(Thomas Bigg-Wither (1845-1890) era um engenheiro inglês; Seu relato parcialmente publicado aqui descreve sua estadia em Antonina em 1872, como parte de um grupo que estava estudando o trajeto de uma grande ferrovia entre o Mato Grosso e o Paraná, então recém emancipado de São Paulo; trata-se de uma das mais completas e bem-humoradas descrições da Deitada-a-beira-do-mar no seculo XIX; nesta segunda parte Bigg-whiter nos conta do que ocorreu desde o desembarque até o jantar feito num hotel "improvisado" na Deitada-a-beira-do-mar.)
PARTE 2
Entre a multidão [no cais] estava e Sr. Hargreaves, que se nos
apresentou falando um perfeito inglês, e ofereceu seus serviços para, sem
demora, obter acomodações para todos. Ele falava inglês e português com igual
fluência, conhecendo bem o Brasil em geral e Antonina em particular; sua
assistência nos foi preciosa durante nossa curta estadia na cidade. Em menos de
uma hora, depois de nossa chegada, por meio de sua generosa ajuda, fomos bem
instalados, com malas e bagagem, no único hotel do lugar, cujo hotel, segundo
minha firme opinião, foi posto temporariamente enquanto lá estivemos, para nos
agradar, mas tirado logo depois que deixamos a cidade. O proprietário, Sr. Pascoal,
nos recebeu com entusiasmo, declarando que nos podia acomodar a todos com
facilidade, o que eu via mais como um problema matemático que pedisse
demonstração do que coisa positivamente certa, pois, numa inspeção pelo hotel,
vi que este possuía quatro quartos, com seis camas ao todo e nós éramos
dezessete!
O nosso primeiro pedido foi “jantar”, ou melhor, ‘ceia para
vinte”, e o mais depressa possível, pois estávamos esfaimados.
O hoteleiro recebeu o pedido com inimitável segurança e
sangue-frio, como se estivesse acostumado a receber tais pedidos todos os dias nos
últimos vinte anos, embora parecesse ter
ele mandado pedir emprestado panelas,
pratos, travessas e tudo o mais que fosse necessário para um grande jantar. Ele
se portou sabiamente, evitando perturbar a nossa paz de espirito com as
deficiências da casa, mas, ao contrario, se esforçava para nos agradar,
atendendo aos nossos desejos. Éramos tratados de modo distinto, isto é, como
hospedes que mereciam ser bem tratados e não como estranhos para serem
roubados. Merece respeito o homem que pode assim superar o dia a dia para
passar a algo superior, quando a ocasião exige.
Quase duas horas depois de dado o pedido, posta uma longa
mesa para vinte pessoas, que rangia sob o peso dos pratos de carne cozida,
frango e arroz e feijão preto, enquanto um fila de garrafas, algumas com o
conhecido rotulo Bass and Co., enfeitava
o centro em cuja cabeceira o Sr. Pascoal fazia as honras da casa, dentro da boa
moda antiga.
Sentamo-nos todos e cada qual se servia, a si mesmo ou ao
seu vizinho, dos pratos que estavam perto, sem considerar o conteúdo. A julgar
pelo burburinho da conversação animada e continuada em todos os lados – as anedotas
ruidosas, as risadas e o rápido desaparecimento das carnes e dos licores –
dificilmente haveria reunião mais jovial e alegre que a desse jantar, não
obstante a nacionalidade diversa dos companheiros, todos perfeitamente
igualados, como irmãos.
Antes de terminar o jantar o hoteleiro se levantou e
proferiu longo discurso de saudação (traduzido por Mr. Hargreaves) no qual ele
se congratulava, primeiro, com a “Expedição”, pela sua chegada a são e a salvo
da viagem, depois consigo mesmo, por ter sido o primeiro na província a ter o
prazer de apresentar-nos os votos de boas vindas, o que, de fato, ele fazia de
coração, em nome de toda Antonina, desejando o melhor à expedição pela obra
importante que se encarregara de empreender.
O capitão Palm respondeu com pertinência, outros falaram a
seguir e, quando deu meia noite, ainda permanecíamos sentados em torno da mesa
festiva. Mas isso era natural, pois na ocasião Antonina homenageava a expedição
por intermédio do Sr. Pascoal e dois acólitos seus, e também se despedia dos
membros do III e do IV grupos, que deveriam partir as três da manhã com destino
a Paranaguá.
(...)
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