domingo, 12 de janeiro de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 31: DE NOVO NA ESTRADA!


A frente do estádio municipal do Pacaembu: Os escoteiros estiveram aqui de visita em janeiro de 1942
(Estamos no mês de janeiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão desde 16 de dezembro de 1941 numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 12 de janeiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca), depois de alguns dias de descanso, estão saindo de São Paulo rumo a seu destino no Rio.)

No dia 12 de janeiro de 1942, uma segunda feira, o céu havia amanhecido brusco na capital Paulista. A temperatura havia caído um pouquinho durante a noite. Somente quando a neblina se dissipou é que o sol apareceu. 

Os escoteiros de Antonina tinham que prosseguir a jornada. Entretanto, Chefe Beto, Milton, Lydio, Canário e Manduca achavam que não conseguiriam chegar ao Rio em 25 de janeiro, como pediu chefe Maneco. Na verdade, pelos cálculos dos rapazes, a média das caminhadas diárias dava 29 quilômetros por dia, contando com as paradas para almoçar e descansar. Portanto, segundo as contas deles, uma data mais realista para a chegada ao Rio seria por volta de   30 ou 31 de janeiro. 

Este era o dia de despedidas da capital, mas ainda tinha muita coisa e muito compromisso. Os rapazes recorreram aos bondes camarão e taxis para cumprir suas tarefas e percorrer todos os locais que precisavam percorrer. 

Inicialmente, foi visitado o Departamento de Publicidade de São Paulo, e, em seguida, o Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda. Nestes locais, os rapazes receberam várias homenagens da imprensa paulistana. Em seguida, foram à Agência Nacional, onde ainda posaram para uma foto e foram entrevistados por vários jornalistas. 

O compromisso seguinte seria uma visita de cortesia ao governador de São Paulo, no antigo palácio dos Campos Elíseos. Era a antiga residência dos governadores paulistas.  Infelizmente, o governador paulista, Dr. Fernando Costa, estava ausente, veraneando no litoral. Representando o governador, o secretário-chefe da casa civil do governo estadual os atendeu gentilmente, o que agradou por demais aos rapazes. 

Ao sair do palácio, os escoteiros ainda visitaram a redação do jornal A Gazeta. Lá, conheceram o famoso jornalista Dr. Casper Libero, um dos mais importantes nomes do jornalismo brasileiro. 

E ainda tiveram tempo (ufa!) de visitar o grandioso estádio do Pacaembu. Lydio descreve o estádio como situado entre duas colinas e em formato de ferradura, com um ginásio de esportes e uma pista de atletismo. Recebidos pelo próprio diretor do estádio, ficaram sabendo que, com capacidade para 50 mil pessoas, o Pacaembu era o 3º em capacidade de público na América do Sul. 

Depois de toda esta maratona, os rapazes ainda foram almoçar com o senhor Laudemiro, na Casa Verde. Lá, contam, foi com lágrimas nos olhos que se despediram do senhor Laudemiro e sua família. Depois de quatro dias de intensa convivência, despediram-se saudosos daquele que foi seu amoroso guia em terras paulistanas. 

No quartel, também começaram as despedidas. Cumprimentaram o comandante do 1º BC, que os havia tratado tão bem. Lydio nos conta que foi naquela corporação que tiveram seus melhores amigos. “Não se pense”, acrescenta Lydio, “que por serem policiais, não eram bons sujeitos”. Segundo ele, eram melhores que aqueles indivíduos civis que ficam batendo perna pela rua e dão problemas para os policiais. 

Por fim, despediram-se de todos no quartel. Foi pouco tempo, mas o bastante para fazer amizades. Oficiais inferiores, sargentos, cabos e praças, todos receberam os rapazes muito bem.  Por força dessa simpatia, depois das despedidas, os rapazes ainda foram encaminhados para a cozinha, onde puderam encher os embornais com comida para a viagem. 

As 16:00 deste dia, no Marco Zero do Largo da Sé, os rapazes partiram para a terceira e última etapa da viagem. Eles ainda tomaram um bonde camarão e foram a Penha, de onde pegariam a estrada para o Rio de Janeiro. Ainda passaram, nesta mesma noite, pela pequena vila de São Miguel Paulista, onde procuraram um delegado para assinar o livro de visitas. O delegado insistiu que dormissem ali. Mas eles estavam com pressa. 

Os rapazes ainda seguiram mais 8 quilômetros e montaram acampamento num campo em frente a uma casa nas proximidades do rio Tietê. O relógio de Lydio marcava 23:30 horas.

Um comentário: