um prato típico da culinária napolitana da Baia de Antonini, o "Cozze com Farina" faz sucesso em toda a Bota. Mamma mia! |
Volta e meia eu me iludo com algumas certezas, como as
couves na minha horta. Cercado delas, me sinto seguro e tranquilo. Minha única preocupação
é rega-las para que cresçam fortes e sadias e impedir que as malditas borboletas
brancas depositem seus ovos nas folhas. Um descuido e é fatal: as tais das
lagartas nascem e começam a roer as folhas de certeza, perdão, as de couve, e
em breve nada mais terei do que antes tinha. Sozinho, na chuva, sem um talo de
couve pra roer.
Talvez por já ter muito plantado couves na vida (não tudo o
que deveria, é verdade), eu desconfio das certezas. Por isso, talvez, pareça tão
quieto e pensativo cuidando de minhas couves e lagartas. Lembro-me de uma peça
de teatro do italiano Luigi Pirandello, que pus no título desta crônica: “Assim
é, se lhe parece”. Em sua peça, como na vida, o autor fala da relatividade da
verdade, e como o que é verdade pra um não é para outro – e vice versa, como
diria meu recém-falecido guru Millôr Fernandes.
Nesse espinhoso assunto que trata de problemas de meio
ambiente, tão minado de paixões que é, temos que ir tocando o barco devagar,
como o velho marinheiro do samba de Paulinho da Viola. Às vezes, as coisas não são
exatamente o que parecem ser, mas exatamente o seu contrário. Argumentos esgrimidos
de parte a parte, muitas vezes, não passam de meros argumentos, onde certamente
não está a verdade, mas sim uma boa e consistente oratória.
Os que defendem o desenvolvimento não cessam de argumentar
que as preocupações ambientais dificultam a criação de empregos. No caso da Deitada-a-beira-do-mar,
isso é sempre um bom argumento, que sempre arrebata muitos corações. No entanto,
cabem reparos. O grande problema não é a falta de emprego, mas a falta de
qualificação. Já vivi este problema ao contratar pessoas, quando trabalhava na indústria.
Hoje, um peão precisa estudar pelo menos até o nono ano pra ter qualificação. O
que ocorre é que os supermercados de Curitiba descobriram isso e Antonina passou
a ser uma mera cidade-dormitório, fornecendo a mão-de-obra pouco qualificada
(leia-se barata) que na capital não se encontra mais.
Se Antonina não tem gente qualificada, não adianta vir indústrias
de ponta, que são as menos poluidoras. As indústrias que nós atraímos são as
que os outros não querem. Como a população de São Joãozinho Feliz, que não quer
o Lixão (ops, Aterro sanitário!) por perto, mas não tem força pra impedir, Antonina
atrai indústrias que outros lugares não querem. E que vem atrás de nossa mão-de-obra
barata, não se iludam.
Por ironia, um dos maiores empregadores privados da cidade é
a SPVS, que tem numerosas áreas de preservação dentro do município e diversos
projetos de educação ambiental. Pode-se discordar de ações da SPVS, mas ninguém
em sã consciência rejeita os impostos que ela paga ao município. Ou seja, o
meio ambiente também dá empregos. Hoje, não num hipotético futuro.
Nosso problema é educação (mais) e cidadania (melhor), não o
“meio ambiente, que atrapalha a gente”. Nós fazemos o nosso meio ambiente melhor
com educação e bom senso, sem roubar o que é de direito das futuras gerações. Eu
bem que queria que meus (futuros) netos tomem banho na Ponta da Pita sem pegar
micoses e outras perebas, um direito que eu tive e meus filhos não tiveram.
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