Foliões dançam na Avenida Rio Branco, no Centro do Rio, nos bailes públicos do carnaval de 1942; os rapazes antoninenses estavam por ali... |
Finalmente o ultimo dia do Carnaval de 1942 havia chegado. Aí, sim,
não teve o que segurasse os rapazes dentro das rígidas normas do Colégio Militar.
Quem seguraria os rapazes ali alojados com o maior carnaval do Brasil rugindo
ali na frente e fazendo tremer as casas?
Segundo o diário de Lydio, eles saíram bem cedo e voltaram
bem tarde. Neste ultimo dia, o ponto preferido dos rapazes foi a Avenida Rio
Branco. Foi uma mudança que foi se operando devagar no carnaval do Rio
de Janeiro, com os desfiles paulatinamente migrando da praça Onze, em obras
para o surgimento da nova Avenida Getúlio Vargas, para a Avenida Rio Branco.
A Avenida Rio Branco era o pedaço da maior animação e,
segundo Lydio, era também o ponto das maiores brigas. A todo o momento os blocos
de sujo saiam praticando o que Lydio chamou de “malvadezas”, assim mesmo, entre
aspas, com as folionas que “desse bola”. Eram os onipresentes engraçadinhos que
mexiam com a mulher dos outros. O resultado eram tumultos. Por vezes, segundo o
relato, surgiam as “peixeiras” e alguém se feria com gravidade. Se hoje em dia
isso ainda é comum, é de se imaginar que as brigas e a violência no carnaval
fossem muito mais letais que hoje.
Os bares e cafés das imediações da Avenida Rio Branco neste
ultimo dia de carnaval estavam lotados, e não venciam a demanda da freguesia. A
região estava cheia de gente. Lá pelas 15 horas uma equipe da Radio Nacional colocou
altos falantes ao longo da avenida e logo se formou um monumental baile ao ar livre.
Todos pulavam e cantavam as musicas deste e de outros carnavais. Lydio anotou “A
Jardineira”, “Praça Onze” e “Mamãe Eu Quero”.
Na verdade este foi um carnaval muito rico de novas canções.
É o ano em que surgem alguns grandes “hits” do carnaval, como “A Mulher Do Leiteiro”, “Nós, Os Carecas” e principalmente “Está
Chegando A Hora”. É um samba de Henricão e Rubens Campos, uma adaptação da
valsa “Cielito Lindo”, de A. Sedas e
F. Tudela, cantado por Carmem Costa. Carmem era empregada doméstica na casa de
Francisco Alves, e lançou neste ano o samba que e que consagrou como uma das
grandes cantoras brasileiras e está até hoje na cabeça do povo.
Luzes coloridas foram acesas quando chegou a noite. O
espetáculo prosseguiu com desfiles de carros alegóricos. Os desfiles não eram
como os desfiles de hoje. Eram desfiles de sociedades e clubes, em carros alegóricos
com temas carnavalescos. Enquanto isso, na Praça onze, havia o desfile das
escolas de Samba. Naquele ano, numa disputa apertadíssima, a grande campeã foi
a Portela, com o enredo “Vida no samba”. Em segundo lugar ficou a “Depois eu
Digo” , com o samba “uma noite feliz” e, mais atrás na pontuação, a eterna
Estação Primeira de Mangueira, com o samba “A Vitória do Samba nas Américas”.
Na avenida Rio Branco, vendo os desfiles das sociedades, Lydio
nos conta que eles traziam belas garotas de maiô, com belas pernas de fora e
rebolando sem parar. “Aquilo deixava os marmanjões com água na boca”, diz ele, também boquiaberto. Mas Lydio não estava só de água na boca. Eis que, lá numa linha,
ele nos diz que estava assistindo o desfile “agarrado à Lurdinha”, e não queria
mais nada da vida. Com certeza queria. Não sabemos mais nada de Lurdinha, mas
com certeza todos sabemos como são os amores de carnaval e ainda mais para
jovens adolescentes. Que bela e inesquecível noite deve ter sido!
Mas o carnaval de 1942 ia acabando. Eram quase onze da
noite. Encerrando o desfile vieram as grandes sociedades: clubes sociedade dos tenentes,
sociedade fenianos, pierrôs da caverna e outros de que Lydio não conseguia lembrar.
Quando regressaram ao alojamento, os
rapazes ainda escutavam os cantos de nostalgia:“É hoje só só só../Vai se acabar já já já!”...
E assim os rapazes se despedem também do carnaval carioca. Lydio
ainda nos diz que espera um dia voltar a vê-lo novamente. Mas, antes disso,
muito antes disso, eles tinham uma missão a cumprir: entregar a carta para o
presidente.
Será que conseguiriam?
Saborosas as suas descrições do carnaval, na pele de Lydio. Cheguei a imaginar a Lurdinha uma moreninha linda, toda dengosa, abraçada pelo escoteiro. Parabéns!
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