terça-feira, 14 de junho de 2011

DILÚVIOS


Van Ruisdael, The Tempest


No livro “Memória histórica Chronologica Topographica e Descriptiva da Villa de Morretes e do Porto Real, vulgarmente Porto de Çima”, escrito em 1851, Antonio Vieira dos Santos enumera alguns fatos relativos à historia da Villa de Morretes. Por conseqüência, também de Antonina, visto que Morretes era freguesia, ou seja, distrito, da Deitada-a-beira-do-mar. Vou me deter aqui somente na descrição que Vieira dos Santos faz do “Dilúvio” ocorrido na região no ano de 1796, que ele deve ter recuperado pela descrição dos antigos. Nesse texto é descrita a ocorrência da inundação de Morretes por uma “bomba” d’água nas serras, provocando uma inundação que atingiu a cumieira das casas e destruiu plantações e gado.


Pela intensidade da água, é significativa a descrição de que as águas da baia de Antonina se tornaram doces em função da quantidade de água recebida. Nada a espantar para os que presenciaram a tragédia de 11 de março de 2011.


A baia de Antonina em 15 de marco de 2011 (foto Renato Lima)
Com vocês e texto de Vieira do Santos em sua versão original:

 "Outra extraordinaria inundação aconteceo no anno de 1796, no rio Cubatão e povoação de Morretes, ignorando-se o dia e mez em que este extraordinario sucesso teve lugar. Suppoem se o que deu motivo a hum tão repentino acontecimento fora húa Bomba, que ia bastante pejada d’agoa, e que se arrebentara contra as altas Serras, e correndo por Ella em desmezurados turbilhões em breves horas, a enchente subio sobre o nível extraordinário do mesmo rio, mais de 25 palmos, e seu álveo não podendo acommôdar tantas agoas o fez sahir fora da madre cobrindo as margens lateraes, planícies, charcos e lagoas e as ruas da povoação na da Matriz estiverão as cazas com 3 palmos d’agoa, na rua do campo, e outros logares baixos subio té a comieira, e os moradores amedrontados de pavôr dezamparão suas cazas, e forão procurar amparo da Santíssima Virgem a nossa Senhora do Porto, e o seguro asylo na sua igreja, onde se hospedarão enquanto não abaixarão as agoas; estas na sua furiosa corrente, arrebatava tudo quanto encontrava em sua passagem, mais de 150 animais de gado vacum, cavalar e cornígero, porcos, leitões e aves, foi immensa a perda; todas as sementeiras e plantações de Canna e mandioca onde ficarão as agoas ficarão destruídas e arruinadas; o Rio cheio de tranqueiras com grossas arvores, que as agoas arrancarão da terra, tudo mostrava um aspecto destruidor, e por isso He celebrada sua memória, com o nome de dilúvio e para causar mais espanto este acontecimento foi principiado em húa noite obscura e adjunta ao rumor das agoas, e aos gritos de que nesseçitava de soccorro, quem ia accudir huns, em Canoas, salvando as famílias e as fazendas, a outros ajudando-os em seus trabalhos desde a mais remota antiguidade nunca houve outra igual senão a que aconteçeo em janeiro do anterior 1846 e ambas duraram dois ou três dias a despejarem nas bahias paranaguenses suas agoas, transformando as salitrosas em agoas doces no espaço de alguas légoas té a Ilha do Teixeira."

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