quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

SONHEI QUE ERA CARNAVAL, FESTA DO POVO...



É fevereiro, mas pra mim já parece março, abril. Antigamente já se dizia que no Brasil as coisas começavam só depois do carnaval. Não avisaram a turma por aqui, onde parece que o ano já vai solto. Já estou dando aula, fazendo projeto, orientando, o diabo. Tanto que meu carnaval, a festa de momo, foi a pique, inexorável como o Titanic.
Estava com umas datas marcadas para ir ao Rio de Janeiro nesta semana  trabalhar uns dias e festar outros. Já estava com lugar pra ficar e meus amigos me chamando pros blocos deles lá em Laranjeiras. Mas fui dormir na Imperatriz Leopoldinense e acordei no Berra Vaca, o bloco aqui de Barão Geraldo. Acontece.
O Berra Vaca, no entanto, não é um bloquinho reles.  Reúne cerca de mil pessoas e tem o maior numero de PhDs por metro quadrado do carnaval brasileiro. Quase todos ali têm currículo Lattes em dia, o que garante a excelência acadêmica do bloco, mas que não garante a qualidade do samba. O repertorio de marchinhas é bom, mas os puxadores atravessam, o som falha, o carro de som atrasa – ou adianta.
Mas ainda assim, há uma certa melancolia em tudo isso, como sempre. Vi ontem aqui nos bravos blogs Capelistas os siris do carnaval da Deitada-a-beira-do-mar, e bateu uma grande nostalgia das ruas de paralelepípedos cheias de gente, os bloquinhos escrachados, os tipos folclóricos, as grandes epopéias cantadas pelos valentes bagrinhos na avenida do samba. As imagens  passam pela mente como num grande filme.
Ali estão o carnaval que a Capela ganhou mais estatuetas que a Caixa D´água e perdeu o carnaval; A caravela do Império da Caixa D´Água do incrível Wilson Rio Apa; ali estão tipos como Guaxica, a insuperável baliza; o “Respeito-as-velhas- e-como-as-novas”, o palhaço com o cachorrinho; as fantasias sempre muito criativas de Camilo Staniscia; Meu querido Formiga vestido de enfermeira; Seu Nenê Chaminé e o Bloco do Pinico; Relen Salu Berght no alto de um carro alegórico, vestido de conde, cantando sua apoteose na avenida do samba dos bagrinhos; como não se emocionar com tantas cenas que passam pela cabeça, sem ordem nem tempo, como se tudo fosse apenas um grande sonho delirante...
Não é. O carnaval de Antonina é uma daquelas criações coletivas que ultrapassam em muito os seus muitos criadores e resplandece como resplandecem as grandes manifestações populares pelo mundo. Sem nenhum favor, é um dos grandes carnavais do Brasil. Eu vi alguns carnavais por aí, posso dizer isso sem nenhuma dose de chauvinismo (mentira, só um ”puquinho”, como se diz na terra de Vale Porto!).
Venho por meio destas maltraçadas confessar uma falta: faz muito tempo que não vou ao carnaval mais importante do mundo. Por um lado, tem a ver com a distância. Por outro, tem a ver com a ausência de meu pai: pra mim, o carnaval era ele. Desde que ele se foi, não tenho tido mais coragem de passar meu carnaval na avenida do samba. Sei muito bem que ali na esquina do Teatro ele não mais estará.  Ainda não sei encarar seu vazio.
“É problema seu”, dirá um de meus 15 leitores. O carnaval continua, a vida continua, assim como continuam em nossas mentes as lembranças dos antigos carnavais. Cabe a nós, a cada um de nós, seguir em frente vestindo sua fantasia e alegremente carregar a vida e seus mortos para a frente.  O reinado de Momo vem aí, é preciso abrir as portas da cidade para a folia e dançar, pular e cantar como se nada mais tivesse sentido. Assim é.

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