terça-feira, 3 de março de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 81: PASSEANDO EM SANTOS


Os famosos bondes de Santos, nos quais os escoteiros passearam em 3 de março de 1942
(Estamos no mês de março de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, percorreram 1250 quilômetros numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 3 de março de 1942, Beto, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca), Milton e Lydio, estão voltando pra casa. Quando o navio atraca em Santos, eles descem para conhecer a cidade. O que será que vão encontrar? )

Estava já escuro, mas mal o Vapor atracou nas docas do porto de Santos Lydio saltou para terra. Queria conhecer a cidade. Ficou muito impressionado com o movimento comercial do centro, mesmo àquela hora da noite. Visitou as praças Rui Barbosa e José Bonifácio, que gostou muito. Mas ficou mesmo impressionado com os bondes da cidade. 

Os bondes tinham motorneiros vestidos em impecáveis ternos brancos, e usavam luvas. Chamou atenção os vastos bigodes que quase todos eles apresentavam. Só depois, mais tarde, se deu conta que eram quase todos portugueses. Deixando para trás os bondes, e andando um pouco mais, Lydio viu um circo. 

Era o circo Piolom. Com sua tenda armada num terreno baldio das proximidades, estava bem na hora de mais um grande espetáculo. Provavelmente, o maior espetáculo da Terra. A vontade que Lydio sentiu de assistir ao espetáculo daquela noite só não foi maior do que o medo de perder o navio. 

Ele deixou pra tras as alegrias do circo e se pÔs a andar pela cidade, de volta ao cais. Com o coração apertado de medo de parder o navio ele entrou de volta pelo armazém 12. Mais calmo, sabendo agora que tinha ainda muito tempo, ele  andou pelo cais apreciando os navios ali ancorados.  

Estavam ali ancorados diversos navios americanos e ingleses, os quais mostravam, na proa e na popa, canhões e metralhadoras antiaéreas. O tempo de guerra e o encontro com submarinos e belonaves alemãs não era uma ameaça distante, como já vimos. 

Os navios brasileiros que Lydio encontrou ali atracados também estavam armados. Mais do que os navios de guerra, entretanto, os cassinos flutuantes que também estavam ancorados ali também chamaram a sua atenção. 

Havia muita gente e muita luz. De lá de dentro, muita música também ressoava. No interior do navio-cassino, imagina, Lydio, jogava-se e dançava-se freneticamente. A maioria dos frequentadores, segundo nota, eram estrangeiros. 

No próprio vapor em que viera, o carteado também corria solto no convés. O clima de festa dos navios ressoou intenso. No entanto, tinha que voltar ao seu navio. De volta, correu ao seu camarote e dormiu sob o embalo das ondas. 

Pela manhã, ao acordar, os rapazes viram o movimento intenso do porto, com seus guindastes trabalhando freneticamente tirando e colocando cargas destinadas a todos os lugares do brasil e do mundo. Após o café, saíram para conhecer a cidade, agora de dia. 

Após visitarem um conhecido de Antonina que estava morando em Santos, os rapazes andaram pelo centro e passearam pelas praias de Gonzaga e José Menino. 

Passaram de bonde pelo estádio de Vila Belmiro onde, mal sabiam eles, surgiria, dezesseis anos depois, a maior lenda do futebol mundial e um dos maiores times de futebol já vistos. Mas isto é outra história. Na cidade, mais do que o futebol, o que mais chamou a atenção dos rapazes foram os canais. 

Iniciados em 1907 pelo engenheiro Saturnino de Brito, os canais eram uma grande inovação higienista e urbanística, drenando os terrenos alagadiços da Ilha e controlando as águas pluviais. Contribuíram para o controle de doenças e induziram a ocupação urbana da cidade durante o século XX. O mais novo dos canais só seria terminado em 1968. 

Em 1942, os canais de Santos já eram uma obra de chamar a atenção dos jovens escoteiros. Lydio também notou os morros de Santos, observando lá em cima, no morro, a mancha branca da igreja de N.S. de Montserrat. 

Alguns anos antes, em 1928, um grande desmoronamento de terra nas encostas do morro de Montserrat havia custado a vida de centenas de pessoas. pelos proximos trinta anos, estes foi um grande problema para a cidade de Santos. 

A ocupação dos moros estava sendo feita com um preço em vidas humanas. Só em fins dos anos 90, com a implantação de sistemas integrados de Gestão é que as mortes dimiuiram, e fizeram da Defesa Civil de Santos modelo em todo o Brasil. 

Entretanto, estamos em março de 1942. os rapazes, depois de meses longe de casa, estavam esperando pra voltar. Era hora de voltar ao navio. E assim o fizeram. 

Os rapazes ficaram no salão do navio, ouvindo as músicas tocadas ao piano pela jovem Doralice, gaúcha de Porto Alegre. De namorico com Milton Horibe, a gauchinha ficou por lá conversando alegremente com os rapazes, até que chegou a hora de se recolherem. 

Durante a madrugada, Lydio saiu ao convés para ver a tempestade que já citamos, a qual quase lhe custou a vida. Logo depois, o escoteiro voltou ao camarote e dormiu pesadamente. Quando acordou, havia perdido o café da manhã. No entanto, ao conversar no convés com um marujo, descobriu que estariam chegando em casa no começo daquela mesma noite.
Enfim, de volta pra casa!

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