segunda-feira, 16 de abril de 2012

ANTONINA ANTIGA VII



Esta foto mostra em destaque o objeto de desejo de dez entre dez políticos antoninenses: a atual prefeitura. Não sei de quando é o prédio, nem quem o construiu, mas consta que foi nele que se hospedou o imperador e sua família. Isso em 1880, o que lhe dá, de longe, uns 130 anos de existência. Se mesmo hoje ele ainda é um dos prédios mais imponentes da Deitada-a-beira-do-mar, imaginem há cem anos se existiam outros prédios iguais. Consta que só se tornou o prédio da prefeitura em 1914, segundo li numa atas antigas da câmara. O que era antes?
Na foto se vê a sua fachada neoclássica, como tantos outros prédios públicos do século XIX. A começar pela sua estrutura volumétrica é bem definida, com um balcão no primeiro andar que separa o prédio em dois volumes iguais. Embaixo, um térreo simples e janelas e portas quadradas. Acima do balcão se destacam os cinco janelões imitando colunas romanas. Os janelões laterais são redondos, imitando colunas romanas. No centro, a coluna é triangular, como as estruturas greco-romanas. Em frente à janela central pode-se ver o mastro da bandeira projetando-se falicamente do prédio.  No terço  superior, a platibanda, também é simétrica, com ornamentos na forma de jarro.  Outro detalhe importante da arquitetura neoclássica é a porta de nossa prefeitura, que se abre ao modo francês, para dentro. No interior do prédio, a escada de madeira trabalhada também é simétrica, apresentando o lance central tangenciado por dois outros, dispostos em sentido contrário.    
Pela sombra que se projeta na rua, é de manhã. A rua está vazia, o que pode significar ou que é muito cedo ou então que se trata de um domingo ou feriado. Os prédios ao redor se apresentam também muito parecidos seu estado atual, como o que abriga  a nova Delicatessen da esquina, à esquerda da foto, obra de meu querido amigo Wilsinho. De quando é a foto? Uma dica de Sherlock Holmes: estão vendo, logo acima da porta de entrada, à direita, uma mancha branca? Pois se trata da placa de mármore que fala da visita de Dom Pedro II a Antonina. De quando é a placa? 1925. Elementar, meu caro Watson: a foto é mais nova que isso.
Quem são as pessoas que aparecem na foto? Um homem de calcas e camisas brancas, de paletó cinza (?) e chapéu na cabeça, encostado na porta com uma das mãos no bolso da calça e outra na altura da barriga – é evidente que está posando. Na janela, à sua esquerda, uma figura que aparentemente é uma mulher, recostada com os cotovelos na janela e também olhando o fotógrafo. Quem são? Como a porta da rua está aberta, sugere alguma familiaridade ao casal – se é que é um casal – com o prédio da prefeitura. Seriam funcionários da prefeitura? Mas, como diria a piada, o que eles estão fazendo ali, olhando o passarinho? Deveriam é estar trabalhando...
Não me parece uma foto alegre. A foto em si, pelo menos pra mim mostra um vazio muito grande, onde as pessoas são pequenas e não preenchem o espaço que os prédios – notadamente o edifício da prefeitura – ocupam muito bem. A solidão dos dois personagens em frente à prefeitura pode nos remeter ás solidões a que estamos expostos: a solidão do poder, a solidão do amor, a solidão existencial. Cada uma com suas dores e delicias. E da solidão nunca escapamos, por mais que construamos prédios suntuosos, cidades, laços de amizade e de amor. No início e no fim, todos estamos sozinhos. No caso de quem quer a partir de janeiro próximo ocupar o tal prédio e ter caneta para assinar e dinheiro pra gastar, talvez a foto os avise de alguma coisa perdida, no tempo da antiga Antonina: o que será?

(Meus agradecimentos para Fausto Lima, professor da UEL e grande arquiteto londrinense, mas que também ama a Deitada-a-beira do mar; seus seguros conhecimentos me guiaram na descrição arquitetônica do prédio da prefeitura)

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