Esta foto mostra em destaque o objeto de desejo de dez entre
dez políticos antoninenses: a atual prefeitura. Não sei de quando é o prédio,
nem quem o construiu, mas consta que foi nele que se hospedou o imperador e sua
família. Isso em 1880, o que lhe dá, de longe, uns 130 anos de existência. Se
mesmo hoje ele ainda é um dos prédios mais imponentes da
Deitada-a-beira-do-mar, imaginem há cem anos se existiam outros prédios iguais.
Consta que só se tornou o prédio da prefeitura em 1914, segundo li numa atas
antigas da câmara. O que era antes?
Na foto se vê a sua fachada neoclássica, como tantos outros
prédios públicos do século XIX. A começar pela sua estrutura volumétrica é bem
definida, com um balcão no primeiro andar que separa o prédio em dois volumes
iguais. Embaixo, um térreo simples e janelas e portas quadradas. Acima do
balcão se destacam os cinco janelões imitando colunas romanas. Os janelões laterais
são redondos, imitando colunas romanas. No centro, a coluna é triangular, como
as estruturas greco-romanas. Em frente à janela central pode-se ver o mastro da
bandeira projetando-se falicamente do prédio. No terço superior, a platibanda, também é simétrica,
com ornamentos na forma de jarro. Outro
detalhe importante da arquitetura neoclássica é a porta de nossa prefeitura,
que se abre ao modo francês, para dentro. No interior do prédio, a escada de
madeira trabalhada também é simétrica, apresentando o lance central tangenciado
por dois outros, dispostos em sentido contrário.
Pela sombra que se projeta na rua, é de manhã. A rua está
vazia, o que pode significar ou que é muito cedo ou então que se trata de um
domingo ou feriado. Os prédios ao redor se apresentam também muito parecidos seu
estado atual, como o que abriga a nova Delicatessen da esquina, à esquerda da
foto, obra de meu querido amigo Wilsinho. De quando é a foto? Uma dica de
Sherlock Holmes: estão vendo, logo acima da porta de entrada, à direita, uma mancha
branca? Pois se trata da placa de mármore que fala da visita de Dom Pedro II a
Antonina. De quando é a placa? 1925. Elementar, meu caro Watson: a foto é mais
nova que isso.
Quem são as pessoas que aparecem na foto? Um homem de calcas
e camisas brancas, de paletó cinza (?) e chapéu na cabeça, encostado na porta
com uma das mãos no bolso da calça e outra na altura da barriga – é evidente
que está posando. Na janela, à sua esquerda, uma figura que aparentemente é uma
mulher, recostada com os cotovelos na janela e também olhando o fotógrafo. Quem
são? Como a porta da rua está aberta, sugere alguma familiaridade ao casal – se
é que é um casal – com o prédio da prefeitura. Seriam funcionários da
prefeitura? Mas, como diria a piada, o que eles estão fazendo ali, olhando o
passarinho? Deveriam é estar trabalhando...
Não me parece uma foto alegre. A foto em si, pelo menos pra
mim mostra um vazio muito grande, onde as pessoas são pequenas e não preenchem
o espaço que os prédios – notadamente o edifício da prefeitura – ocupam muito
bem. A solidão dos dois personagens em frente à prefeitura pode nos remeter ás
solidões a que estamos expostos: a solidão do poder, a solidão do amor, a
solidão existencial. Cada uma com suas dores e delicias. E da solidão nunca
escapamos, por mais que construamos prédios suntuosos, cidades, laços de
amizade e de amor. No início e no fim, todos estamos sozinhos. No caso de quem
quer a partir de janeiro próximo ocupar o tal prédio e ter caneta para assinar
e dinheiro pra gastar, talvez a foto os avise de alguma coisa perdida, no tempo
da antiga Antonina: o que será?
(Meus agradecimentos para Fausto Lima, professor da UEL e
grande arquiteto londrinense, mas que também ama a Deitada-a-beira do mar; seus
seguros conhecimentos me guiaram na descrição arquitetônica do prédio da
prefeitura)
Putz, que texto legal!
ResponderExcluirvaleu, Edson! ganhei minha semana com teu carinho!
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