terça-feira, 24 de março de 2020

NÃO É A ECONOMIA, ESTÚPIDO!


Caminhões do exercito italiano carregando caixões de vitimas do coronavírus

No meio de uma situação de tragédia, ninguém pensa em dinheiro. 

Estive em várias situações de desastre. Nestas situações, a última coisa que você pensa é dinheiro. Pessoas estão morrendo, pessoas vão morrer, pessoas estão em luto e em situação de estresse psicológico. Muitos perderam tudo. E você ali, no meio daquilo tudo. Qual é a medida a tomar?

Enterrar os mortos e cuidar dos vivos”, teria dito o Marques de Pombal a um atônito Dom João, rei de Portugal, quando este lhe perguntou o que fazer imediatamente após o Grande Terremoto de Lisboa, em 1755. 

Hoje, com o mundo todo em meio a esta brutal pandemia causada pelo coronavírus, esta é a questão: como enfrentar esta pandemia com o menor número de mortos? 

Entretanto, esta é uma crise sui generis. Estamos em casa, e podemos assistir as notícias que vem de longe. Podemos ter acesso a vídeos, lives e documentários. Podemos conversar com todos os nossos parentes amigos e colegas pelo whatsapp. Não fosse a anormalidade, parece que está tudo normal.

Mas não está. A falta de conhecimento das pessoas sobre o que é um vírus acaba levando a inúmeras ações inseguras. Uma pessoa aqui contamina a outra ali e a pandemia vai se espalhando a uma velocidade quase supersônica. 

Um vírus é muito pequeno, não conseguimos enxergá-lo. Parece mesmo que não está ali. Por isso, para a maioria das pessoas, parece que a pandemia não existe. O desfile de caixões nas ruas de Bergamo na Itália, não comovem ninguém aqui, do outro lado do mundo, também com muitos problemas a resolver. 

Esta falta de empatia, no entanto, é também viral. Pessoas enchem a boca pra subestimar “o tal do coronga”. É uma gripezinha, dizem uns. É uma histeria, uma crise à toa, dizem outros. 

Entretanto, as piores são as falas que fazem pouco caso da tragédia, tendo com o contraponto as vidas das pessoas. “Morre um aqui, outro ali pelas complicações, fazer o quê?”, disse em entrevista na semana passada aquele que não mais nos governa

Os empresários que estão apoiando a necropolítica da atual gestão também se fazem ouvir em alto e bom som: Um empresário do entretenimento faz coro ao necro-presidente, dizendo que "12 mil mortes em 7 bilhões de habitantes é muito pouco pra criar essa histeria coletiva”. 

A crise econômica que se avizinha por causa dos cuidados com a pandemia também é criticada por estes empresários. Um empresário do ramo alimentício diz que “não podemos [parar a economia] por conta de 5 mil pessoas que vão morrer”

Por obvio que estas tantas mortes, na cabeça dos empresários, não são de parentes seus, nem de entes queridos. São da “tigrada”. São números num gráfico de barras do Excel. São corpos amontoados carregados por carroças, como nas antigas ilustrações da Peste Negra, ou da procissão de caminhões carregando caixões anônimos de vítimas anônimas vista pela televisão ou na internet. 

Quanto vale uma vida, uma só?

Essa é a questão que temos que resolver como sociedade. Estamos com uma emergência muito grande, pois temos muitas pessoas vulneráveis, que podem morrer pelo vírus. E temos muitas pessoas vulneráveis que podem morrer de fome, pela asfixia econômica que o confinamento vai criar. O que fazer?

Como disse ontem a economista Monica de Bolle, neste momento eu não perguntaria isso para um economista, eu perguntaria primeiro para um infectologista. 

Existem diversas formas de fazer com que medidas de prevenção contra o coronavirus e medidas de apoio social possam vigorar juntas sem promover o caos. Tem muita gente pensando e propondo coisas interessantese factíveis. Existem governos executando políticas deste tipo

Quanto vale vinte mil dólares no bolso dentro do Titanic adernando? A economia não é tudo. 

Vidas são mais. 

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