domingo, 1 de abril de 2012

PRIMEIRO DE ABRIL


Apesar de você....


Primeiro de abril é o dia da mentira, qualquer criança sabe. O que não sabem muitos foi que foi nesse dia, o da mentira, e não no 31 de março, que iniciou-se o golpe de 1964, que interrompeu um governo legitimamente eleito e instituiu uma brutal ditadura que durou 25 anos. Meu avô, Maneco Picanço, foi um dos idealizadores em Antonina da “Marcha da Família com Deus contra o Comunismo”, uma patética manifestação da direita católica e que ocorreu em todo o Brasil no dia 1º ou no 2 de abril, como manifestação popular de apoio ao golpe. Segundo uma lenda familiar, eu participei dessa história. Com cerca de seis meses de idade, estive nessa passeata no colo de minha avó. Como foi sem consentimento, eu posso me considerar uma das vitimas de primeira hora da “Redentora”. Claro, só piada.
Cresci, como todos de minha geração, cantando o Hino nacional e uma dezena de outros hinos na escola e “Eu te amo meu Brasil” na rua. Nas repartições públicas, aquela cara sisuda e ameaçadora do general Médici ficava nos olhando, ameaçadora. Pessoas desapareciam, eram mortas. As coisas eram segredadas, sussurradas. Toda frase com as palavras “popular” ou “democrático” eram automaticamente submetidas à censura.
Estes tempos duros já passaram há muito. Porem, parece que ainda não passaram, como pudemos ler esta semana nas paginas dos jornais. Agora, que estamos prestes a montar uma comissão da verdade, alguns fósseis ameaçam sair das tocas para protestar, mas contra que? O fato é que a ditadura não teve fim. Ela veio sumindo lenta, lenta, e fez que foi mas não foi. Não tivemos um acerto de contas de verdade. A culpa disso é de muitos políticos que preferiram negociar com os generais moribundos aquela malfadada lei da anistia na qual se homiziam os assassinos dos anos de chumbo.
Da mesma forma, estes políticos preferiram a via “fácil” do colégio eleitoral, deixando os milhares que gritavam por eleições diretas nas ruas com o grito na garganta. Como resultado, demos uma sobrevida aos oligarcas que sustentavam o regime, como foi Antônio Carlos Magalhães, como ainda é José Sarney e outros. Os peixes menores, os torturadores e assassinos, os estupradores, todos esses estão ai, ganhando sua aposentadoria e dormindo seu sono feliz.  Afinal de contas, “lutaram contra o comunismo”, segundo recentemente declarou um desses esbirros.
No Paraná tivemos por quase 30 anos o “consulado” de Ney Braga. Só o que ele dizia ou fazia predominava, embora, no governo Médici, teve que aturar o arrivista Leon Peres, que logo tratou de defenestrar. Enquanto não foi derrotado nas urnas, o pensamento da direita católica esteve mamando nas tetas do Estado. Toda uma leva de políticos e de famílias de políticos paranaenses que ainda estão aí comeram desse cocho. Alguns passaram pro outro lado, no intuito de se dar bem. E deram. Em outubro os filhos e netos de alguns deles virão pedir seu voto.
É preciso uma comissão da verdade. É uma questão de justiça. É preciso saber quem eram os sádicos que nos governaram em nome de ideais no mínimo equivocados. E quem foram os criminosos, os covardes torturadores de mulheres. Para crimes contra a humanidade não há perdão. Como disse o recém-falecido Millôr Fernandes, desconfie de todo aquele que lucra com seu ideal.

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