sábado, 28 de abril de 2012

MUNIRA E AS QUESTÕES AMBIENTAIS


 (esta é uma cronica que escrevi em 1997, mas que, por motivos diversos, nunca foi publicada; coloco-a em questão tendo em vista algumas discussões que temos travado na blogosfera capelista; as palavras em negrito e entre colchetes são observações atuais)

O jornal Voz do Litoral, em seu número 10, de junho deste ano [1997], publicou em sua página 2, na seção "Opinião", um artigo intitulado "Antonina e seus problemas ambientais",  que apresenta na íntegra o discurso que fez a Prefeita Monica Peluso no Seminário "A gestão integrada dos recursos naturais do complexo estuarino-lagunar de Iguape/Paranaguá",  realizado em Ilha Comprida (SP), durante a Semana do Meio Ambiente.

Em seu discurso, a Prefeita apresenta Antonina, sua situação geográfica e seus problemas ambientais, salientando os projetos que pretende implantar e as ações levadas a efeito pelo Governo do Estado e por diversas ONGs no município. Ressalta que Antonina é uma cidade "em vias de retomar o impulso em suas atividades portuárias, depois de um hiato resultante do ostracismo a que foi levada pelas autoridades, em todos os níveis , do passado".

A Prefeita enumera em seu discurso alguns problemas ambientais da cidade, como o extrativismo predatório, ocupação de encostas e de manguezais, falta de rede de esgotos e de disposição adequada do lixo urbano. No entanto, gasta a maior parte do tempo num " problema ambiental singular", segundo suas próprias palavras, "que é o da progressiva dessalinizaçào de suas águas no fundo da baía, pois recebe a contribuição de diversos rios". Ressalta ainda que este problema afeta diretamente a fauna marinha da baía de Antonina, "afastando as espécies de água salgada das áreas diretamente atingidas pela água doce".

Ao se referir à dessalinização das águas, cremos que a Prefeita se refere ao fato de que, em ambientes estuarinos, como é o caso da baía de Antonina, existe uma complexa inter-relação entre a água doce proveniente dos rios e a água salgada, proveniente das marés. Este é um fenômeno natural em qualquer estuário em qualquer região do planeta e, longe de ser negativo, representa o ambiente por excelência para a instalação de manguezais. As formações de mangue ocorrem preferencialmente nesta interface entre a água salobra e a doce, e são o local de procriação preferido por diversas espécies marinhas. Basta observar como nunca encontramos formações de mangue em contato direto com o mar aberto, porém abrigados por trás de lagunas ou baías. Não é por acaso que as formações de mangue, assim como toda a área de contorno da baía de Antonina, foram declaradas de interesse e proteção especial pelo Decreto Estadual no 2963, de 19/12/1980, artigo 1o, alíneas IV e V, em complementação à Lei Federal no 6766, de 19/12/1979.


A importância de nossa baía, portanto, reside no fato de que ela é o santuário por excelência das formações de mangue, visto apresentar contribuição tanto da água dos rios como das marés. Não devemos censurar a ignorância da Prefeita em assuntos de meio ambiente, uma vez que formação escolar não é pré-requisito para cargos públicos. No entanto, parece claro que nesta área está mal assessorada, e aí é que está o problema. Na Antonina que está a um passo do desenvolvimento, uma política de meio ambiente pouco fundamentada ou supérflua pode agravar ainda mais os problemas ambientais já tão críticos.
  
Evidentemente, os problemas ambientais de Antonina não estão na maior ou menor quantidade de sal na baía, mas em séculos de exploração não sustentada de seus recursos naturais. O assoreamento da baía, causado pelo desmatamento das encostas da serra do mar,  vaticinado pelo professor Bigarella ainda nos anos 70, intensifica-se e chega até o presente como uma tragédia anunciada. Nossos esgotos domésticos poluem a baía, diminuindo sensivelmente a fauna marinha em quantidade e qualidade. A ocupação de encostas sem o devido cuidado, assim como o aterro dos manguezais, prossegue sem um Plano Diretor para a área urbana, com as bênçãos da Especulação Imobiliária. A miséria e a incultura espalham a degradação ambiental, fonte de doenças e de desajuste social.

Outro de nossos males é a memória. A memória antoninense é por tradição fraca e vaga. Documentos históricos, em vez de serem analisados por historiadores, apodrecem em casas de família, ou são surrupiados das repartições públicas. O que fica é o predomínio da versão sobre o fato, da lenda sobre a história. Em que bases a prefeita afirma que a população de Antonina remontava a mais de 30 mil habitantes em 1930? Para conter uma população deste porte, a área urbana deveria ser muito maior naquela época do que hoje, quando a cidade comporta cerca de 18 mil. A maior perda de população em Antonina verificou-se a partir do fechamento do porto, na década de 70. No censo de 1970 a população era de 17 mil habitantes, continuando praticamente igual quase trinta anos depois. Estes são dados do Censo. Em quais dados a prefeita se baseia para suas afirmações? 

A Prefeita comemora em seu discurso a existência em Antonina de grandes Parques Estaduais, Reservas e Áreas de Preservação. É necessário que a administração municipal não tome como seus méritos de governos estaduais e ONGs. E é urgente que se discutam formas de envolvimento da população com estes projetos, geralmente alienígenas. Atividades preservacionistas em nosso país devem ocorrer no contexto de um desenvolvimento ambientalmente sustentado, que traga benefícios reais à população, e não meramente garanta a manutenção de algumas ONGs.

São bastante louváveis os esforços ambientais da Prefeita, como os projetos Pró-Atlântica, Baía Limpa, Lixo Bom e outros, ainda mais sucedendo a um prefeito que, como se sabe, nunca morreu de amores pelas questões ambientais. No entanto, a implementação de projetos ambientais com um suporte técnico como o revelado pelo discurso da Prefeita é preocupante, uma vez que podem ser  - como tantos outros administradores que falam de meio ambiente - atos vazios e de mera propaganda,  sem representar um impulso para ações ambientais mais corajosas e criativas.

Enfrentar com coragem e criatividade a questão ambiental é um dos desafios das administrações do presente, em qualquer esfera. O Efeito estufa, o rompimento da camada de ozônio, a desertificação que avança sobre áreas agrícolas em todas as partes do mundo, a poluição dos recursos hídricos, são alguns problemas a serem enfrentados em escala global. Em nosso país, somam-se ainda as questões sociais ainda não resolvidas, impondo o desafio de um desenvolvimento econômico ambientalmente sustentado. Para tanto, além de coragem política, é necessário o conhecimento técnico adequado destes problemas.

No caso antoninense, é necessário ainda superar as "questões de aldeia" e enfrentar os problemas com propriedade. Não podemos mais ser amadores ou empurrar os problemas com a barriga, aguardando, com paciência municipal, miraculosas soluções estaduais ou federais. Ou estaremos comprometendo o melhor de nosso futuro. Precisamos cuidar de nossa baía, a qual, como muito acertadamente já dizia a canção, foi um presente do mar. 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

MONSTRUMENTOS


Mais um grande monumento da Deitada-a-beira-do-mar, os urubus do mercado, clicados por Eduardo Bó

Durante as discussões que houve semana passada na blogosfera por conta da minha crônica “Munira e o Óbvio ululante”, uma coisa me chamou a atenção – mas não, não se trata de política ou eleições. Trata-se, isso sim, dos monumentos da Praça Romildo Gonçalves Pereira, a popular Feira-mar. Colocados ali na gestão de Leopoldino Abreu ou de Pereirinha, tanto o Monumento à Bíblia quanto o “barco adernado” sempre foram motivo de muita reclamação, tanto dos bagrinhos quanto dos turistas. Tanto que, no calor da discussão da semana passada, meu amigo Masca chamou-os de monstrumentos, um excelente neologismo para este tipo de obra.
Curitiba também tem vários desses monstrumentos. O mais famoso e, de longe, o mais popular, é a estátua do papa João Paulo II no Bosque do Papa. Não há quem não sinta algo estranho ao contemplar a estatua do falecido pontífice. Todos acham a estátua feia ou estranha, e alguns até veem um olhar diabólico no que era pra ser a representação de um papa que nem esfriou na cova e já é beato. Outro famoso monstrumento curitibano é o “Cavalo Babão” do Largo da Ordem, mais uma das muitas esquisitices da gestão de Rafael Waldomiro, o Greca de Macedo.
O Monumento À Bíblia é banal do ponto de vista artístico. Já o Barco Adernado é artisticamente bem elaborado, e foi feito por uma artista plástica curitibana, não me lembro do seu nome agora. Imagino que seja mais fácil para as pessoas se sentirem a vontade com o monumento à Bíblia do que com o Barco. Como toda obra de arte moderna (Valei-me São Geraldo Leão e São Bó!), a sua significação não vem pronta – o espectador é que tem que construir a sua. Você olhar um quadro cheio de rabiscos e achar uma coerência ali é diferente – e mais difícil – que achar a coerência de uma Mona Lisa, onde os significados estão mais evidentes.
O problema com os monumentos é que você tem que sentir identidade com eles. Qualquer um que olhe a Torre Eiffel faz mentalmente várias associações com França, franceses, Paris. Estatua da Liberdade, Nova York. Os porto-alegrenses se orgulham da estátua do Laçador, que fica na entrada da cidade. Nós, brasileiros, nos sentimos bem quando vemos as formas de Brasília, o Cristo Redentor, o Corcovado. Eles, os monumentos, falam de nós para nós mesmos, nos dão uma identidade.  Esse é o seu papel e o seu charme.
Em nosso caso, tanto o Barco Adernado quanto o Monumento à Bíblia são coisas que não dizem nada para as pessoas. O monumento à Bíblia porque é feio esteticamente, sem nenhuma conotação religiosa – ou não – nesse meu achar. O Barco Adernado eu acho bonito, mas reconheço que não tem nada a ver com as pessoas que vivem e passam todo dia por ali. Não dizem nada e – para os mais apressados - ainda ocupam espaço. Os dois são exemplos de Monstrumentos.
Monstruments são gerados quando a municipalidade tem dinheiro em caixa e não sabe como gastar. Nessas condições, ela faz qualquer coisa, mesmo coisas bonitas, mas coisas que não dizem nada, que não dialogam com a cidade ao seu redor. Às vezes dá certo, noutras o sonho da razão produz monstrumentos, parafraseando o célebre quadro de Goya, pintor espanhol do século XIX.
Por outro lado, qual o monumento, natural ou artificial, que fala ao coração da Deitada-a-beira-do-mar? Qual seria o monumento que nos une e nos representa, qual seria  a nossa Torre Eiffel? Seria a Igreja na colina, o mais óbvio deles? Seria a Fonte da Carioca? A Fonte do Batel? A igreja de Bom Jesus do Saivá? O Conjunto da Obra, ou seja, o conjunto mar, morro, mangues e cidade? Qual é a sua opinião, nobre leitor desse humilde blog?

domingo, 22 de abril de 2012

CRIACIONISTUS

(a Paleontologia Imaginária é um ramo da Paleontologia que trata de animais incertos; é um ramo do conhecimento que faz fronteiras com a paleontologia, a geografia, a física molecular, a psicologia e com Morretes (PR). Como membro da Sociedade Brasileira de Paleontologia Imaginária (SBPI) e colaborador da South American Review of Imaginary Paleontology, periódico classe A1 da CAPES, venho através deste blog fazer a divulgação científica da Palentologia Imaginária para o publico interessado em ciências)


O gênero criacionistus é um dos mais interessantes espécimes discutidos na área de Paleontologia Imaginária desde o século XIX. Os primeiros espécimes foram encontrados num barranco de rocha calcária de idade siluriana no fundo de uma escola evangélica no Kansas, nos Estados Unidos, em 1832. Estes primeiros exemplares foram inicialmente estudados por J.Scopes, um professor de escola primária local, que o identificou corretamente na linhagem evolutiva entre o puritanus anglicensis e o adventistus raivosus (Scopes, Imaginary Paleontology Review, vol. 1, 1859, pág. 231-334).
Apresentados no Congresso de Paleontologia Imaginária da Filadélfia, em 1877, os criacionistus foram estudados, definidos e apresentados por Paolo Rossi (o jogador de futebol, não o acadêmico), que revelou a peculiar condição dessa espécie: o criacionistus era um fóssil que não acreditava ser um fóssil. Isso criava para eles mesmos uma série de embaraços, pois acreditavam serem restos de refeições de viajantes pelas estradas européias; ser ovas de peixes e crustáceos levados para o alto das montanhas como “sêmen levíssimo”; como criados no interior da terra por faculdades plásticas inerentes às rochas; ou como mera coincidência, como se um fóssil de crustáceo gravado na pedra fosse uma incrível brincadeira da natureza (Rossi, Imaginary Paleontolgy Review, vol. 34, pág. 459-609).
Os mares da época siluriana foram um tempo fértil em novos espécimes de animais e uma era plena de inovações e mutações, das quais os criacionistus eram somente mais uma espécie (Graham, Billy, Congresso de Paleontologia Imaginária de Kansas City, 1912). A maioria dos espécimes silurianos contemporâneos via com graça e ceticismo as argumentações dos criacionistus. “Eu não sou um fóssil, fui criado por Deus”, ele parecia bradar com suas nadadeiras petrificadas. As outras espécimenes não faziam caso: “Ahan, sei!”, diziam com um olhar irônico. “Desculpe, tenho que ir ao salão do trilobita aparar meus pigídios”, respondiam outros. “Nos vemos no Devoniano que vem”, e deixavam o chato, quero dizer, o criacionistus, falando sozinho.
Quando alcançou seu período de maior distribuição geográfica durante o Devoniano inferior, num quadrilátero que abrangia Fool´s Hole, em Nebraska, Redneck, no Kentucky, Little Rock, no Arkansas até Brainlessville, no Missouri, os criacionistus criaram um subambiente fortemente anóxico no qual proibiram as outras espécies de evoluir (Scopes, op.cit). No Congresso de Paleontologia Imaginária do Tennessee (1925) foi famosa a controvérsia que sustentada pelo filosofo britânico – e também paleontólogo imaginário – G.K. Chesterton. Para Chesterton, o criacionistus havia evoluído da baleia ou, então, do dromedário, o que era enfaticamente negado por ambas as espécies (Atas do Congresso de Paleontologia Imaginária do Tennessee, pág. 801-834).
Os criacionistus, como um fóssil que não ousa dizer seu nome, desapareceram ainda na era Paleozóica. Segundo uma corrente de paleontólogos imaginários, como Carl Jung (Jung, 1937), foi o fato de não suportarem ver sua imagem fóssil no espelho das águas que conduziu os criacionistus à extinção. Para outros estudiosos, como o Profeta Isaías (informação verbal), o criacionistus evoluiu sim, mesmo contra sua vontade, para outros espécimes como os céticus proféticus e os raivosus biblicus, espécies atuais caracterizadas pela interpretação literal dos textos paleontológicos sagrados (J.Butler, Congresso de Paleontologia Imaginária de Salt Lake City, 1919). Já os testimonius jeovensis se extinguiram porque as fêmeas da espécie, em vez de procriar, gastavam seus domingos batendo palma das tocas dos outros animais (Butler, op. Cit.). 


(ESTA POSTAGEM É DEDICADA À PAULO ROBERTO CEQUINEL, QUE EMBORA ATEU ACREDITA PIAMENTE QUE ORNITORRINCOS E BAGRES PODEM CONVIVER EM PAZ NA DEITADA-A-BEIRA-DO-MAR)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O TONICO É FALECIDO HÁ 8 ANNOS


Meu avô, Manoel Picanço (1904-1967) escrevia um diário, onde contava causos e anotava fatos do cotidiano de Antonina. Se tivesse conhecido a internet, "seu" Maneco com certeza seria blogueiro...

Nos fins do mês de maio (1949), esteve nesta cidade em companhia de sua progenitora a Exma Sra Palmira BomPeixe, viúva do saudoso Antonio Méllo, muito conhecido por Tonico Méllo. Vieram a esta cidade em visita a fonte da Laranjeira, dado as ultimas notícias das curas milagrosas que vem se verificando.
Aguardando a partida do Trem das 15:30h, encontravam-se na gare férrea os Senhores Acyr Loyola, M.D. Promotor Público, Sr. José Secundino de Oliveira (Camões) e José Thomaz do Nascimento.
Em dado momento, aproxima-se D. Palmira e sua progenitora, e os três presentes como já eram conhecidos da referida Senhora, mantiveram animada palestra.
O Zé Thomaz, com as amabilidades de que é contumaz, disse à D. Palmira: “há uns quatro dias o Tonico esteve almoçando comigo à bordo do vapor Itaberá, e até comeu pouco, pois não se sentiu muito bem” .
D Palmira atalhou e disse: “Sr. José Thomaz, acho ter havido um engano... o Tonico é falecido há 8 annos...”



NE - um detalhe curioso nessa deliciosa história são os milagres da Santa da Larangeira, no final dos anos 40, que tanto rebuliço deu. Quem vê a Larangeira hoje....

quinta-feira, 19 de abril de 2012

MUNIRA E O ÓBVIO ULULANTE


Existem coisas que não se pode deixar de ver, de tão evidentes. Diz uma lenda carioca que o jornalista Otto Lara Rezende, distraído que era, nunca tinha percebido o Pão de Açúcar - certo dia quando o viu, espantou-se. Seu amigo Nelson Rodrigues, para tirar uma com o espanto de Otto com algo tão óbvio, criou um famoso personagem, o óbvio ululante.
Uma coisa muito evidente, na politica de Deitada-a-beira-do-mar, nos últimos vinte e poucos anos, é a força eleitoral de Munira Peluso, a Mônica. Olhando o quadro abaixo, é impossível não deixar de perceber suas votações, como o óbvio ululante de Nelson Rodrigues. Desde que aqui chegou, vinda de onde eu não sei, Munira foi desses forasteiros que logo entram nas graças dos conterrâneos de Valle Porto. Na sua primeira eleição foi eleita vice-prefeita, na chapa de Leopoldino Abreu, com 2706 votos, ou 31% do total de eleitores. Na eleição seguinte, em 1992, Munira ficou em segundo lugar, com 2038 votos ou 25% do total, com óbvia transferência de votos de seu antecessor.
Em 1996 acabou por ser eleita com 3046 votos, 31% do total. Com a mudança na legislação que permitiu a reeleição – manobra safada do ex-presidente Fernando Henrique, aliás – Munira foi reeleita quatro anos depois com 5298 votos, ou 49,51% do total. Ou seja, neste período ela consolidou uma grande força eleitoral que acabou por transmitir em 2004 para seu sucessor, meu amigo Kleber. Nas eleições de 2008, no entanto, ela e Kleber dividiram sua base eleitoral, o que permitiu a vitória de Canduca e sua campanha paz-e-amor. Canduca, na verdade, obteve menos votos na sua eleição em 2008 que os votos que obteve em 2004, quando ficou em segundo. Munira, por outro lado, cravou 3169 votos, ou 25% do total, uma votação nada desprezível.
Não a conheço pessoalmente. O que sei é que sua gestão na prefeitura foi fortemente marcada por uma politica assistencialista das mais deslavadas. O nepotismo foi outra característica tristemente marcante de sua passagem pelo Palácio da rua XV. Navegando numa conjuntura favorável, na qual o porto funcionou mais ou menos e o Terminal da Ponta do Félix começou a funcionar, as coisas até que andaram na Deitada-a-beira-do-mar. Por outro lado, foi uma administração pouco preocupada com arte e cultura, medíocre até, tanto que os carnavais em sua gestão foram os mais pobres e mais mal preparados que cheguei a ver na Avenida do samba.
clique na imagem para ampliar

Apesar de ameaçada não sair candidata por estar enquadrada na lei da ficha limpa, Munira tem cativo cerca de um terço a um quarto dos votos capelistas. É um cacife imenso, e todos os políticos da cidade cortejam a “Mãe dos pobres”. Como a musa do populismo tardio, Munira Peluso encena seu jogo no papel da mãezona que socorre os despossuídos. Mas a ex-prefeita não é madre Teresa de Calcutá, ela claramente se beneficia desta miséria que sua politica só ameniza. Amansa as massas, dóceis, e vai colher seus frutos de quatro em quatro anos. Bom, não? Para Antonina, não é suficiente. Distribuir cestas básicas entre a população carente não faz um povo melhorar seu nível de vida nem aumenta sua qualificação, tão necessária na hora de conseguir um bom emprego nos tempos que correm.
É um óbvio ululante dizer que o populismo assistencialista à la Munira é uma cruel armadilha para a qual as pessoas mais carentes frequentemente são empurradas. Pra mudar situações de carência material e intelectual é preciso políticas sérias, de longo prazo, mais educação, uma gestão municipal mais profissional – sem xoques de jestão, claro está. Alguém vai dizer que estou sonhando ao pedir isso pra Antonina. Ao realismo pessimista dos que dizem que é impossível, acho que não custa sonhar mais alto e pensar mais alto. É preferível ser um sonhador de olhos abertos que compactuar com a politiquinha de aldeia, com a mediocridade e a mesmice de um novo governo de Munira Peluso.

terça-feira, 17 de abril de 2012

AZIZ NACIB

A ultima palestra que vi, em maio do ano passado, do grande geografo brasileiro ( e de São Luiz do  Paraitinga!)  Aziz Nacib  Ab´Saber, falecido no ultimo mês aos 87 anos. Ele estava com os olhos fechados de proposito, pois a luz o incomodava muito por conta da diabetes. Mas conversei com ele e ele ainda estava lucido e trabalhando, criticando com conhecimento e veemência vários pontos do novo Código Florestal. 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

ANTONINA ANTIGA VII



Esta foto mostra em destaque o objeto de desejo de dez entre dez políticos antoninenses: a atual prefeitura. Não sei de quando é o prédio, nem quem o construiu, mas consta que foi nele que se hospedou o imperador e sua família. Isso em 1880, o que lhe dá, de longe, uns 130 anos de existência. Se mesmo hoje ele ainda é um dos prédios mais imponentes da Deitada-a-beira-do-mar, imaginem há cem anos se existiam outros prédios iguais. Consta que só se tornou o prédio da prefeitura em 1914, segundo li numa atas antigas da câmara. O que era antes?
Na foto se vê a sua fachada neoclássica, como tantos outros prédios públicos do século XIX. A começar pela sua estrutura volumétrica é bem definida, com um balcão no primeiro andar que separa o prédio em dois volumes iguais. Embaixo, um térreo simples e janelas e portas quadradas. Acima do balcão se destacam os cinco janelões imitando colunas romanas. Os janelões laterais são redondos, imitando colunas romanas. No centro, a coluna é triangular, como as estruturas greco-romanas. Em frente à janela central pode-se ver o mastro da bandeira projetando-se falicamente do prédio.  No terço  superior, a platibanda, também é simétrica, com ornamentos na forma de jarro.  Outro detalhe importante da arquitetura neoclássica é a porta de nossa prefeitura, que se abre ao modo francês, para dentro. No interior do prédio, a escada de madeira trabalhada também é simétrica, apresentando o lance central tangenciado por dois outros, dispostos em sentido contrário.    
Pela sombra que se projeta na rua, é de manhã. A rua está vazia, o que pode significar ou que é muito cedo ou então que se trata de um domingo ou feriado. Os prédios ao redor se apresentam também muito parecidos seu estado atual, como o que abriga  a nova Delicatessen da esquina, à esquerda da foto, obra de meu querido amigo Wilsinho. De quando é a foto? Uma dica de Sherlock Holmes: estão vendo, logo acima da porta de entrada, à direita, uma mancha branca? Pois se trata da placa de mármore que fala da visita de Dom Pedro II a Antonina. De quando é a placa? 1925. Elementar, meu caro Watson: a foto é mais nova que isso.
Quem são as pessoas que aparecem na foto? Um homem de calcas e camisas brancas, de paletó cinza (?) e chapéu na cabeça, encostado na porta com uma das mãos no bolso da calça e outra na altura da barriga – é evidente que está posando. Na janela, à sua esquerda, uma figura que aparentemente é uma mulher, recostada com os cotovelos na janela e também olhando o fotógrafo. Quem são? Como a porta da rua está aberta, sugere alguma familiaridade ao casal – se é que é um casal – com o prédio da prefeitura. Seriam funcionários da prefeitura? Mas, como diria a piada, o que eles estão fazendo ali, olhando o passarinho? Deveriam é estar trabalhando...
Não me parece uma foto alegre. A foto em si, pelo menos pra mim mostra um vazio muito grande, onde as pessoas são pequenas e não preenchem o espaço que os prédios – notadamente o edifício da prefeitura – ocupam muito bem. A solidão dos dois personagens em frente à prefeitura pode nos remeter ás solidões a que estamos expostos: a solidão do poder, a solidão do amor, a solidão existencial. Cada uma com suas dores e delicias. E da solidão nunca escapamos, por mais que construamos prédios suntuosos, cidades, laços de amizade e de amor. No início e no fim, todos estamos sozinhos. No caso de quem quer a partir de janeiro próximo ocupar o tal prédio e ter caneta para assinar e dinheiro pra gastar, talvez a foto os avise de alguma coisa perdida, no tempo da antiga Antonina: o que será?

(Meus agradecimentos para Fausto Lima, professor da UEL e grande arquiteto londrinense, mas que também ama a Deitada-a-beira do mar; seus seguros conhecimentos me guiaram na descrição arquitetônica do prédio da prefeitura)

quinta-feira, 12 de abril de 2012

UNS CAMARADAS SUJOS


Johan Jakob Von Tschudi (1818-1889) 


As 5 ½ horas da tarde, levantamos âncora e navegamos para o interior da baia, para de novo ancorar 1 ½ hora depois, pois o canal de navio, sob o comando de um capitão como o nosso, não é inteiramente seguro à noite. Cedo, às 6 horas, recomeçamos a viagem e , cinco quartos de hora depois, alcançamos a vila de Antonina, situada sobre uma espécie de promontório, nas proximidades da foz dos rios Cachoeira e Nhundiaquara. Na baixa-mar, o desembarcadouro é uma costa lamacenta muito traiçoeira; um dique de pedras nuas, nas quais há sempre o perigo de quebrar as pernas, não o torna nada melhor. A pequena cidade, com as serras ao fundo, faz um recanto encantador, mas insignificante, com apenas duas ruas paralelas e uma fileira bem comprida de casas, que dão para uma praça coberta de capim, onde pastavam cavalos e vacas. Duas igrejas estavam em construção e uma muito antiga há muito se encontrava em ruinas. Antonina também se preocupa muito com o comercio do mate e possui vários engenhos, dos quais alguns a vapor e outros de almanjarra. Entre os moradores de Antonina e os de Paranaguá reina grande rivalidade e todos se movimentam para conservar em sua vila a alfandega de Paranaguá. Não podem eles argumentar com nenhuma outra razão em favor de sua pretensão, senão que Antonina é o ponto mais próximo de Curitiba, a capital da província. A distância aqui totaliza 14 léguas de péssimo caminho. Especialmente na serra, no momento presente, costuma tornar-se impraticável. A cidadezinha de Antonina conta aproximadamente 2.000 habitantes e goza de clima tão sadio quanto Paranaguá.
Aqui os últimos passageiros deixaram o navio e voltei só para à bordo, bem feliz de ficar livre dos companheiros, pois eles, com uma única exceção, no fundo, eram por assim dizer uns camaradas sujos.
As 14 horas, partimos de Antonina e desembarcamos em Paranaguá às 2 ½ horas, onde, mais uma vez, seria recebida mais carga, e um funcionário aduaneiro revisou a lista reduzidíssima de passageiros. 
 abril-maio 1858.

fonte: Trevisan, Edilberto. Visitantes estrangeiros no Paraná. Ed. autor, 2002, Pag 70-72

(esta pequena perola resgatada pelo prof Edilberto Trevisan narra a curtíssima passagem pela nossa Deitada-a-beira-do-mar pelo grande naturalista suiço Johann Tschudi - tem até a biografia dele na wikipedia em inglês (aqui); é interessante, para alguns bairristas mais fanáticos, conhecer a impressão que os estrangeiros tinham - e têm - de nossa cidade. esse trecho é de abril-maio 1858, há 150 anos portanto)


segunda-feira, 9 de abril de 2012

BAGRES E ROTULOS


Na crônica anterior, eu comentei a falácia de que o Meio Ambiente é responsável pelo desemprego urbi et orbi, ou seja, em Antonina e no mundo. Falácia, segundo os dicionários, é  “argumentação enganosa com aparência de verdadeira”. Consultem a wikipédia.
A gente muitas vezes tende a rotular, como uma necessidade social. Aquele sujeito é “o velho da rua de cima”, “o cara do caminhão de verdura”, “a gostosa da padaria”. Com isso, evitamos ter que acessar desnecessariamente o disco rígido com informações sobre o velho da rua de cima, identificando-o como o Sr. Aderbal Pimenta, de 69 anos, casado com dona Tereza, pai da Solange e do Marcos, metalúrgico aposentado, que fez uma operação de catarata no hospital São Clemente na semana passada. Esse é o velho da rua de cima sem o rótulo. Deixo o cara do caminhão de verdura e a gostosa da padaria pra imaginação de vocês.
Rotulamos por simplificação. O “japonês”, o “gringo”, o “burguês filho da puta”, o “mauricinho” e a “patricinha”, o “ecologista xiita” são alguns rótulos que acabamos pregando nas pessoas com as quais não temos contato, ou nosso contato é superficial. O primo Alexandre pode ser um ecologista xiita, mas sabemos dele que também gosta de repolho, que torce pro Paraná clube (coitado!), que fez Biologia na Federal e ganha um salario de fome na ONG de preservação das baleias e que, afinal das contas, é um bom sujeito. Ou seja, quanto mais conhecemos a pessoa menos usamos rótulos para julga-la.
Escrevo isso porque às vezes vejo umas manifestações – sempre anônimas, por certo – na nossa capelista blogosfera que me preocupam. Uma delas é rotular as pessoas que trabalham com meio ambiente: ecochato, xiita e outros. Por desconhecimento, atribuem-se aos ambientalistas posições que estes, ao menos publicamente, nunca tiveram. Ninguém que eu saiba, é contra a dragagem do porto. A ADEMADAN, inclusive, colabora com ideias e pesquisas para melhorar as condições ambientais do porto (veja aqui).
Por outro lado, quando se quer recuperar os impactos ambientais das grandes obras realizadas antes das leis ambientais, como foi o caso dos royalties da Capivari-Cachoeira, o que aconteceu? Em vez de haver uma ação só, numa patetada histórica, algumas pessoas, entre elas alguns vereadores, partiram para constituir uma leva de ações individuais. Comentei isso aqui no meu blog. Ou seja, quando o meio ambiente envolve dinheiro, todos querem o lucro privado, em vez de uma grande ação comum que beneficie a todos. No fim da história, os royalties da usina, que é a maior responsável pelo assoreamento recente da baia, conforme apontam alguns trabalhos científicos (ver aqui) ficou reduzida a uma triste corrida pela farinha pouca.
Ou seja, quando o cara é contra meus interesses, ele é o chato, o xiita, o fidaputa. Quando ele vai em busca de interesses coletivos (ou difusos, segundo a constituição) ele é um pateta: o negócio é ir atrás do dindim privado. E que se dane o assoreamento da baia. Quando vem alguma noticia que isso prejudica o porto, parece que só estas pessoas são a favor do desassoreamento. No entanto só se lembram do assoreamento quando diminui a carga de trabalho no porto. No resto, vão tomar cerveja na feira-mar e nem enxergam aqueles bancos de areia que se acumularam ali depois da construção da usina e que hoje já são ilhas. Difícil, difícil. Ainda mais quando ninguém dá a cara a tapa e vão todos covardemente se esconder no malcheiroso edredom do anonimato. 

segunda-feira, 2 de abril de 2012

ASSIM É, SE LHE PARECE


um prato típico da culinária napolitana da Baia de Antonini, o  "Cozze com Farina"  faz sucesso em toda a Bota. Mamma mia!


Volta e meia eu me iludo com algumas certezas, como as couves na minha horta. Cercado delas, me sinto seguro e tranquilo. Minha única preocupação é rega-las para que cresçam fortes e sadias e impedir que as malditas borboletas brancas depositem seus ovos nas folhas. Um descuido e é fatal: as tais das lagartas nascem e começam a roer as folhas de certeza, perdão, as de couve, e em breve nada mais terei do que antes tinha. Sozinho, na chuva, sem um talo de couve pra roer.
Talvez por já ter muito plantado couves na vida (não tudo o que deveria, é verdade), eu desconfio das certezas. Por isso, talvez, pareça tão quieto e pensativo cuidando de minhas couves e lagartas. Lembro-me de uma peça de teatro do italiano Luigi Pirandello, que pus no título desta crônica: “Assim é, se lhe parece”. Em sua peça, como na vida, o autor fala da relatividade da verdade, e como o que é verdade pra um não é para outro – e vice versa, como diria meu recém-falecido guru Millôr Fernandes.
Nesse espinhoso assunto que trata de problemas de meio ambiente, tão minado de paixões que é, temos que ir tocando o barco devagar, como o velho marinheiro do samba de Paulinho da Viola. Às vezes, as coisas não são exatamente o que parecem ser, mas exatamente o seu contrário. Argumentos esgrimidos de parte a parte, muitas vezes, não passam de meros argumentos, onde certamente não está a verdade, mas sim uma boa e consistente oratória.
Os que defendem o desenvolvimento não cessam de argumentar que as preocupações ambientais dificultam a criação de empregos. No caso da Deitada-a-beira-do-mar, isso é sempre um bom argumento, que sempre arrebata muitos corações. No entanto, cabem reparos. O grande problema não é a falta de emprego, mas a falta de qualificação. Já vivi este problema ao contratar pessoas, quando trabalhava na indústria. Hoje, um peão precisa estudar pelo menos até o nono ano pra ter qualificação. O que ocorre é que os supermercados de Curitiba descobriram isso e Antonina passou a ser uma mera cidade-dormitório, fornecendo a mão-de-obra pouco qualificada (leia-se barata) que na capital não se encontra mais.
Se Antonina não tem gente qualificada, não adianta vir indústrias de ponta, que são as menos poluidoras. As indústrias que nós atraímos são as que os outros não querem. Como a população de São Joãozinho Feliz, que não quer o Lixão (ops, Aterro sanitário!) por perto, mas não tem força pra impedir, Antonina atrai indústrias que outros lugares não querem. E que vem atrás de nossa mão-de-obra barata, não se iludam.
Por ironia, um dos maiores empregadores privados da cidade é a SPVS, que tem numerosas áreas de preservação dentro do município e diversos projetos de educação ambiental. Pode-se discordar de ações da SPVS, mas ninguém em sã consciência rejeita os impostos que ela paga ao município. Ou seja, o meio ambiente também dá empregos. Hoje, não num hipotético futuro.
Nosso problema é educação (mais) e cidadania (melhor), não o “meio ambiente, que atrapalha a gente”. Nós fazemos o nosso meio ambiente melhor com educação e bom senso, sem roubar o que é de direito das futuras gerações. Eu bem que queria que meus (futuros) netos tomem banho na Ponta da Pita sem pegar micoses e outras perebas, um direito que eu tive e meus filhos não tiveram. 

domingo, 1 de abril de 2012

PRIMEIRO DE ABRIL


Apesar de você....


Primeiro de abril é o dia da mentira, qualquer criança sabe. O que não sabem muitos foi que foi nesse dia, o da mentira, e não no 31 de março, que iniciou-se o golpe de 1964, que interrompeu um governo legitimamente eleito e instituiu uma brutal ditadura que durou 25 anos. Meu avô, Maneco Picanço, foi um dos idealizadores em Antonina da “Marcha da Família com Deus contra o Comunismo”, uma patética manifestação da direita católica e que ocorreu em todo o Brasil no dia 1º ou no 2 de abril, como manifestação popular de apoio ao golpe. Segundo uma lenda familiar, eu participei dessa história. Com cerca de seis meses de idade, estive nessa passeata no colo de minha avó. Como foi sem consentimento, eu posso me considerar uma das vitimas de primeira hora da “Redentora”. Claro, só piada.
Cresci, como todos de minha geração, cantando o Hino nacional e uma dezena de outros hinos na escola e “Eu te amo meu Brasil” na rua. Nas repartições públicas, aquela cara sisuda e ameaçadora do general Médici ficava nos olhando, ameaçadora. Pessoas desapareciam, eram mortas. As coisas eram segredadas, sussurradas. Toda frase com as palavras “popular” ou “democrático” eram automaticamente submetidas à censura.
Estes tempos duros já passaram há muito. Porem, parece que ainda não passaram, como pudemos ler esta semana nas paginas dos jornais. Agora, que estamos prestes a montar uma comissão da verdade, alguns fósseis ameaçam sair das tocas para protestar, mas contra que? O fato é que a ditadura não teve fim. Ela veio sumindo lenta, lenta, e fez que foi mas não foi. Não tivemos um acerto de contas de verdade. A culpa disso é de muitos políticos que preferiram negociar com os generais moribundos aquela malfadada lei da anistia na qual se homiziam os assassinos dos anos de chumbo.
Da mesma forma, estes políticos preferiram a via “fácil” do colégio eleitoral, deixando os milhares que gritavam por eleições diretas nas ruas com o grito na garganta. Como resultado, demos uma sobrevida aos oligarcas que sustentavam o regime, como foi Antônio Carlos Magalhães, como ainda é José Sarney e outros. Os peixes menores, os torturadores e assassinos, os estupradores, todos esses estão ai, ganhando sua aposentadoria e dormindo seu sono feliz.  Afinal de contas, “lutaram contra o comunismo”, segundo recentemente declarou um desses esbirros.
No Paraná tivemos por quase 30 anos o “consulado” de Ney Braga. Só o que ele dizia ou fazia predominava, embora, no governo Médici, teve que aturar o arrivista Leon Peres, que logo tratou de defenestrar. Enquanto não foi derrotado nas urnas, o pensamento da direita católica esteve mamando nas tetas do Estado. Toda uma leva de políticos e de famílias de políticos paranaenses que ainda estão aí comeram desse cocho. Alguns passaram pro outro lado, no intuito de se dar bem. E deram. Em outubro os filhos e netos de alguns deles virão pedir seu voto.
É preciso uma comissão da verdade. É uma questão de justiça. É preciso saber quem eram os sádicos que nos governaram em nome de ideais no mínimo equivocados. E quem foram os criminosos, os covardes torturadores de mulheres. Para crimes contra a humanidade não há perdão. Como disse o recém-falecido Millôr Fernandes, desconfie de todo aquele que lucra com seu ideal.