydio pegou a água e resolveu sair dali o mais rápido possível. No portal da fazenda, Milton estava com o fogo pronto, e a água não demorou ferver. Tomaram café com biscoitos de maisena. 

A seguir, reiniciaram a marcha. Atravessaram a vila de Passa Três as quatro da tarde. Aqui, pararam num bar e compraram mantimentos para a refeição da noite. As cinco, pararam na vila de Sobradinho, onde prepararam a janta. Enquanto Manduca e Canário faziam a boia, Lydio descansou deitado na grama macia do local. 

As 19 horas iniciaram mais uma caminhada noturna. Desta vez deram um bom estirão e chegaram até a serra das Araras. Estavam muito cansados ao chegarem no vilarejo de são Joaquim. Extenuados, eles se sentaram numa calçada perto de um posto de gasolina, onde estenderam a lona da barraca e cada um encostou a cabeça na própria mochila para descansar. 

Era já uma hora da madrugada. Neste dia, haviam caminhado cerca de 46 quilômetros.

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