sexta-feira, 4 de maio de 2012

A NOVA ANTONINA

o Farol da Ilha do Mel em 2062, submerso por causa do aquecimento global


Estamos no ano de 2062.  Com o aquecimento global, o nível dos oceanos subiu três metros em todo o planeta. Com isso, amplos trechos da cidade ficaram submersos. Sobrou a colina da matriz, transformada de novo em ilhazinha batida pelas ondas, e o morro do Bom Brinquedo, que virou ilha do Bom Brinquedo. Os bairros ficam isolados, as pessoas não têm como se mover, não há barcos pra todos. O caos se instala. Não há alternativa, pensam os habitantes, a cidade vai ter que se mudar. Pra onde?
Existe um lugar, apontam os técnicos do governo do estado, é a região de São Joãozinho Feliz. Lá deve se localizar a Nova Antonina, distante da velha Antonina tão cheia de pecados e agora tragada pelas aguas do aquecimento global, como foi previsto pelos profetas do inicio do século XXI. É uma nova oportunidade de zerar tudo e começar de novo, sem os erros do passado.
 Ótimo, diz a prefeita da época, vamos desapropriar essa área e vamos construir a nova cidade. Todos ficam felizes com sua determinação. O Governador vai até lá de helicóptero, abraça e beija as criancinhas e diz que vai mandar dinheiro. O Ministro também prometeu liberar as burras da administração federal pra salvar a cidade submersa.
Mas, há empecilhos: alguns proprietários querem se livrar logo de suas terras, outros elevam o preço até as alturas. O dinheiro não chega, não chega, e, quando chega, é um terço do dinheiro inicialmente previsto. Há que se fazer licitações para construção das ruas e das casas. As licitações são lentas, pois desde o inicio do século pioraram muito as leis de licitação para evitar a corrupção politica. Somente empresas marcianas de ilibada reputação se candidatam.
Onde vão ser as casas? Quem vai ter acesso a elas?  Nesse momento, a elite da cidade, que ninguém achava que existia, toma a frente e requer os melhores lugares. Depois, a classe média e, por fim, o povão ocupa o que sobrou, ou seja, alto de morro, beira de rio, locais de mangue. O terreno todo é ocupado, alguns proprietários são indenizados, de preferencia os amigos da prefeita ou do deputado amigo da prefeita. Os outros que se virem. A oposição reclama, os blogs reclamam, mas a caravana passa. A nova Antonina inicia as obras de sua refundação.
Quando os operários executam a primeira sondagem, um cheiro ruim invade a área. Mulheres desmaiam, crianças choram, e um cheiro de ovo podre toma conta do ar. Um velhinho bem velhinho se lembra de que era ali, naquele lugar, que no século XX e começo do XXI onde os capelistas jogavam seu lixo. O terreno mole começa a afundar, engolindo a super-escavadeira recém-comprada pela prefeitura, tragada pelo solo colapsível do lixão, ops! Aterro Sanitário.
Em meio ao caos que se forma, alguém pergunta pra prefeita o que fazer. Atarantada, como todos por ali, a alcaidessa olha em redor e grita: “vamos pra Morretes! Eu já moro lá e é pra lá que nós vamos!” A multidão começa a pegar suas tralhas e uma longa peregrinação começa pela estrada do Sapitanduva em direção à terra de Rocha Pombo. Os anônimos dos blogs não vão ter mais do que reclamar, pois alcançamos finalmente Morretes, a perfeição na Terra. Lá não jorra leite e mel, mas é mais limpinha, organizada e tem emprego nos restaurantes. Que não haja medo do futuro nem saudade do passado: ao virar a última curva, onde ainda se avistam as ruínas de uma antiga cidade deitada embaixo do mar, que ninguém olhe para trás, por via das dúvidas. 

2 comentários:

  1. 1. A expressão "solo colapsível" deveria ser reservada para uso apenas em cadeia nacional de ráido e TV e não nestes nossos bloguezinhos mequetrefes.
    2. De todo modo, proclamo que se estiver de posse de minhas (limitadas) faculdades, diante do chamado de Munira Dirty File Peluso, dou um jeito de subir no mirante da pedra e de lá haverei de lançar-me feito um kamikaze sobre a matriz inútil, para desespero do padreco.

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    1. em 2062 é melhor usar golfinhos treinados pra fazer isso...

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