Eu mesmo por dentro, em imagens tomográficas; e mais não digo, por pudor de tão íntima visão... |
Lá se foi o mês de março. Mês grande, imenso como Minas,
longo pra atravessar como congestionamento pra praia em dia de feriadão. E eu
aqui, em recuperação depois do acidente e de uma cirurgia e da fisioterapia
para meu cotovelo esquerdo.
Antes que me perguntem: estava numa trilha em Minas Gerais,
num trabalho de campo com os alunos. Achamos uma cachoeirinha, pequenininha e
bonitinha. Tinha até um arco-íris nela, a sacana da cachoeira. Comecei a andar
ao redor dela por entre as pedras procurando boas amostras do tal do quartzito que
estávamos mapeando e, zás! Num átimo, como se diz na má literatura, escorreguei
e caí. Um limozinho de nada em cima da pedra, que nem musgo tinha. Cai de cara na
pedra feito uma bola de tênis jogada no chão.
Ainda tive que, sangrando pelo nariz, e com a ajuda dos
alunos, caminhar uns 2 quilômetros para fora da trilha, ainda meio tonto e com
muita dor. Chegamos à estrada, onde meus colegas nos buscaram de Kombi. Fui pro
hospital, mas o pobre hospital da pobre cidadezinha de Carrancas não podia
fazer melhor do que fez: me deram uma injeção de um analgésico forte e me mandaram
procurar meu caminho.
Voltei pra Campinas, onde fomos pro HC da Unicamp. Depois de
horas ali, esperando os residentes passando e vendo os horrores de um pronto-socorro
numa sexta feira à noite, fui atendido pelo Dr. Alberto Terrível e pelo Dr. Antônio
Lembrança. É verdade! Era o nome dos dois residentes que me atenderam! Diagnóstico:
“fratura cominutiva da cabeça do rádio com extensão intra-articular” e “fratura
na maxila esquerda e órbita esquerda”.
Depois de uma semana em casa com tala no braço e gelo na
cara o tempo todo, fui fazer a tal da “plástica”. Ir pra cirurgia numa maca,
olhando as luzes do teto passando por você parece cena de filme. De terror. Quando
os médicos disseram que iam cortar na altura do olho, eu olhei pra eles com
cara de “tenham piedade” e pedi anestesia dupla, sem gelo. Acordei meio zonzo,
e zonzo recebi alta. Foi um alivio ficar longe do hospital.
No começo, eu não existia: era uma cara inchada e disforme,
um olho lá no fundo, pequenininho e vermelho, fios de pontos de operação dentro
da boca, nos olhos, o diabo. Remédios, remédios, remédios. Minha boca ficava
com aquele gosto de pílula de remédio que enrosca na garganta e nem um nem dois copos d´água
conseguem faze-la descer.
No imediato pós-operatório, era tudo muito ruim. Não conseguia
fazer nada, nem ler meu jornalzinho de manhã. Comida pastosa. Remédios, remédio,
remédio. Hoje, o olho já desinchou, os pontos do olho foram retirados, os de
dentro da boca caíram. Tirei a tala do braço e faço fisioterapia uma vez por
dia, e ainda tenho bateladas de médicos pra visitar. Essa tem sido minha rotina
no ultimo mês.
Ontem, só ontem , vi as imagens da tomografia que fiz, ainda
na emergência do HC. Fiquei um tempo olhando praquela caveira até ter consciência
de que aquela caveira era eu. Sou eu! Foi um momento meio hamletiano, mas com
minha própria caveira: ser ou não ser? Confesso que é muito difícil olhar de
frente pra sua própria caveira, ainda mais sabendo que estou melhorando, em
breve saio da licença médica e volto para minha vida normal. Inclusive pra
voltar a fazer trabalho de campo e tomar banho de cachoeira.
Mas a imagem da caveira está ali, a danada, a me dizer que
vou ter muita coisa pra pensar na hora em que voltar ao meu trabalho e ter que
pular as (muitas) pedras que tem no meio do meu caminho. Agora, com uma placa
de titânio-carbono na cara pra me lembrar que tenho que tomar mais cuidado com
quartzitos com limo.
Picanço,
ResponderExcluirAgora você já pode si considerar um 'Steve Austin' o Homem biônico de um milhão de dólares...
Acidentes no campo tem si tornado bastante comum, não sei si você ficou sabendo do aluno de geologia da UFRN que morreu em uma aula de campo ao subirem o pico do Cabugi la no Rio Grande do Norte. Portanto professor... cuidado!
Um grande abraço
Flavio Oliver