quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 48: BANGU É PARA OS FORTES


Uma das tecelagens do bairro de Bangu em 1940. Bangu era um dos mais importantes distritos industrias do páis. 
(Estamos no mês de janeiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 29 de janeiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) chegaram ao Distrito Federal, cruzando os subúrbios e o grande bairro operário de Bangu.)

Foi o próprio soldado de plantão do Posto Fiscal de Campo Grande quem se encarregou de acordar os cinco rapazes. O café já estava preparado. 

Foi com muito ânimo que Milton, Canário, Lydio Manduca e Chefe Beto partiram para o final da viagem. As oito da manhã eles passaram por Senador Vasconcelos e às 9 horas por Santíssimo. As 10 da manhã, os rapazes estavam chegando no grande bairro operário de Bangu. 

Bangu não é para os fracos. O sol estava muito forte, o asfalto literalmente derretendo e eles estavam caminhando praticamente descalços. O ar úmido tornava o calor ainda mais intenso. Infernal. Então, eles decidiram dar uma parada. 

Bangu era conhecido por suas inúmeras tecelagens, sendo um imenso bairro operário, um dos maiores da américa do sul, segundo anotaram os rapazes. Além do mais, ali estava o estádio do Bangu Futebol Clube, o legendário. Em Bangu haviam sido revelados os dois maiores astros do momento do futebol brasileiro: Domingos da Guia e Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”. Lendas do futebol, naquele ano os dois não estavam mais na zona norte. Estavam jogando na zona sul, no time do Flamengo. 

Os rapazes almoçaram num bar restaurante, e ali ficaram descansando até as quatro da tarde. Ali, fizeram um balanço das finanças do grupo. Ainda bem que estavam chegando, pois a coisa estava indo de mal a pior. Quando fizeram as contas eles viram que cada um tinha em média 10 mil réis, o que mal daria pra o dia seguinte. 

O que eles não imaginavam é que já estavam famosos. O soldado Affonso, que os recebera na noite passada no Posto Fiscal de Campo Grande, havia contado ao Jornal “A Noite” sobre a façanha dos escoteiros. “A pé do Paraná ao Rio”, era o título da matéria. A matéria cita Chefe Beto como “Alberto Istorichi” no início da nota e “Alberto Istriki” ao final. Em meio as notícias sobre a guerra, as notícias policiais e anúncios sobre o carnaval próximo, a aventura dos meninos já era notícia no Rio de Janeiro, a um dia do seu fim. 

Sem saber disso, os rapazes voltaram a caminhar e as cinco da tarde passaram por Realengo, onde estavam situados vários quartéis. As seis da tarde chegaram no largo do Campinho e resolveram pernoitar aqui. Chefe Beto havia perdido o Livro Diário oficial seis quilômetros atrás e teve que ir buscá-lo. 

Além do mais, eles estavam baqueados com a viagem. Literalmente no limite das forças, os rapazes ainda continuavam no trecho amparados pela vontade de chegar. O corpo nem obedecia mais. Com o calor que fazia, complicava tudo. Segundo Lydio, se restassem mais três dias, eles teriam que baixar ao hospital. 

Extremamente cansados, os rapazes pararam para pernoitar no 8º Distrito Policial em Campinho.

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