terça-feira, 2 de abril de 2013

ESSE CARA SOU EU

Eu mesmo por dentro, em imagens tomográficas; e mais não digo, por pudor  de tão íntima visão...


Lá se foi o mês de março. Mês grande, imenso como Minas, longo pra atravessar como congestionamento pra praia em dia de feriadão. E eu aqui, em recuperação depois do acidente e de uma cirurgia e da fisioterapia para meu cotovelo esquerdo.
Antes que me perguntem: estava numa trilha em Minas Gerais, num trabalho de campo com os alunos. Achamos uma cachoeirinha, pequenininha e bonitinha. Tinha até um arco-íris nela, a sacana da cachoeira. Comecei a andar ao redor dela por entre as pedras procurando boas amostras do tal do quartzito que estávamos mapeando e, zás! Num átimo, como se diz na má literatura, escorreguei e caí. Um limozinho de nada em cima da pedra, que nem musgo tinha. Cai de cara na pedra feito uma bola de tênis jogada no chão.
Ainda tive que, sangrando pelo nariz, e com a ajuda dos alunos, caminhar uns 2 quilômetros para fora da trilha, ainda meio tonto e com muita dor. Chegamos à estrada, onde meus colegas nos buscaram de Kombi. Fui pro hospital, mas o pobre hospital da pobre cidadezinha de Carrancas não podia fazer melhor do que fez: me deram uma injeção de um analgésico forte e me mandaram procurar meu caminho.
Voltei pra Campinas, onde fomos pro HC da Unicamp. Depois de horas ali, esperando os residentes passando e vendo os horrores de um pronto-socorro numa sexta feira à noite, fui atendido pelo Dr. Alberto Terrível e pelo Dr. Antônio Lembrança. É verdade! Era o nome dos dois residentes que me atenderam! Diagnóstico: “fratura cominutiva da cabeça do rádio com extensão intra-articular” e “fratura na maxila esquerda e órbita esquerda”.
Depois de uma semana em casa com tala no braço e gelo na cara o tempo todo, fui fazer a tal da “plástica”. Ir pra cirurgia numa maca, olhando as luzes do teto passando por você parece cena de filme. De terror. Quando os médicos disseram que iam cortar na altura do olho, eu olhei pra eles com cara de “tenham piedade” e pedi anestesia dupla, sem gelo. Acordei meio zonzo, e zonzo recebi alta. Foi um alivio ficar longe do hospital.
No começo, eu não existia: era uma cara inchada e disforme, um olho lá no fundo, pequenininho e vermelho, fios de pontos de operação dentro da boca, nos olhos, o diabo. Remédios, remédios, remédios. Minha boca ficava com aquele gosto de pílula de remédio que enrosca  na garganta e nem um nem dois copos d´água conseguem faze-la descer.
No imediato pós-operatório, era tudo muito ruim. Não conseguia fazer nada, nem ler meu jornalzinho de manhã. Comida pastosa. Remédios, remédio, remédio. Hoje, o olho já desinchou, os pontos do olho foram retirados, os de dentro da boca caíram. Tirei a tala do braço e faço fisioterapia uma vez por dia, e ainda tenho bateladas de médicos pra visitar. Essa tem sido minha rotina no ultimo mês.
Ontem, só ontem , vi as imagens da tomografia que fiz, ainda na emergência do HC. Fiquei um tempo olhando praquela caveira até ter consciência de que aquela caveira era eu. Sou eu! Foi um momento meio hamletiano, mas com minha própria caveira: ser ou não ser? Confesso que é muito difícil olhar de frente pra sua própria caveira, ainda mais sabendo que estou melhorando, em breve saio da licença médica e volto para minha vida normal. Inclusive pra voltar a fazer trabalho de campo e tomar banho de cachoeira.
Mas a imagem da caveira está ali, a danada, a me dizer que vou ter muita coisa pra pensar na hora em que voltar ao meu trabalho e ter que pular as (muitas) pedras que tem no meio do meu caminho. Agora, com uma placa de titânio-carbono na cara pra me lembrar que tenho que tomar mais cuidado com quartzitos com limo.

Um comentário:

  1. Picanço,

    Agora você já pode si considerar um 'Steve Austin' o Homem biônico de um milhão de dólares...
    Acidentes no campo tem si tornado bastante comum, não sei si você ficou sabendo do aluno de geologia da UFRN que morreu em uma aula de campo ao subirem o pico do Cabugi la no Rio Grande do Norte. Portanto professor... cuidado!
    Um grande abraço
    Flavio Oliver

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