sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

O PENALTI E A VIDA

jogador croatas comemoram a vitória sobre o Brasil (encurtador.com.br/stFX0)

 Eliminações em Copas do Mundo são momentos tristes. A eliminação do Brasil na copa de 1950 gerou diversas reações e diversos medos na sociedade em geral e no mundo dos boleiros. Barbosa, um excelente goleiro, foi apontado como o único culpado por aquela derrota. A culpa de Barbosa pela derrota de 1950 tem também um fundo racista. A saga do segundo gol do Uruguay, marcado por Ghiggia, está no cinema, nas artes, na literatura. 

 Houve tempo que em que fiquei muito triste por uma eliminação de uma copa do mundo. Mas, na verdade, nos últimos cinquenta anos em que acompanho este torneio, vi meu time ganhar em somente três oportunidades, a última há vinte anos. 

 De certa forma, a seleção brasileira só foi grande entre os anos 1950-70, quando ganhou três de quatro mundiais disputados. Entre 1994 e 2002, ganhou duas de três. Depois disso, mesmo o meu Athletico Paranaense tem retrospecto melhor nas competições em que disputa que a seleção canarinho. 

 Como torcedor de um time mediano, que não tem a seu favor nem a imensa torcida, nem o poderia econômico e nem uma tradição, eu sei bem o que é perder. Dói, mas você se acostuma. Dói, mas você tem que sair na rua e aguentar a zoação. Dói, mas ninguém está nem aí as vezes nem pra te zoar, o que as vezes é pior. 

 Ou seja, tenho o dorso calejado, tenho o coração acostumado e tenho, como antidoto contra o desespero, uma boa dose de cinismo. Não é o melhor, mas é o possível. Pra início de conversa: não há salvação. Tudo o que está sendo jogado ali é uma bola que passeia entre pés (as vezes mãos) e conta uma história. É o acaso absoluto. 

Não existe você ir ao banheiro, não existe a panela de pipoca, não existe a cueca que você vestiu no primeiro jogo (urgh!) nem o lugar do sofá que você se senta. Não existem deuses no futebol. 

 Claro que existem grandes jogadores, existem grandes times, existem grandes jogos. Mas isso não nos dá o direito de criar narrativas de nações ou de povos através da história da bola. A estatística não nos ajuda, só dá uma falsa sensação de segurança. Mas o mundo não é determinístico, o mundo é probabilístico, o mundo é bayesiano. 

 O futebol não salva um país e, pior que isso, pode perdê-lo. 

Durante anos criamos fábulas sobre a tal Pátria de chuteiras. Temos alguns dos melhores jogadores do mundo, mas não temos ainda um país. E, é bom que se diga, uma coisa não tem nada a ver com a outra, embora por vezes se complementem. 

 Ao ver, torcer e sofrer neste Brasil e Croácia, Quartas de Final da Copa do Mundo, sinto-me triste e frustrado. Eu realmente queria ver nosso time ser campeão. Mas me enfurece a nossa cronicamente Crônica e anacrônica esportiva, a procurar culpados ou a perseguir inocentes. 

 Há muito tempo que eu perdia tempo vendo mesas redondas e debates sobre futebol na TV. Não, não estou pedindo debates sobre educação e cultura em seu lugar. Acho que deveríamos ter ambos, por que não? O esporte é isso mesmo, é o jogo, é a incerteza, é o momento. Os pênaltis são a mais completa tradução desta verdade. 

No pênalti, estão se confrontando um jogador cansado e as vezes abatido psicologicamente. E um goleiro que também está angustiado, e que tem que tem poucos segundos para entender o que o cobrador vai fazer. Um instante entre a glória de um e o desespero de outro. 

 O pênalti é a tradução da incerteza. Treinar seus fundamentos não garantem uma execução eficaz. Perder para a Croácia nos pênaltis numa Quarta de Final de Copa do Mundo não é desdouro para ninguém. 

Para um futebol exigente e vencedor como o brasileiro, estar nas quartas de final é quase obrigação. Passar dela está neste limbo entre sorte e eficácia. Isso nos faz ficar tristes e frustrados, mas não diz nada de nós como pais. 

Não diz nada de nossas vidas e de nossas lutas, tanto os pessoais quanto as coletivas. O futebol nos define em muitas coisas, mas a vida, a nossa e a do país, é muito mais que uma cobrança de penalidades.

sábado, 3 de dezembro de 2022

ABOUBACKAR E O HEROISMO SEM CAMISA

Vincent Aboubackar comemorando seu gol na Vitoria sobre a seleção brasileira
MICHAEL REGAN/GETTY IMAGES encurtador.com.br/lxyI8

 
Um fim de tarde brusco e abafado por aqui, muitas nuvens negras no céu. O jogo da seleção brasileira com a seleção de Camarões termina em anticlímax com a vitória da seleção africana por 1 a 0, gol de Vincent Aboubackar.

Aos 45 do segundo tempo, num contra-ataque após a intensa pressão da seleção brasileira, Aboubackar recebeu o cruzamento da direita e escorou de cabeça tirando Ederson da jogada. Belíssimo gol. Com o estádio inflamado com o gol e a torcida brasileira perplexa, Aboubackar tirou a camisa e se dirigiu ao corner. Lá, foi abraçado pelos companheiros e voltou exibindo, orgulhoso, a sua camisa ostentando o número dez.

Em meio a tanta alegria e comemoração, já não importava se havia tirado ou não a camisa, a euforia era tanta não importava essa penalidade tão estupida. O árbitro da partida, o americano de origem marroquina Ismail Elfath, chegou sorrindo, cumprimentou Aboubackar e aplicou os cartões: primeiro o amarelo e, em seguir, o vermelho. O jogador saiu de campo sorrindo, aplaudido pela torcida e numa alegria incontida. Eu nunca havia visto uma expulsão tão injusta e tão bonita.

 Aboubackar já havia marcado um belo gol nesta copa, o segundo gol de Camarões contra a Sérvia, onde ele fez um gol encobrindo sutilmente o goleiro. O jogador camaronês, de 30 anos, está em sua segunda copa, tendo vindo ao Brasil em 2014. Pela seleção de Camarões, marcou 35 gols em 91 jogos.

A valentia e a alegria de Aboubackar foram uma ducha de água fria no entusiasmo dos torcedores brasileiros. Embora não valesse rigorosamente nada, pois a seleção brasileira já estava classificada para a próxima fase, a derrota tomou ares de alerta e de preocupação.

Até então, desde a estreia vitoriosa contra a Sérvia quanto a vitória suada contra a Suíça, o time brasileiro era julgado superior e franco favorito. Agora, dúvidas pairam sobre o time e sobre a estratégia adotada pelo técnico Tite.

Entendo pouco de futebol. Li muito desde sempre sobre o esporte bretão e sobre a vitoriosa história da seleção brasileira, o bastante para saber coisas importantes de sua história, desde os tempos de Friedenreich até a Campanha do Catar. Posso citar jogos que não vi, como o segundo tempo da final de 1950 os jogos de Garrincha e equipe nos gramados do Chile.

Como observador direto, acompanhei o fantástico time de 70, fiquei perplexo com o massacre do Sarriá, adorei o time da Famiglia Scolari de 2002 e me decepcionei com o 7a1. (me explicando: sei suportar derrotas. Afinal, torço para o Athletico Paranaense, time que me dá algumas alegrias e muitos vice-campeonatos).

O que me decepciona com o 7a1 foi que não purgamos a derrota, não crescemos, não quisemos mudar a estrutura de nosso futebol. É uma dor ver um país futebolisticamente tão poderoso e tão colonizado, mero fornecedor de pé-de-obra para as metrópoles do futebol mundial, com diz mestre Juca Kfouri. Onde somos uma potência, escolhemos continuar a ser colonizados. Diz muito sobre quem somos.

Por isso, não fiquei triste com o gol de Abubackar e a derrota para Camarões. Perder faz parte do jogo. E é só isso, um jogo. Que é, em si muito legal. O futebol é um esporte que todos podem jogar, e em qualquer lugar. É um esporte pré-industrial, e não um esporte industrial como o vôlei e o basquete, onde as equipes jogam compactas como máquinas. O futebol é mais anárquico, mais imprevisível, em que você pode ganhar o jogo numa só jogada. Onde o fraco pode vencer o poderoso algumas vezes.

 Portanto, saúdo a alegria e o heroísmo de Vincent Aboubackar, que venceu e tirou a camisa, mesmo sabendo que seria expulso. Minutos antes, ele havia tomado um cartão amarelo lá atrás, como um bom operário da bola, protegendo sua defesa dos impetuosos e pouco objetivos reservas brasileiros. Instantes depois, ele era o herói que sacudia o estádio, um herói que castiga a arrogância canarinho. Um herói improvável num mundo tão improvável. Esta é a magia do futebol.

Uma magia a que mesmo os muitos de nós que andam tão céticos com essa magia, nos curvamos e ficamos alegres. Se existem os deuses do futebol, eles adoram umas boas traquinagens. E de rir muito. Adoro. 

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

CASEMIRO E A PÁTRIA SEM CHUTEIRAS

 

Casemiro e Vini comemorando o gol 
Nelson Almeida/AFP   encurtador.com.br/fvxBV

Uma tarde de chuva fria e fina aqui em Barão Geraldo, após um jogo de Copa de Mundo também muito chorado. No Qatar, a seleção brasileira venceu a seleção da Suíça por um magro 1 a 0 e está classificado para as oitavas de final, assim como a forte seleção francesa.

Depois do primeiro jogo, na última quinta-feira, está mais comum ver pessoas com a camisa verde-amarela nas ruas e nas imagens. Apesar da overdose de gente com camisas amarelas no noticiário esportivo e também no noticiário político, percebi uma grande diferença: desta vez, em sua maioria, quem está vestindo literalmente a camisa são, em sua maioria, corpos negros.

Eu vi uma coreografia ensaiada por um grupo da Maré, no Rio de Janeiro, liderados pelo influenciador Raphael Vicente, e que ficou linda maravilhosa. Inspirados numa música de Shakira, ali eu vi a ginga e a alegria que temos nos campos e nas comunidades. Ali eu vi que só quem pode ressignificar esta camiseta é o povo. E o povo já fez isso. Os outros, da nossa arrogante classe média branca, estão por aí, tristes, rezando e tomando chuva.  

Estes brasileiros, aliás, estão lá nos estádios da Copa, semi-europeus, torcendo para os negros e pardos que, lá no gramado, fazem do futebol brasileiro uma arte. São estes brasileiros classe média que, do alto de seus privilégios, ainda conseguem atacar Gilberto Gil, nosso espírito iluminado. Que as areias do deserto se fechem sobre eles, e que mestre Gil siga nos trazendo a Paz.

Hoje decidi assistir ao jogo sozinho no meu sofá. Tive alguns momentos um receio e um dejá-vu: a última vez que havia feito isso foi no tenebroso 7 a 1. Mas já sou bem velhinho e experiente para saber que o jogo é jogado lá no Qatar e nada que eu faça, como ir ao banheiro, fazer uma pipoca, se enrolar na bandeira, beijar uma figa, nada disso resolve. Ou resolve?

O fato é que foi um jogo muito tenso. Mais experientes que os sérvios, os suíços, se não reeditaram o famoso ferrolho helvético dos anos 1950, também não deram muita folga pra gente. Outro fato é que os suíços jamais haviam perdido para o Brasil em Copas do Mundo.

Hoje um pouco menos vibrante, a esquadra brasileira também não jogou mal. Teve destaques fortes em Vini Jr e em Casemiro, este último esperto e inteligente no chute ao gol. Mas ninguém foi mal. Sequer Neymar, que ficou no hotel e foi substituído nas arquibancadas por um sósia muito mais simpático.

Outra coisa que eu nunca tinha enfrentado foi o tal do VAR. Vai demorar pra eu me acostumar ao VAR, ora se vai. Apesar da tecnologia diminuir em muito as reclamações e as intermináveis discussão nas mesas redondas futebolísticas, como fazemos sem as reclamações e as intermináveis discussão nas mesas redondas futebolísticas? O gol de Vini Jr, segundo os analistas corretamente anulado, foi uma pintura. É quase como se Van Gogh, da excelente seleção holandesa, descartasse e jogasse fora o Retrato do Dr. Gachet porque a moldura estava com problema...

Ao fim, o placar magro valeu os tais dos três pontos. Os suíços, pela primeira vez, souberam o que é perder para a seleção Brasileira. E nós seguimos em frente com nossas alegrias e contradições. Cada jogo de Copa do Mundo tem seu herói, ou seu vilão. Pobre do país que precisa de heróis, como dizia um cara sábio do passado. Mas nós somos um pobre país.

O herói da vez foi Casemiro, meia forte e de futebol elegante, e que habita lá para as bandas do Bernabeu. As histórias e as falas nas redes sociais e na imprensa com certezas serão outras. Sai o Pombo e seu jeitão de moleque grande, solidário e zoador, e entra em seu lugar a figura do capitão brabão, que decide nos momentos mais difíceis. De heróis e chutes se faz a crônica esportiva, ora pois.

A copa segue, lá nas tristes areias do Golfo Pérsico. Aqui, o país se reinventa. Que venham camisas amarelas, que venham azuis. A pátria, não a quero de chuteiras, assim como não a quero de armas na mão. Quero a dança do pessoal da Maré, quero a alegria da prova dos nove, como já nos disse Gilberto Gil.

Pindorama o país do futuro. 


quinta-feira, 24 de novembro de 2022

RICHARLISON E A ALEGRIA DE JOGAR

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Hoje fiz coisas que há muito não fazia. Não, não consegui vestir a amarelinha. Ainda estão na minha cabeça o sequestro de vários símbolos nacionais pelos golpistas.

Não é disto que eu quero falar hoje.

Fui assistir o jogo da seleção brasileira diante da Sérvia, estreia dos pentacampeões na Copa do Mundo no Qatar, essa Copa do Mundo tão estranha e infeliz. Mas não é disso que se trata hoje. Fui com vários amigos e diversos alunos na Estação Barão, o bar dos estudantes daqui de Barão Geraldo.

Foi uma grande emoção ver tanta gente reunida e num mesmo sentido. O fato de estarem de verde amarelo me perturbou no início. Muitos com camisa azul, muitos com camisas alternativas, muitas com outras camisas. Aos poucos, fui perdendo minha inquietação e fui gostando de ver aquela multidão. Muita alegria e esperança no ar.

No início, um jogo tenso, com os sérvios todos na sua grande área, em duas linhas de defesa. Difícil passar por ali. O primeiro tempo foi só isso. Os meninos do Brasil tentando furar aquela muralha vermelha. Vermelha dos uniformes vermelhos dos sérvios, bem se diga.

No segundo tempo, a coisa começa a mudar. A movimentação do time muda, e a barreira sérvia começa a ser ultrapassada. Numa jogada mais estridente do até então apagado Neymar, Richarlyson completa para o gol.

Uma imensa euforia toma conta dos menines onde estou. Uma alegria arrebatadora. É gente gritando, se abraçando, jogando cerveja para cima, uma grande euforia toma conta da multidão. As coisas começam a ficar mais tranquilas.

Foi pouco tempo depois. É quando Vini Jr cruza e Richarlyson, o Pombo, voa para a consagração. Seu voleio, de uma plasticidade incrível, faz mais cerveja voar ao redor. Golaço. Todos pulam extasiados. Um gol maiúsculo de um menino estreante em copas do mundo. Que clareza, que objetividade!

O local onde estávamos foi à loucura. Gente pulando, gente gritando, gente se abraçando. Levamos uma chuva de cerveja, confundidas com a chuva errática que começava a cair. Que lindeza o gol de Richarlyson.

Velho que sou, ali vi Zico, vi Sócrates, vi Falcão, craques de minha infância/juventude a nos brindar com jogadas estupendas e muito bem trabalhadas. Vi uma alegria de jogar e uma qualidade que há muito não via. Que beleza meninos!!

E quantos meninos! Depois que Neymar saiu machucado, vi ainda Casemiro, Rodrygo, Raphinha, Gabriel Jesus e tantos outros, todos acossando os grandalhões sérvios, que corriam e não entendiam o que estava acontecendo. Um show de bola. Fiquei muito feliz de ver tantos meninos jogando, alegres e com muita qualidade.

Não é pra ficar confiante demais. A copa, para uma seleção do porte da brasileira, só começa a ser copa depois das quartas de final. Não é arrogância, é verdade. A Sérvia era um bom adversário, mas não e um time para afetar o time brasileiro numa Copa do Mundo. No tempo em que eles eram parte da antiga Iugoslávia, eram melhores. Hoje, separados e brigados entre si, são só uns grandalhões correndo atras de uma bola.

Tem muita coisa ainda pela frente nesta Copa, mas fiquei feliz. Fui pra casa feliz. Feliz, inclusive, de saber que Richarlyson é uma pessoa antenada e atenta ao mundo além do futebol. Não é Sócrates, mas tudo bem. Sigamos adiante, com alegria.

Com tudo o que passamos – e ainda estamos passando neste ano – foi um dia de muita alegria e união. Não cabem metáforas de seleção e povo. Mas cabe a alegria que nos assombra a todos nessa noite de quinta-feira.

É só um time de futebol. Mas parece mais. 

quarta-feira, 15 de junho de 2022

LULALCKMIN

 


A Paleontologia Imaginária, ao contrário do que se imagina, não tem uma evolução linear enquanto disciplina científica. Como qualquer ramo da ciência, tem tido agudas controvérsias e grandes mudanças paradigmáticas em seu desenvolvimento (T. Kuhn, Congresso de Paleontologia Imaginária de Antofagasta, 1962). A questão dos Cisnes Verdes fósseis e sua comprovação empírica (Popper, 1939), por exemplo, foi um destes grandes momentos.

Contudo, dentre tantas controvérsias, a questão do gênero Lulalckmin ocupa um capítulo à parte. Quando seus primeiros espécimes foram descobertos e analisados (Lula da Silva et al., 2022, Imaginary Paleontological Review), muitos notaram a notável semelhança com outros espécimes já muito conhecidos do registro paleontológico, como o Lulinus, encontrados em terrenos pliocênicos do ABC Paulista (Atas do 13º Congresso de Paleontologia Imaginária de São Bernardo, 1980), e o Geraldinus, encontrados em terrenos similares na bacia sedimentar de Pindamonhangaba (Covas et al., Congresso de Paleontologia Imaginária de Pinda, 1996).

Segundo muito analistas, tratavam de duas espécies muito diferentes e inclusive competidoras entre si, sendo quase impossível encontrar um organismo com características das duas espécies. O Lulinus era um mamífero muito adaptado a vários ambientes, associados com espécies do Gênero Sinistrus (ver PTistus sp). O Lulinus, inicialmente descoberto em sítios paleontológicos fosseis em Garanhuns, chegou a ser a espécie dominante no plio-pleistoceno, ocupando inclusive trechos de cerrado no Brasil central (Lulalá et al., Congresso de Paleontologia Imaginária de Brasília, 2002). Embora proveniente da base da cadeia alimentar, o Lulinus chegou a conviver tranquilamente com espécies predadores enquanto estava protegendo espécies predadas (Genro, 2005).

Já o Geraldinus era uma ave tucaniforme que chegou a dominar extensas áreas da Pangeia (Cardoso, 1994, Imaginary Paleontological review). No entanto, inicialmente sua distribuição geográfica era restrita ao território do atual estado de São Paulo, que chegou a dominar desde o Cretáceo. O Geraldinus, ao contrário dos demais tucaniformes desta época, ocupava preferencialmente extensas áreas dominadas por cucurbitáceas, como o Sechium adule, ou chuchu. Apesar de estarem bem adaptados ao ambiente cucurbitáceo em que viviam, os Geraldinus quase foram extintos no fim do holoceno graças aos ataques de canídeos do gênero Bolsodoria (Congresso Paulista de Paleontologia Imaginária, 2018).

Dada a grande dessemelhança das espécies, muito apontaram ser o Lulalckmin uma fraude, fruto de reconstrução maliciosa de espécimes fósseis (Gomes, 2022, Congresso de Paleontologia Imaginaria de Paris). No entanto, alguns mostraram que o surgimento do Lulalckmin, apesar dos muitos pontos ainda em aberto, pode ter sido muito importante para combater os vermes anaeróbios do gênero Bolsonarus, que tornaram muito difícil a sobrevivência de importantes ambientes paleoecológicos brasileiros. Muito apontam que mamíferos com características de aves já foram descritos em espécimes fosseis imaginários em vários ambientes, como o ornitorrinco australiano ou mesmo o Pegasus sp, o cavalo alado, cujos primeiros registros foram feitos na Grécia antiga, citados por Aristóteles em sua Física (livro IX).  

A origem do Lulackmin está em aberto. Ainda não temos argumentos que possam esclarecer sobre a origem do Lulalckmin nem a sua função paleoecológica. Quem sabe nos próximos meses tenhamos acesso a novas descobertas que possam dar uma nova luz e esclarecer esta importante controvérsia. 

arte: julian fagotti


(a Paleontologia Imaginária é um ramo da Paleontologia que trata de animais incertos; é um ramo do conhecimento que faz fronteiras com a paleontologia, a geografia, a física molecular, a psicologia e com Morretes (PR). Como membro da Sociedade Brasileira de Paleontologia Imaginária (SBPI) e colaborador da South American Review of Imaginary Paleontology, periódico classe A1 da CAPES, venho através deste blog fazer a divulgação científica da Palentologia Imaginária para o publico interessado em ciências)



segunda-feira, 10 de maio de 2021

A MORTE DANÇA NA RUA

                                                                                                   https://bit.ly/3tCT7G


       E enfim é chegado o tempo em que ela, que sempre esteve entre nós, não nos espera mais na saída de casa, nos banheiros públicos, nos caminhos para as matas. Ela já não tem mais a antiga pressa, embora esteja trabalhando como nunca. Funcionária zelosa e dedicada, ela agora dança alegremente nas ruas, entra em nossas casas, toma caipirinha nas festas de domingo.

A morte dança na rua. Nós não conseguimos enxergar os vírus com a vista desarmada. As pessoas contaminadas não têm bubões da peste, não tem diarreias abundantes. Portanto, concluem alguns, não existe essa tal pandemia, embora estejamos há tanto tempo escondidos em casa, lavando obsessivamente as mãos com álcool gel e usando máscaras. Contra todos os esforços, as vacinas, as medidas sanitárias, ela, a morte, gargalha e zomba de nós na frente de nossas casas.

A morte dança na rua, toma ônibus lotados, participa de cultos ruidosos e ri, fumando um cigarrinho com os peões de máscara no queixo, na roda de conversa do fim do trabalho. Mas a morte também frequenta festas e barzinhos da moda, a morte se preocupa com a saúde e frequenta academia cheias de gente entediada e marombada.

Como num quadro de Brueguel, o que vemos são pequenos demônios confraternizado em nossas ruas semivazias. Alguns desses passeiam de carros caros e engalanados de verdeamarelo para saudá-la, a ela, a desenganada das gentes. A morte sorri seu riso sem dentes, encabulada. Sim, parece que até para ela tais demonstrações de apoio são demasiadas, desnecessárias, pouco pudicas. Mas o carnaval dos pequenos demônios segue por nossas ruas, numa alegre carreata que parece não ter fim, nem senso.

A morte entra desabusada pelos palácios. Lá, senta-se na mesa de reuniões cercada de homens sérios e cheios de assuntos importantes, dá ordens e anda sem ser molestada pelos corredores do poder. A morte passeia entre os comensais dos banquetes, feliz e esvoaçante, contando aqui e ali doces piadas macabras. E nosso PIB, ali presente, ri, porque eles riem à toa.  

A morte zomba de nós, e vai ceifando vidas. Antes era o conhecido do conhecido, agora o próximo, o distante, o amigo, o ente querido. Famílias inteiras dão um tributo amargo à morte, que dança nas ruas e nas praças, dança feliz e sem máscara numa cidade semivazia.

As mortes ocorrem solitariamente, dentro das casas ou nos hospitais lotados. O paciente, entubado sem sedativos e amarrado para não se soltar, sofre seu calvário moderno no escondido das UTIs. O desespero de comprar oxigênio passa longe, nas telas da televisão. Diante de tanta dor, declaramos que estamos cansados, que temos direito a um pouco de descanso e sossego, que temos direito a escapar dali, mas pra onde, meu Deus? Pra Praia? Pro Sertão?

O céu de maio está azul e amplo, passarinhos cantam e procuram comida, mas nosso mundo está fechado, tomado por uma imensa bruma verde e amarela, sulfurosa e pútrida. Não há mais pátria, não há mais senso de unidade. A morte nos unifica, nos agrega, nos seduz.  Vacina pouca, meu pirão primeiro, antes ele do que eu. O presidente ri e conta piadas de nosso desespero em miseráveis shows de televisão.

O tempo está congelado, não há futuro, só este amargo presente. Nele, a morte ri e dança nas ruas, numa festa sem fim, num pesadelo sem direito a acordar.

quinta-feira, 11 de março de 2021

O GRANDE DESASTRE DE 11 DE MARÇO DE 2011

 

O morro da Laranjeira em 12 de março , após os escorregamentos (foto de Erly Ricci https://bit.ly/3t5Q0XO)

Dedico esta postagem ao povo de Antonina e aos moradores do bairro Floresta, em Morretes, juntos na mesma tragédia


Foi hoje o dia, há dez anos atras. 11 de março de 2011. Um dos piores desastres que o litoral do Paraná enfrentou. Um dos piores desastres que os antoninenses enfrentaram.

Um desastre não começa exatamente durante a chuva torrencial. Muitas vezes ele começa antes. Começa da forma como a sociedade se divide, e na divisão desigual da riqueza, que empurra os menos favorecidos para as áreas mais sujeitas a desastres. Continua nas casas, construídas nas regiões mais vulneráveis e da maneira mais precária.

Durante o momento “quente” do desastre existe muito esforço de ajudar. Existe aquela saudável animação de Bombeiros, Defesa Civil, prefeitura, muita gente pelas ruas. Mas depois, quando o assunto esfria, quando o jornalista deixa de pautar a notícia, quando o dia a dia se impõe, o desastre continua por outros meios.

Em março de 2011, em Antonina e Morretes, no dia anterior tinha chovido muito. Naquela sexta feira, 11 de março de 2011, o mundo caiu sobre o litoral do paraná. A quantidade de chuva, que nos poucos pluviômetros que tínhamos então na região, pontam marcas de até 260 mm por metro quadrado por dia. Para que se tenha uma ideia, um furacão tem chuvas de até 600 mm/dia.

A quantidade de chuvas era o suficiente para gerar uma catástrofe. E catástrofe foi o que aconteceu em vários pontos do litoral paranaense naquele dia.

A defesa civil antoninense fez o dever de casa, e chamou a sede em Curitiba. O pessoal desceu, juntamente com alguns geólogos da MINEROPAR, entre eles Rogerio Felipe. Ao chegar no sopé do morro da Laranjeira, Rogerio ficou muito assustado com o que viu. “Falei para Defesa Civil tirar todo mundo”, me contou, emocionado, tempo depois. A percepção de Rogério foi a diferença entre a vida e a morte das pessoas que ali moravam.

A única vítima, infelizmente, foi seu Pedrinho, que tinha ficado de tomar banho antes de sair de sua casa. Não deu tempo. Quando os bombeiros resgataram seu corpo, o velho porteiro do Cine Opera na minha infância, agora um senhor de 80 anos, já estava morto. À noite, nos fundos do cemitério são Manoel, uma torrente tiraria a vida de uma jovem mãe que havia voltado à casa para pegar a mamadeira de seu filho. Estas foram as duas vítimas capelistas da grande tragédia.

Em Morretes, o rio Nhundiaquara havia subido, inundando a cidade mais uma vez. Havia escorregamento por todos os lados da cidade, mas no distrito de Floresta, na Serra da Prata, na divisa com Paranaguá, entretanto, a situação foi bem mais dramática. Uma série de torrentes de detritos varreu os morros da Serra da Prata, arrasando a comunidade de Floresta. Segundo seu Arlindo Capeta, morador e líder comunitário do bairro, com quem conversei depois, “teve um grande estrondo e a terra começou a tremer”. Veio água, veio pedra, veio arvores enormes descendo com a correnteza, contou ele.

Seu Eurides Lucheta, que tinha uma casinha perto do morro do Gigante, mais adiante na serra, ficou isolado por três dias, só se alimentando de bananas e tomando agua suja. No domingo, foi resgatado por um helicóptero da Polícia Militar. É dele a descrição mais precisa do tipo de torrente que descia a serra. Ele contou que uma cachoeirinha que tinha nos fundos de sua casa subitamente secou. Provavelmente formou-se um grande barramento natural de rochas e tronco serra acima. Quando o barramento se desfez, houve um grande estrondo, e ele correu para se abrigar nas pedras. A torrente veio feroz, e levou sua casinha e seu cachorro, que havia ficado para trás. “Parecia uma onda grande do mar”, nos contou ele.

O bairro de Floresta após os fluxos de detritos e as inundações de 11 de março de 2011 (foto: Renato Lima/CENACID)

Quando cheguei à Antonina no dia 14 de março, numa missão do CENACID, o Centro de Apoio Científico em Desastres da UFPR, chefiado por nosso amigo e companheiro Renato Lima, a situação estava confusa na Deitada-a-beira-do-mar. Ainda muita lama pela cidade, o grande escorregamento da avenida Nenê Chaminé barrava a rua. Na Laranjeira, era só desolação: casas que desapareceram, casas danificadas, casas ainda intactas, o cheiro de terro e morte.

Diziam que a grande pedra do Morro da Pedra iria cair. Subimos lá e vimos que estava firme como nunca. Diziam que havia fendas no Morro do Joubert, ameaçando as casas da Graciosa de Cima. Sim, havia uma fenda ocasionada pelas chuvas, e ela estava em atividade, apresentando algum risco. Monitoramos sua movimentação por três dias, até que cessou de se movimentar. Enquanto isso, os bombeiros e a Defesa Civil pediram que as pessoas deixassem suas casas na Graciosa de cima e de baixo. A medida era exagerada, mas ninguém tinha certeza do que estava por vir. Era uma precaução exagerada, mas que evitaria perdas de vidas, e ainda me parece bastante razoável.

Foram três dias intensos, onde eu, minha colega de CENACID, a geóloga Fabiane Acordes, e o nosso líder de missão, Renato Lima percorremos vários morros, andamos vendo várias situações. Foram também várias reuniões, com o pessoal da Defesa Civil, os técnicos, e os voluntários. Dentre estes, conheci vários conterrâneos que a ocasião juntou, desde funcionários da prefeitura, colegas, vizinhos e curiosos, que sempre davam um tempero especial às nossas correrias.

Tive também oportunidade de voltar diversas vezes para acompanhar o pós-desastre. Entre 2011 e 2014 fiz diversos campos com meus alunos nos morros de Antonina e Serra da Prata, onde fizemos diversos trabalhos e muitos ensaios. Boa parte destes trabalhos estão publicados em diversos eventos, tanto no Brasil como no exterior.

Poucas vezes, no entanto, tivemos a chance de ter uma devolutiva para a população. Por diversos motivos, acabamos por não conversar sobre as pessoas sobre o que aconteceu. Há poucos anos, em 2017, por ideia de meu aluno Gabriel Facuri, organizamos uma reunião com os moradores do bairro Floresta. Foi muito interessante a troca. Aprendemos muito também. Podemos voltar a falar só disso em outro momento.  

Em geral, as vítimas destes grandes desastres passam por muitos problemas quando o momento mais agudo do desastre termina. Sofrem pressões de diversas formas, muitas vezes são impedidos de voltar as áreas que ocupavam. Muitos apresentam traumas psicológicos difíceis de sanar. Crianças e adolescentes, quando não tem assistência adequada, podem passar para o crime ou o desajuste social.

Passaram-se dez anos. Mas existem ainda muitas pontas soltas do desastre. Hoje, um medo de chuva toma conta das pessoas que se lembram dos dias trágicos. Algumas, tem síndrome do pânico. Outras, estão desalojadas. Antonina ainda não incorporou o bairro da Laranjeira, embora tenha até projetos de transformar a área num parque. O próprio Morro da Pedra perdeu todo o chamativo que tinha como um cartão postal da cidade. As pessoas ainda não sabem direito o que aconteceu. Os estudiosos não deram uma devolutiva adequada de seus estudos à comunidade.

O que fazer num próximo desastre?  Estamos preparados? Como podemos fazer para enfrentar melhor um desastre semelhante?

Segundo um proverbio japonês, povo acostumando com todo tipo de desastre, os desastres acontecem quando nos esquecemos deles. Fica a dica.


(também agradeço a Renato Lima, Fabiane Acordes, Carlos Augusto Canduca Machado e José Paulo Vieira Azim, sem a ajuda dos quais eu não teria conseguido estar e trabalhar na minha cidade quando esta precisou de minha modesta ajuda)

sexta-feira, 5 de março de 2021

O ANO DO CORONA

 


Já faz um ano.

Naquele mês de março, as nuvens foram sumindo do céu. Os cumulo-nimbus eram cada vez menores e mais brancos, lá longe no horizonte. Depois, o por do sol começou a ficar mais vermelho, e um vento frio balançava os galhos das arvores. Era o fim da estação das águas.

Neste tempo, estávamos ainda discutindo com os empresários da necropolítica, que faziam de tudo para minimizar as “12 mil mortes” que fatalmente aconteceriam. Alguns falavam que só matariam os velhos. Só. Não resolveríamos nada com pânico, diziam. O importante era salvar a economia.

O tempo passou, e o álcool gel invadiu nossas casas. Ainda sem saber como fazer com a nova situação, lavávamos tudo obsessivamente. Para dizer bem a verdade, ainda lavamos. Cheguei a pegar um eczema nos pulsos, de tanto sabão que usei.

No começo, não tinha máscara ainda. Hoje, sabemos porque: não tinha máscara para todo mundo, e se dizia que não precisava. Aí mandamos fazer máscaras de pano. Muita gente, subitamente desempregada, começou a investir em fazer máscaras muito bonitinhas, de tudo que é tipo de pano

Nos assustamos muito quando vimos os caminhões cheios de corpos na Itália. Ficamos amedrontados com os corpos na rua em Guayaquil.

Quando a primeira onda começou a chegar, lenta como uma maré, tentávamos imaginar quando seria seu pico de contaminações e mortes. Quando? Diante de algum resultado ligeiramente menor das estatísticas, alguns incautos diziam que o pico já havia sido atingido. Mas não era pico, ao menos não pra nós. Foi um imenso planalto de mortes diárias, que atravessamos com mortes diárias muito elevadas e hospitais quase cheios.

O céu já estava claro, com um sol cada vez menos intenso. Choveu um pouco, mas já estava seco, e o ar ficou mais cheio de pó. Era o mês de maio chegando.

Em 25 de maio, em Minneápolis, nos Estados Unidos, um policial matou um homem negro chamado George Floyd, acusado de passar uma nota falsa de 20 dólares. Durante 8 minutos s 46 segundos, metodicamente, o policial Derek Chauvin ficou com o joelho no pescoço de Floyd, terminando por matá-lo.

Poderia ser mais uma pessoa negra morrendo nas mãos da polícia, seja nos Estados Unidos seja no Brasil, onde um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos, segundo dados de uma CPI no Senado de 2015. Mas não. Não desta vez. Como uma grande onda, o clamor contra este tipo de assassinato, cruel e metódico, varreu os Estados Unidos em grandes e massivos protestos, que acabaram por atingir totó o mundo, até mesmo no Brasil, tão longe e tão perto das ruas de Minneápolis.  

“Não consigo respirar”, teria dito Floyd. Pois foi justamente isso que milhares, centenas de milhares e enfim milhões de pessoas sentiram durante todo o mundo, enquanto a epidemia se alastrava.

Primeiro foi Manaus que sentiu o baque, depois uma a um os outros estados tiveram centenas e milhares de mortos. Em agosto foram 100 mil, em janeiro dobrou, e agora estamos a seguir 300 mil mortes, boa parte delas evitável.

Alguns até viram um fim durante os dias quentes e abafados de setembro e outubro, com o céu repleto de cinzas e poeira. Pelo segundo ano consecutivo, a Amazonia sofria com os fogaréus, enquanto o Pantanal virava um imenso braseiro. Consta que ao menos 40 % do bioma foram queimados.

Em novembro, quando o calor e as primeiras chuvas anunciavam a estação das águas, o coiso na TV esbravejava contra a vacina de seu inimigo, dizendo que quem tomasse iria virar Jacaré. As mortes e contaminações, que estavam decrescendo, voltaram a aumentar. A barbárie, essa nossa companheira tão conhecida, nos fez o ar da sua (des)graça: as novas variantes do vírus surgiram, trazendo o caos novamente para Manaus.

Ali, como George Floyd, muitos não podiam respirar, agora por falta de oxigênio. Foi a malfadada e maltratada Venezuela que socorreu os manauaras em seu período mais crítico. Devastada pela ausência dos botijões de oxigênio nos hospitais, as famílias compravam elas mesmas os botijões para seus entes queridos, alertando o governo sobre as futuras vantagens da privatização do ar.

Em plena estação das chuvas, o verão, todo o país agonizante e sem ar. O orgulhoso Sul e suas colônias europeias, o Sudeste e suas empresas modernas, o Centro Oeste e suas colheitadeiras e agrotóxicos, todos jazem agora em filas intermináveis esperando por um leito de UTI. As pessoas sem máscara, as pessoas se aglomerando em festas clandestinas, as pessoas urrando que a economia não pode parar, mas o vírus não está nem aí. Indiferente à economia e às explosões de inútil virilidade, o vírus trabalha e mata.  

As nuvens voltam a sumir no céu, lá longe no horizonte. Um friozinho invade nossas janelas. E a sensação de um ano que não termina, que não terminou. Apesar das vacinas, apesar do cansaço geral, precisamos superar a angústia e vencer a ignorância e brutalidade que nos domina.

O ano do corona é um ano que tão cedo não termina.

sábado, 4 de abril de 2020

QUANTO VALE UMA VIDA?


peguei daqui


A pandemia/epidemia de coronavírus que estamos vivendo não pode mais ser relativizada. Precisamente na última quinta-feira, 2 de abril, o número de mortos pelo coronavírus (299 vítimas) ultrapassou o número de mortes no desastre do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, 272 pessoas. Quantas Brumadinhos cabem nesta nova tragédia?

A pergunta que muito se fez, e a única a qual não se deveria fazer, é: Quanto vale uma vida? Entre pasmos e boquiabertos, estamos vendo raciocínios completamente estapafúrdios sendo feitos nas nossas fuças: quantas vidas seria necessário sacrificar para manter a sociedade, leia-se economia, funcionando? 

O empresariado bolsonarista não se cansa de fazer esta proposição. “Por causa de cinco mil, sete mil vidas” não se deveria parar a economia. O próprio “mito” faz raciocínio idêntico: “morreu, lamento”, diz o ex-militar, que não parece se incomodar com baixas que seus governados vêm sofrendo. Parece que nem ficam ruborizados. Como tantos já apontaram, vivemos tempo em que ficou “natural” falar estas barbaridades.  

As barbaridades são ditas em ambientes limpinhos e requintados, com empresários falando serenamente aos microfones coisas igualmente sensatas e razoáveis. A empatia evapora-se como álcool gel. Não há aqui ogeneral franquista gritando “Viva la muerte!”. Não há imagens de Hitler e Goebbels defendendo a “Solução Final”. Mas também é Necropolítica. Na veia.

Frente a raciocínios tão sofisticados, seria justo perguntar: quais seriam estas vidas que se pode abrir mão? Quem são as buchas de canhão da nova pandemia? Por certo não seriam as suas próprias, nem de seus familiares. Seria, é claro, a vida do outro, do distante, do pobre, do negro, do imigrante, do idoso. A morte das pessoas invisíveis não faz corar ao empresariado liberal. 

Há também os que se refugiam na aparente neutralidade dos números. No início de março várias pessoas relativizavam a pandemia dizendo que o número de mortos seria pequeno, por causa da baixa letalidade” da nova doença. No entanto, a escalada de disseminação da doença e as mortes associadas mostra outra realidade. Quanto dá 2,5% de 210 milhões? Quem vai pagar essa conta?

Alguns outros argumentam: por que ligar para um número tão pequeno de mortes, se o trânsito mata mais? Se fumantes morrem mais?

É o mesmo problema que temos para comparar um acidente de avião com os acidentes de carro. Um acidente de avião instantaneamente mata centenas de pessoas. Já os acidentes de trânsito são menores e mais espaçados no tempo. 

A morte concentrada e trágica destes eventos é mais impressionante pelo volume e intensidade. Por isso os acidentes de avião chocam mais que as milhares mortes do trânsito

(Isso não quer dizer que os acidentes de trânsito não sejam um problema. Obvio que são. Entretanto, a solução dada pelo atual desgoverno é uma chocante flexibilização das regras de trânsito. Especialistas são unânimes em dizer que as medidas tomadas pelo “mito” aumentam a insegurança e, por consequência, o número de mortes.)

Não estamos mais nas “pestes” do passado, onde se acreditava que as mortes eram causadas pela ira divina. Temos uma sociedade tecnológica que pode (e está) respondendo rapidamente aos fatos verificados durante a dispersão da pandemia do coronavírus. 

Entretanto, vivemos, particularmente em nosso país, uma forma perversa de pensar e agir, que tende a sacrificar os mais pobres e vulneráveis em nome de uma pretensa racionalidade dos negócios. No entanto, vida e economia não se separam. Quanto mais pessoas expostas, maior será a mortalidade. 

Quando a escalada de mortes começar, nas próximas semanas, o impacto na vida e no funcionamento dos hospitais e serviços funerários vão cobrar seu preço. E isso traz consequências sociais e políticas impossíveis de prever.

terça-feira, 24 de março de 2020

NÃO É A ECONOMIA, ESTÚPIDO!


Caminhões do exercito italiano carregando caixões de vitimas do coronavírus

No meio de uma situação de tragédia, ninguém pensa em dinheiro. 

Estive em várias situações de desastre. Nestas situações, a última coisa que você pensa é dinheiro. Pessoas estão morrendo, pessoas vão morrer, pessoas estão em luto e em situação de estresse psicológico. Muitos perderam tudo. E você ali, no meio daquilo tudo. Qual é a medida a tomar?

Enterrar os mortos e cuidar dos vivos”, teria dito o Marques de Pombal a um atônito Dom João, rei de Portugal, quando este lhe perguntou o que fazer imediatamente após o Grande Terremoto de Lisboa, em 1755. 

Hoje, com o mundo todo em meio a esta brutal pandemia causada pelo coronavírus, esta é a questão: como enfrentar esta pandemia com o menor número de mortos? 

Entretanto, esta é uma crise sui generis. Estamos em casa, e podemos assistir as notícias que vem de longe. Podemos ter acesso a vídeos, lives e documentários. Podemos conversar com todos os nossos parentes amigos e colegas pelo whatsapp. Não fosse a anormalidade, parece que está tudo normal.

Mas não está. A falta de conhecimento das pessoas sobre o que é um vírus acaba levando a inúmeras ações inseguras. Uma pessoa aqui contamina a outra ali e a pandemia vai se espalhando a uma velocidade quase supersônica. 

Um vírus é muito pequeno, não conseguimos enxergá-lo. Parece mesmo que não está ali. Por isso, para a maioria das pessoas, parece que a pandemia não existe. O desfile de caixões nas ruas de Bergamo na Itália, não comovem ninguém aqui, do outro lado do mundo, também com muitos problemas a resolver. 

Esta falta de empatia, no entanto, é também viral. Pessoas enchem a boca pra subestimar “o tal do coronga”. É uma gripezinha, dizem uns. É uma histeria, uma crise à toa, dizem outros. 

Entretanto, as piores são as falas que fazem pouco caso da tragédia, tendo com o contraponto as vidas das pessoas. “Morre um aqui, outro ali pelas complicações, fazer o quê?”, disse em entrevista na semana passada aquele que não mais nos governa

Os empresários que estão apoiando a necropolítica da atual gestão também se fazem ouvir em alto e bom som: Um empresário do entretenimento faz coro ao necro-presidente, dizendo que "12 mil mortes em 7 bilhões de habitantes é muito pouco pra criar essa histeria coletiva”. 

A crise econômica que se avizinha por causa dos cuidados com a pandemia também é criticada por estes empresários. Um empresário do ramo alimentício diz que “não podemos [parar a economia] por conta de 5 mil pessoas que vão morrer”

Por obvio que estas tantas mortes, na cabeça dos empresários, não são de parentes seus, nem de entes queridos. São da “tigrada”. São números num gráfico de barras do Excel. São corpos amontoados carregados por carroças, como nas antigas ilustrações da Peste Negra, ou da procissão de caminhões carregando caixões anônimos de vítimas anônimas vista pela televisão ou na internet. 

Quanto vale uma vida, uma só?

Essa é a questão que temos que resolver como sociedade. Estamos com uma emergência muito grande, pois temos muitas pessoas vulneráveis, que podem morrer pelo vírus. E temos muitas pessoas vulneráveis que podem morrer de fome, pela asfixia econômica que o confinamento vai criar. O que fazer?

Como disse ontem a economista Monica de Bolle, neste momento eu não perguntaria isso para um economista, eu perguntaria primeiro para um infectologista. 

Existem diversas formas de fazer com que medidas de prevenção contra o coronavirus e medidas de apoio social possam vigorar juntas sem promover o caos. Tem muita gente pensando e propondo coisas interessantese factíveis. Existem governos executando políticas deste tipo

Quanto vale vinte mil dólares no bolso dentro do Titanic adernando? A economia não é tudo. 

Vidas são mais. 

segunda-feira, 9 de março de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS (FINAL): "OS MILIONARIOS DOS QUILÔMETROS"

A vista da cidade de Antonina a partir da igreja de Nossa Senhora do Pilar, onde foi rezada a missa de agradecimento pelo bom fim da aventura dos rapazes. 
(Estamos no mês de março de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, percorreram 1250 quilômetros numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 9 de março de 1942, Beto, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca), Milton e Lydio, estão numa missa em homenagem a eles. Depois de quase dois meses, a aventura dos cinco rapazes chega a seu fim. )

Era uma segunda feira de quaresma, e a igreja matriz de Antonina estava cheia.

 Parecia que era festa de agosto, a igreja lotada de gente, o burburinho tomando conta do átrio e ressoando pela nave da matriz. Era um dia de festa e regozijo. As oito horas da noite do dia 9 de março de 1942 o padre Leonardo Starzinski rezou uma missa em homenagem aos cinco escoteiros. 

Fazia sete anos que o padre Leonardo estava ali na paroquia. Iniciara seu vicariato em 1936, substituindo o enérgico padre Bernardo Peirick, que havia feito muitas reformas na matriz, que ainda hoje guardam seu estilo. 

Padre Leonardo, ao contrário de padre Bernardo, eram um catequizador. Naquela noite na missa noturna, esperando pelo seu sermão, havia paroquianos especiais: os cinco rapazes recém-chegados de sua jornada a pé ao Rio de Janeiro. 

Para o sermão, escolheu alguns trechos selecionados do Êxodo, falando das agruras sofridas pelos judeus em sua busca pela Terra Santa. Os sacrifícios, os descaminhos, as incertezas, tudo isso foi citado em seu sermão. Os rapazes escutaram tudo com atenção e devoção. 

Ao encerrar, padre Leonardo pediu a Deus para que os rapazes seguissem sempre os caminhos do Bem. E ressaltou que o seu feito servisse de modelo para as gerações de escoteiros do futuro, como anotou Lydio Cabrera em seu diário. 

A aventura chegara ao fim. Depois das festividades da volta, houve ainda diversas atividades sociais a cumprir. Lydio nos conta que, no dia seguinte à chegada, aceitara tomar um chá na casa da Profª Assíria Linhares, onde contou um pouco de sua experiência à velha mestra. 

À tarde, os cinco rapazes foram visitar o capitão Custodio Raposo Neto, Prefeito Municipal, junto a outras autoridades, conforme anotou Lydio. Depois, ainda deram uma entrevista para o jornalista João da Cruz Leite, editor do Jornal de Antonina. Já estava de noite quando saíram de lá. 

Mas as festividades prosseguiam: ainda nesta noite houve um jantar de confraternização na casa do Chefe Picanço. Lá, em volta da mesa, seu Manequinho fez um pequeno discurso, dizendo-se muito satisfeito com o feito dos cinco rapazes. 

Ressaltou que os esforços e a força de vontade de cada um haviam contribuído para o sucesso da missão. Eles eram, para seu Maneco, o orgulho do escotismo antoninense. Talvez, frisou o chefe, um feito desta envergadura nunca mais viesse a ser repetido no escotismo brasileiro. 

Na reunião da noite, na Caserna dos Escoteiros, houve ainda uma Sessão Cívica. A bandeirante Araildes Horibe saudou os rapazes, finalizando com estas palavras: “os vossos nomes serão gravados na História de Antonina e com letras de ouro, no livro desta Associação, como os milionários dos quilômetros”. 

O Chefe Beto, agradecendo as palavras da Bandeirante Escoteira, disse que, “se fosse preciso, eles o fariam novamente, e com grande satisfação”. Ao final, a banda musical da tropa escoteira começou a tocar um dobrado, aumentando a alegria da festa. Com todos eufóricos cantando o Hino Nacional, a sessão foi finalmente encerrada. A missão havia acabado. 

Ao sair da igreja aquele dia, sentindo o vento fresco vindo do mar, os cinco rapazes não sabiam do que a vida ia fazer deles. Cada um voltou a suas casas, a suas famílias, e cada um viveu suas vidas como puderam. Os meninos, durante toda sua vida, foram intensamente homenageados na cidade, onde viraram nome de rua, e onde sempre foram convidados a contar os detalhes de sua aventura.

Sua missão não foi jamais esquecida. Hoje, mais de 70 anos, os valentes e ingênuos rapazes da Capela ainda povoam as nossas mentes. Não há antoninense que não saiba, ao menos por cima, sobre a sua expedição. Alguns os chamam de heróis. 

Outros, de loucos. Outros, ainda, acham que seu sacrifício valeu somente para um bando de políticos aproveitadores. Muito embora o significado verdadeiro de sua jornada se tenha perdido no tempo e nas memorias de quem a viveu, o feito ainda impressiona. 

Não há como não se impressionar com cinco rapazes perdidos no mundo para entregar uma carta ao presidente. A carta em si não significou muito, mas a jornada colocou Antonina no mapa. Isto não é pouco.

quinta-feira, 5 de março de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 83: A CHEGADA TRIUNFAL


A chegada da tropa escoteira em Antonina depois de um Encontro em Joinville. Como seria a recepção dos rapazes na madrugada de 4 para 5 de março de 1942?
(Estamos no mês de março de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, percorreram 1250 quilômetros numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 5 de março de 1942, Beto, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca), Milton e Lydio, estão chegando em casa, finalmente! E a recepção, como seria?)

Era já noite, no dia 4 de março de 1942, quando o navio finalmente chegou. Os rapazes iam acompanhando a lenta e segura manobra do navio para atracar no porto de Paranaguá naquela noite fresca e úmida de fim de verão. 

No cais, os meninos foram recebidos pelo chefe dos escoteiros de Antonina, Maneco Picanço, e por alguns antoninenses que moravam na cidade. Foi uma grande festa. Um momento de muita emoção e alegria ver o chefe Manequinho e seus amigos ali esperando por eles no porto. 

Mas tinha mais. Eles foram informados que toda a cidade estava esperando por eles naquela noite, e iria ter festa nem que fosse de madrugada. 

Um Ford V8 preto estava ali, esperando para levar os rapazes de volta para casa. Seria a última viagem até Antonina, a Doce Antonina, de onde haviam partido em dezembro para uma viagem a pé de 1.250 quilômetros. 

E que viagem. Na certa, os rapazes que agora chegavam não eram os mesmos que haviam partido. Praticamente dois meses de muito sacrifício e de muita novidade, quem ali chegava eram cinco rapazes que conheciam muito mais do mundo. Os meninos voltavam homens. 

O motorista do Ford foi encher o tanque nas imediações. Aquela era uma tarefa bastante complicada naqueles tempos. A gasolina estava racionada em tempos de guerra. Além disso, já era tarde da noite na cidade, com poucos lugares abertos. 

Demorou quase duas horas para voltar com o tanque cheio. De tanque cheio também estavam os rapazes, levados pelo Chefe para fazer uma boquinha antes da última viagem. Era o último lanche que eles comeriam fora de casa. Famintos da viagem, mas ainda lembrando das iguarias que eles comeram no navio, os rapazes comeram bem para aguentar a viagem até Antonina. 

O Ford deixou Paranaguá as 22:00 horas. Eles passaram pela vila de Morretes depois de quase duas horas de viagem. Depois, o carro foi até Porto de cima e seguiram para São João da Graciosa, no entroncamento da Estrada da Graciosa, onde pararam para descansar.  Era esse o caminho da época.

Em São João da Graciosa estava esperando por eles o Sr Nicolau Cecyn, em seu Ford verde, para acompanhá-los no trecho final. Depois de cumprimentar os rapazes, o agora comboio seguiu em frente rumo a Antonina. 

No quilometro 8 da Estrada da Graciosa o comboio encontrou o delegado de polícia de Antonina, o Sr Penny Withers. Não, não era pra prende-los. Era só o que faltava! O delegado estava ali esperando para dar a boa vinda aos rapazes, em nome do prefeito, Capitão Custodio Afonso Neto. 

Quando a caravana chefiada pelo Ford Preto cruzou a Avenida Thiago Peixoto, os foguetes começaram. Era na madrugada do dia 5 de março de 1942. Segundo Lydio, o espetáculo pirotécnico era indescritível. Essa a palavra que ele usou em seu diário. 

Indescritível. Foguetes e morteiros estouravam sem cessar, anota ele. Os carros só pararam, em meio ao foguetório, depois do portal da cidade, próximo do pátio da Estação Ferroviária. Ali, eles desceram para cumprimentar a grande multidão que ali estava. Todos queriam cumprimentar os rapazes, dando-lhes beijos e abraços. 

Como Lydio anotou em seu diário, teve início um grande desfile escoteiro nas ruas de Antonina. Este desfile, impensável para muitos, durou parte da madrugada, que só terminou na Caserna da Tropa Valle Porto. O desfile foi, é claro, acompanhado por grande massa de pessoas. Volta e meia, estourava um foguete perdido, para horros dos cachorros da época. 

Ali, na caserna dos Escoteiros da Tropa Vale Porto, finalmente, os rapazes da Patrulha Touro foram dispensados de sua missão e puderam ir para suas casas. Quanta felicidade!

Ao chegar em casa, com sua família, Lydio conta que estava muito excitado para dormir. Estava cansado, com fome, mas sem sono, querendo desesperadamente falar. Sua mãe, dona Nathalia, foi fazer um café. Enquanto isso, Lydio contava para seu pai alguns dos detalhes da viagem. 

Eram 4 da manhã quando finalmente conseguiu pegar no sono. Segundo conta, demorou pra dormir porque ainda sentia falta do balanço do navio. Ainda excitado com a recepção, ele fechava os olhos e tentava reter na memória tudo o que havia acontecido naquela memorável madrugada. 

A aventura ia chegando ao fim. Mas ainda tinha mais!!