sábado, 29 de setembro de 2012

O CAVALEIRO INEXISTENTE


Estes tempo reli um livro de Ítalo Calvino, o “Cavaleiro Inexistente”. Nesse livro, o impagável Calvino nos conta a história de um cavaleiro do Imperador Carlos Magno, o nobre Agilulfo. Agilulfo era um perfeito cavaleiro, com sua armadura branca, resistente e reluzente – mas vazia. Comandado só pela vontade, reto e perfeito, perfeccionista, cumprindo cegamente todas as regras e normas, Agilulfo desprezava seus companheiros, os outros cavaleiros, tão viciosos, tão deturpados pela vida e pelos humanos sentimentos.
Calvino, com sua acuradíssima prosa, nos diz que a vida é bem mais complicada do que pensamos. Quem não quer, acossado pelas premências da vida cotidiana, alcançar um patamar onde tudo seja puro, não corrompido, onde a vontade seja soberana e os vícios derrotados? Porém, como conseguir esse ideal?
Aqui em São Paulo a grande discussão estes tempos é a candidatura Russomano. Um outsider, um candidato sem estrutura nenhuma, lançando-se a prefeito sem o apoio de grandes máquinas e que está chegando ao segundo turno das eleições da maior cidade do país. Quer exemplo maior de vitória da vontade contra a necessidade da vida?
O que tenho visto sobre a candidatura de João D’Homero, na nossa  Deitada-a-beira-do-mar, me lembra esse paradoxo. Trata-se, segundo sua campanha, de um candidato chapa-pura, combatendo máquinas eleitorais fortíssimas, apenas com o exemplo e com a vontade de dar certo.
No entanto, o que é apresentado? O texto de sua plataforma (aqui) é parco, vago e ambíguo. Na entrevista que vi na internet (aqui) , aparece um candidato sem ideias, sem expressão, sem o que contar de novo e diferente para o eleitor. Nos debates (aqui), diz que não sabe nada, mas que vai ter um secretariado que sabe o que fazer. Como assim?
Como Russomano, que não tem staff em que se apoiar, João D´Homero surfa no desconhecimento que o eleitor tem dele e de seus projetos (aqui). Faz da rejeição dos outros sua tabua de salvação (aqui). Mas existem perguntas a serem respondidas. Quais são suas ideias? Quem são seus apoiadores? Com quem vai governar? São perguntas que precisam ter respostas bem claras.
Meu caro Jeff Fonseca faz uma campanha modesta, mas honesta. Tem um partido forte localmente, com uma chapa de vereadores consistente, composta principalmente de comerciantes. Gostando-se ou não, tem um nome e uma identidade fortes, e uma forte dose de coerência, inclusive nas propostas que apresenta. Assim comparada, a campanha de João D´Homero ainda é uma incógnita.
A continuar nesse bom-mocismo sem propostas, o que podemos esperar?
Nosso bom e nobre Agilulfo, o cavaleiro inexistente, parece uma boa metáfora. Quando finalmente teve que se apresentar tal como era, ou seja, despir sua armadura, é que ele realmente se revelou. Agilulfo era um cavaleiro puro e sem vícios, virtuoso por nunca ter que testar sua virtude. Em busca da vida real, um dia ele apeou de seu magnífico cavalo, tirou o elmo, tirou a parte de cima e a parte de baixo da armadura: o que as pessoas viram foi nada. O vazio. Sem sua carapaça reluzente, Agilulfo era vazio como o vento que sopra à tarde nas árvores da Feira-mar. 

9 comentários:

  1. Jeffinho, eu sou um dos seus apoiadores sim. No início ninguém queria saber de João Domero, desprezaram-no, rindo de seu projeto de ser Prefeito. o desprezo veio por grande parte de seus, hoje, adversários de campanha. Posso falar porque estive junto em algumas reuniões com esse pessoal. A chapa pura veio por consequência... antes só do que mau acompanhado.
    João ainda traduz a pureza de fazer o bem prá coletividade, crescemos juntos, conheço seu caráter, tem boa conduta, sempre defendeu a nossa Antonina. João pode não ter o programa de governo que soa bem aos nossos ouvidos, mas tem a gana de fazer, de realizar.
    João, em sendo Prefeito, não sabe como vai receber a casa.
    Procure saber o que João fez na APAE de Antonina, fale com a mãe dos seus alunos. Eu mesmo colaboro já a algum tempo com meu trabalho na APAE, com o que sei fazer.
    São Paulo, Curitiba, Antonina, em muitos lugares, o eleitor quer mudança, a vontade é soberana.
    Deixa o João continuar assim, eu não quero que mude.
    O Zé, seu amigo, não mudou, tentou passar a imagem de mudança, veja no que deu, a sua equipe é a mesma que vem administrando nos últimos 8 anos, voce está contente?
    Um abraço, te adoro.
    Mauricio Scarante

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    1. Caríssimo
      Tem coisas que eu sei e coisas que eu não sei. Não conheço pessoalmente João d`Homero, nem seu trabalho, é certo. Mas te conheço, e te conheço de dentro de casa, assim como conheço Wilsinho, um baita dum empresário, dinâmico, empreendedor, um orgulho capelista.
      E também nada contra a pessoa de João, que eu conheço pouco, ainda da infância/adolescência. Mas administrar uma APAE, por melhor que seja, não dá por si só cacife pra ninguém ser prefeito. Ser um bom secretário também não. Uma boa professora não necessariamente é uma boa diretora de escola.
      A minha questão é que tudo o que tenho visto e conversado com pessoas – tanto quando estive aí em agosto, quanto na blogosfera – é que não havia propostas sendo colocadas, que o candidato não sabia nem o que falar nos debates. Um vazio que me incomodava. Quando ia ver o que estava escrito nos planos de campanha, tudo muito vago. E aí?
      Parece a questão do cachorro correndo atrás do caminhão. Se o caminhão para, o cachorro também para. Qual o objetivo de correr atrás do caminhão?
      Um grande abraço, também te adoro muito.

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  2. Deitada na beira do mar.Tá na hora de abrir os olhos então e
    Levanta Antonina.
    Todos os candidatos querem viver da Política(ou tem vivido, logo, teta., mamadeira.
    Povo acorda. Controlem quem ganhar.
    João é humilde, tem vontade Wilson trouxe pequena empresas, deu empregos.Não ainda apenas prefeito sem a vontade do povo.
    As administrações ultimas foram a rítmo do vazio do vento. Esperando alguém de outra administração(Petro, Federal\estadual) vir, fazer e depois colocar seu carimbo como O responsável.Alguns são inexperientes mas podem aprender, basta ouvir, ler blogs e vontade. A Monica, não aprendeu. Os outros um ainda aprendendo uma pena e o outro desejando mais aprendizado

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    1. Nada contra João, nada contra Wilsinho, um empresário admirável em todos os sentidos. Mas está faltando pimenta neste angu, isso está.

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  3. Meu caro amigo,
    Temos o embate entre conhecimento x competência e vontade.
    Li sobre o Domero num blog ou santinho\paper, não lembro qual, afirma não saber nada. Isso não é vergonha. O que é vergonha, foi ler que só metade da frase foi colocada. Nada se referia sobre seu secretariado tem que saber. Na prática, quem m sabe mesmo, é o médico, a enfermeira. Mas diante da frase imcompleta, tenho que colocar mais algo no embate: Caráter.
    Qual a intenção ena meia frase se não a de denegrir uma imagem?
    Vale tudo pelo voto?
    Vejo que os candidatos, como li há pouco querem teta. Simples não?.Divulguem em seus santinhos o que tem hoje e o que possuirá depois da mandato, seja vereador secretário. Falar mal do outro ou induzir o outro a uma reflexão errada mostra a real intenção do candidato. Cade a pauta, programa compromisso assinado com o bairro, os números. A parceria público privada, a transparência de quem pediu e como foi atendido no programa. ´E então os candidaqtso todos que não apresentaram algo parecido, nada sabem mesmo de política. Seria então candidatos a politicagem?
    É apenas um questionamento.
    Defenda seu candidato, mas não acuse o outro. Defenda as propostas dele e como vai ser feita.
    Ética, moral, civilidade, participação asociação de bairros. Veremos veradores fazendo obras? E deveriam focar mais leis. O que pode mehorar?

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    1. Meu caro
      Agradeço seu questionamento.
      Politica se faz no embate de ideias, e não na politicagem, é isso que acredito. Não me referi somente à tal meia-frase, que reconheço, pode ser somente manipulação. Mas também vi os vídeos dos candidatos, e a sensação da meia-frase continuou em minha cabeça. Por isso me coloquei nesse post, mesmo sabendo que iria contrariar amigos queridos.
      O candidato que apoio apresentou desde o inicio da campanha programa detalhado, vem mostrando quais são suas ênfases, quais são seus objetivos e mesmo seus apoios. Em contrapartida, vem também sofrendo cruel ataque de meias-frases e frases inteiras, sem entretanto responder a nenhuma dessas críticas levianas. Acho que quem se sente ofendido é porque acredita em maior ou menor grau na ofensa. Não é o caso de Zé Paulo.
      Que a politica deve melhorar, incluindo ética, moral, civilidade e, principalmente participação popular, não tem como discordar: é bom e necessário como o ar que se respira. Existem inúmeros gargalos na maneira de se administrar nosso pais e nossas cidades, inclusive a Deitada-a-beira-do-mar que devem ser resolvidos. Esse é o nosso desafio.
      Agradeço muito a postagem séria e inteligente. Pena eu não poder chamar o amigo pelo nome....

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    2. Meu caro, vi, li, ouvi, comento. Infelizmente não vejo competência nos candidatos. A saúde? Bom ouvi de gente que está ligada a lamentar o descaso que ocorreu e que no último ano embelezouum hospital. Deu nova cara, mas cadê o resto? C0mentá-se que apenas estrutura civil não faz um Hospital. Há precariedade em outras coisas na saúde. E o Hospital veio as pressas no ano "leitor-eiro". Penso que dei o recado aqui. Mas melhor um limpo (novo) que p antigo, MAs é uma casca, como andam dizendo. sem conteúdo fertilizado.
      Proposta tem que vir de ouvir o povo em conjunto. Sempre ouve proposta nestas décadas e Antonina, sem grandes melhoras.
      Seriedade, vontade, honestidade é o que se deseja.
      Um forte aperto de mão.

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  4. A finalidade de um blog é tornar pública a opinião pessoal e soberana de seu mantenedor, seja ela imprecisão, algaravia, garatuja, heresia etc. Também tem a possibilidade de estimular debates com a participação de seus leitores (que também podem ser eleitores). Quem lê reage concordando ou discordando, aplaudindo ou desdenhando... ou expondo ilações, como tento fazer agora.
    Referindo-se ao João d'Homero, você nos diz que "o texto de sua plataforma é parco, vago e ambíguo", que numa entrevista aparece "um candidato sem idéias, sem expressão, sem o que contar de novo e diferente", que num debate disse "não saber nada".
    Se é assim, o pretendente carece de traquejo, de jogo de cintura, de experiência eleitoreira. Pelo que o candidato declarou às autoridades e ao povo, seu patrimonio é, digamos, razoável. Certamente faltou dindim para contratar profissionais capacitados para lhe ensinar comportamentos "corretos", como se comportar diante de microfones e câmeras, como empostar a voz num discurso para engabelar o respeitável eleitorado, gestos teatrais, verter lágrimas tal qual um ator global.
    Nenhum marqueteiro deixaria o candidato dizer que "não sabe nada" enquanto os concorrentes juram que tem soluções para tudo. Neste mundo manchado da política, falar a verdade não deve ser boa estratégia. Um "bom" profissional produziria propostas espetaculares, planos mirabolantes, copiados, quem sabe?, de sites criados justamente para campanhas afortunadas. Mas quem garante que projetos bastante elaborados para campanhas sejam realmente executados durante o mandato?

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    1. Celso, me desculpe, mas pelo menos o traquejo tem que ter. O menino lá, o Zé Luiz, nas eleições passadas tambem não tinha dinheiro mas tinha um baita traquejo...abraços (depois respondo com mais calma, estou meio em correria estes dias!)

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