segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

PINHEIRINHO, ANTONINA


Antonina também teve o seu Pinheirinho, que tanta vergonha nos causa hoje. Nos idos de 1835, segundo o indispensável Ermelino de Leão, os escravos de José Luiz Gomes, rico industrial de Antonina, se rebelaram e o mataram, assim como ao seu guarda-livros. José Luiz, rico e dono de diversos empreendimentos na cidade, tinha bens amoedados em sua casa, inclusive uma bota cheia de moedas de ouro que havia emparedado na casa de seu sitio.
Um parêntese. Por isso, quem anda na ponta do Gomes/Pinheirinho ainda hoje vê, junto comas ruínas de sua casa, diversos buracos feitos aqui e ali pelos caçadores de tesouro nos últimos 180 anos. Os caçadores de tesouro outros eu não sei, mas eu tenho o meu tesouro do Pinheirinho. Quando era guri, estive ali com meu pai, com Seu Zeco Pinto e outras pessoas. Seu Zeco achou um patacão de cobre, cheio de azinhavre, que me deu e que até hoje tenho, emparedado em algum lugar. Tinha o brasão do império, valia 30 reis e tinha a data de 1832. Fecha parêntese.
Pois bem, os escravos foram caçados na costeira de Guaraqueçaba, onde haviam se refugiado. O maior medo de uma sociedade escravista é um levante de escravos. Nossos avós, escravistas de quatro costados, ciosos de seus “bens” e quiçá de suas vidas, sujavam as calças de medo de uma revolta como a do Haiti. Pois a pena para escravo que matava seu senhor era a morte, com direito a pendurar os seus corpos em postes para servir de lição, pra não incentivar novas revoltas. Sabendo de seu destino, os escravos fugidos lutaram até a morte. Segundo Ermelino de Leão, “foram os seos corpos expostos na estrada do sitio, para exemplo, segundo a moral do tempo”. Não são esses os únicos registros desse tipo de acontecimento em nossa querida e amada terra. Que orgulho de nossos antepassados!
Infelizmente, nós não podemos demonstrar qualquer superioridade moral em relação à nossos avós. O Pinheirinho, em São Jose dos Campos (SP) é um exemplo cabal de como nós resolvemos nossas questões com os menos favorecidos: na ponta da bota. Sim, a ocupação era ilegal. Sim, a ordem de reocupação era legalmente bem feita. Sim, a ordem foi executada com presteza. Tudo bonito, justo e legal, como os tucanos em geral e os de São Paulo em particular gostam.  Precisava, em pleno século XXI e 25 anos de regime democrático, chegar a um ponto onde o cacete vale mais do que a negociação? À exemplo da reocupação da USP, meses atrás, feita na maior “limpeza” pela PM paulista, o Estado mostrou como conversa com quem o desafia. Aliás, alguém ainda se lembra da “limpeza étnica” que foi o massacre no Carandiru em 1994?
Ainda temos uma elite com medo, que prefere atirar primeiro e negociar depois. Só uma elite competente e consciente de sua fragilidade como a elite brasileira – e, mais ainda a paulista - agiria assim. Perde uns anéis aqui, uns brincos acolá, mas quando se sente acuada resolve tudo na botina, no cacete, na bala. Como os tempos pedem, tudo muito limpo e dentro da lei. Lei pra quem? Como os escravos revoltados da fazenda Pinheirinho, em Antonina, que na época pertencia à província de São Paulo, como os moradores do Pinheirinho de São José dos Campos, os estudantes da USP e os presos do Carandiru, os subordinados precisam urgentemente aprender qual é o seu lugar. Senão….

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