Existem coisas que não se pode deixar de ver, de tão
evidentes. Diz uma lenda carioca que o jornalista Otto Lara Rezende, distraído
que era, nunca tinha percebido o Pão de Açúcar - certo dia quando o viu,
espantou-se. Seu amigo Nelson Rodrigues, para tirar uma com o espanto de Otto com algo tão óbvio, criou um famoso personagem, o óbvio ululante.
Uma coisa muito evidente, na politica de
Deitada-a-beira-do-mar, nos últimos vinte e poucos anos, é a força eleitoral de
Munira Peluso, a Mônica. Olhando o quadro abaixo, é impossível não deixar de
perceber suas votações, como o óbvio ululante de Nelson Rodrigues. Desde que
aqui chegou, vinda de onde eu não sei, Munira foi desses forasteiros que logo
entram nas graças dos conterrâneos de Valle Porto. Na sua primeira eleição foi
eleita vice-prefeita, na chapa de Leopoldino Abreu, com 2706 votos, ou 31% do
total de eleitores. Na eleição seguinte, em 1992, Munira ficou em segundo
lugar, com 2038 votos ou 25% do total, com óbvia transferência de votos de seu
antecessor.
Em 1996 acabou por ser eleita com 3046 votos, 31% do total.
Com a mudança na legislação que permitiu a reeleição – manobra safada do
ex-presidente Fernando Henrique, aliás – Munira foi reeleita quatro anos depois
com 5298 votos, ou 49,51% do total. Ou seja, neste período ela consolidou uma
grande força eleitoral que acabou por transmitir em 2004 para seu sucessor, meu
amigo Kleber. Nas eleições de 2008, no entanto, ela e Kleber dividiram sua base
eleitoral, o que permitiu a vitória de Canduca e sua campanha paz-e-amor.
Canduca, na verdade, obteve menos votos na sua eleição em 2008 que os votos que
obteve em 2004, quando ficou em segundo. Munira, por outro lado, cravou 3169
votos, ou 25% do total, uma votação nada desprezível.
Não a conheço pessoalmente. O que sei é que sua gestão na
prefeitura foi fortemente marcada por uma politica assistencialista das mais
deslavadas. O nepotismo foi outra característica tristemente marcante de sua
passagem pelo Palácio da rua XV. Navegando numa conjuntura favorável, na qual o
porto funcionou mais ou menos e o Terminal da Ponta do Félix começou a funcionar,
as coisas até que andaram na Deitada-a-beira-do-mar. Por outro lado, foi uma
administração pouco preocupada com arte e cultura, medíocre até, tanto que os
carnavais em sua gestão foram os mais pobres e mais mal preparados que cheguei
a ver na Avenida do samba.
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Apesar de ameaçada não sair candidata por estar enquadrada
na lei da ficha limpa, Munira tem cativo cerca de um terço a um quarto dos
votos capelistas. É um cacife imenso, e todos os políticos da cidade cortejam a
“Mãe dos pobres”. Como a musa do populismo tardio, Munira Peluso encena seu
jogo no papel da mãezona que socorre os despossuídos. Mas a ex-prefeita não é
madre Teresa de Calcutá, ela claramente se beneficia desta miséria que sua
politica só ameniza. Amansa as massas, dóceis, e vai colher seus frutos de
quatro em quatro anos. Bom, não? Para Antonina, não é suficiente. Distribuir
cestas básicas entre a população carente não faz um povo melhorar seu nível de
vida nem aumenta sua qualificação, tão necessária na hora de conseguir um bom
emprego nos tempos que correm.
É um óbvio ululante dizer que o populismo assistencialista à
la Munira é uma cruel armadilha para a qual as pessoas mais carentes
frequentemente são empurradas. Pra mudar situações de carência material e
intelectual é preciso políticas sérias, de longo prazo, mais educação, uma
gestão municipal mais profissional – sem xoques de jestão, claro está. Alguém vai
dizer que estou sonhando ao pedir isso pra Antonina. Ao realismo pessimista dos
que dizem que é impossível, acho que não custa sonhar mais alto e pensar mais
alto. É preferível ser um sonhador de olhos abertos que compactuar com a politiquinha
de aldeia, com a mediocridade e a mesmice de um novo governo de Munira Peluso.
O Serviço de Alto Falantes Ornitorrinco (SAFO), ao cumprimentar os presentes desta grandiosa quermesse em louvor de Santa Munira da Ficha Suja e de Santa Mônica da Cesta Básica, orienta os nossos milhares de desafetos e os quase 8 leitores que adquiram as fichas para o pão, a maionese, o filézão suculento e o gazozão roxo nas barracas respectivas.
ResponderExcluirinclui os meus seis leitores nesse pão-com-vina!!
ExcluirNada de pão-com-vina, prezado: estou falando de filé de quermesse, daqueles servidos em pratos de papelão.
ExcluirDe todo modo, venham todos: se acabar o filé, bem, "tacamos" pão-com-vina e gazozão roxo quente no povo.
Ó Jeffinho!
ResponderExcluirTô confuso, sei que tudo que é político pula de galho.
Munira antes era Osmar, agora é Beto e pelo jeito da tua matéria vai virar Lula??? Ululante não é quem é Lula?
Tô confuso.
Mauricio Scarante (Masca)
meu querido, acho que Lula não vira não; Lula desmanchou boa parte do assistencialismo ao vincular o bolsa escola (o bolsa-esmola dos tucanos) com a garantia de que as crianças estão na escola mesmo. Isso quebrou a espinha do coronelismo no nordeste e nos bolsões de miséria do sul, por exemplo....
ExcluirPermita-me, pois, cumprimentá-lo, prezado Masca, porque, afinal, você reconhece sua notória e pública confusão, e este é um ato de grande coragem pessoal.
ExcluirParabéns e conte conosco nesta quadra difícil da sua vida.
Paulo Roberto "Dazed and Confuzed" Cequinel
Jeffinho, brincadeiras a parte no meu comentário atrás, a coisa pegou lá no Bacucu sobre tua matéria, por sinal meu nobre professor, voce está escrevendo muito bem.
ResponderExcluirAbraço.
Mauricio Scarante (Masca)
rapaz...pois não foi uma tribuzana das boas? escrever é meu dia-a-dia, se a gente treina bastante até perna de pau tem seu dia de craque...
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