Getúlio Vargas veio para a solenidade vestido com um terno
de linho branco, palheta, gravata borboleta e do seu inseparável charuto
havana. Parece quase uma caricatura dele mesmo. Era um clichê, paletó de linho branco e tudo, que
vinha ali descendo a alameda do Palácio Rio Negro, acompanhado de dois majores
aviadores, Cantalice e Rolim. O comandante Rolim havia vindo junto com a
caravana dos escoteiros.
A imagem do presidente descendo sorridente a alameda deve
ter realmente magnetizado os cento e cinquenta rapazes ali presentes. Lydio nos
conta que “aos poucos ele veio se
aproximando com seu sorriso de cativar”, sorrindo a acenando para os
presentes. Ali estavam setenta escoteiros de Santa Maria, no Rio Grande do sul,
que compunham a “Caravana Henrique
Dodsworth”, que homenageava o intendente do Distrito Federal durante o Estado
Novo. Havia também a tropa mais
numerosa, cerca de oitenta escoteiros paulistas, a maioria proveniente de Piracicaba
e Campinas. E a pequena Patrulha Touro, representando a Tropa Vale Porto de Antonina,
Paraná.
Estavam ainda presentes um repórter oficial e um fotógrafo do
famigerado DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo), vários
jornalistas credenciados e “uma porção de crianças e mocinhas”, segundo o
testemunho de Lydio. Segundo a edição do dia seguinte de A Noite, o presidente
havia sido surpreendido pela caravana escoteira durante a sua caminhada. Mas,
como vinha até ali acompanhado do major Rolim, um dos integrantes da Caravana,
isso parece pouco provável.
O General Heitor Borges, que era o presidente da UEB e idealizador
do evento e da Caravana, chamada “Caravana
Presidente Vargas”, fez as saudações. Segundo a reportagem do jornal A Noite,
o general saudou o presidente num breve discurso e, em nome da Caravana, disse
que os escoteiros estavam ali para expressar seu reconhecimento “pelas atenções
que tem recebido”. A seguir, começaram as entregas das mensagens.
Os escoteiros gaúchos fizeram a entrega de um livro de
madeira com gravuras em relevo. Os escoteiros paulistas entregaram, por
intermédio de um lobinho, um enorme gomo de bambu envernizado também todo
entalhado e com a mensagem em alto relevo. Foi então que chegou a vez dos
escoteiros antoninenses. Milton Horibe deu um passo à frente e tendo a mão um
pergaminho disse: “A mocidade de meu estado lhe envia, por nosso intermédio,
suas saudações e seus cumprimentos”. Ao que Getúlio lhe respondeu: “essa vossa
ação revela coragem, antes de tudo. Isso dá uma demonstração do caráter nobre e
da fibra moral do escoteiro”.
Não se sabe o quanto estas frases e gestos foram pensados e
ensaiados, como que escrevendo frases para ficar na história. Estas, com
algumas pequenas modificações, são as frases do diário de Lydio e o dos jornais
que noticiaram os fatos, como A Noite ou o Diário de Notícias. Mas o que
transparece no diário de Lydio é a profunda emoção daquele encontro. Conta-nos
ele que, depois desta troca de frases grandiloquentes, Getúlio aproximou-se e “abraçou-nos
demoradamente”.
O Diário De Noticias relata ainda que o general Heitor
Borges depois disso dirigiu-se ao presidente num também breve discurso,
colocando-o a par das atividades a serem desenvolvidas pela UEB naquele ano, o
que teve boa recepção por parte de Getúlio. Este, depois da pequena cerimonia,
despediu-se e todos e, com seu havana nas mãos, foi para a sacada do palácio
Rio Negro, de onde assistiu o desfile dos escoteiros ao som da Banda do 1º Batalhão
de Caçadores.
Lydio relata que os “outros documentos” que haviam trazido,
foram depois entregues ao ajudante de ordens do presidente.
A missão estava cumprida. Agora, restava a volta.
O diário do escoteiro Lydio é uma preciosa fonte histórica, através do qual se pode conhecer a época e, atualmente, dar asas à imaginação.
ResponderExcluirEle foi um cronista exemplar...
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