segunda-feira, 2 de março de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 80: SOB A MIRA DOS SUBMARINOS ALEMÃES



(Estamos no mês de março de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, percorreram 1250 quilômetros numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 2 de março de 1942, Beto, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca), Milton e Lydio, estão voltando pra casa. Em pleno mar, todos estão com medo do ataque de submarinos de guerra alemães. )

Em viagem de primeira classe, os rapazes foram conhecendo um mundo novo: visitaram todo o convés, foram conversar com o comandante e com a tripulação, desceram ao porão para ver a casa de máquinas do navio. 

Desfrutaram das refeições fartas e exóticas. Lýdio experimentou lagosta pela primeira vez na vida. Em seu diário, anotou que as tais lagostas eram "uma espécie de camarão gigantesco, muito saboroso e de fácil digestão". Nas sobremesas, os rapazes se deliciaram com sorvete de goiaba, tão bom que sempre repetiam. 

Naquela noite o barco continuava navegando rumo sul, todo pintado de preto, e com as luzes apagadas. Eram precauções importantes na época. 

Quando os rapazes chegaram ao Rio, havia sido encerrada por aqueles dias a III Reunião de Consulta dos Chanceleres das Repúblicas Americanas. Esta conferência foi muito importante porque definiu a posição brasileira alinhada com os países Aliados e contra as potencias do Eixo.

O ataque a Pearl Harbour havia sido realizado em dezembro, poucos dias antes dos rapazes partirem de Antonina. Nesta reunião no Rio de Janeiro todos os países do continente americano, com a exceção de Argentina e o Chile, haviam se alinhado contra a agressão sofrida pelos Estados Unidos. 

Com a situação de beligerância já no ar, os navios brasileiros começavam a ser abertamente alvo de submarinos alemães.  Havia pouco menos de uma semana, dois navios brasileiros, o “Olinda” e o Buarque” haviam sido afundados por submarinos alemães. Eram dois navios cargueiros com destino aos Estados Unidos. 

No caso do Olinda não houve mortes, mas o “Buarque a situação fio mais tensa. O navio afundou rapidamente e a tripulação e os passageiros passaram nos botes de salvamento dias no mar gelado do hemisfério norte. Um passageiro morreu nestas circunstâncias. 

Pouco tempo depois, em julho/agosto de 1942, os submarinos alemães iriam começar o que um comandante alemão chamou de “alegre carnificina”: o ataque contra os navios mercantes nacionais, que vitimou por volta de 3.500 brasileiros. 

A comoção popular que isso causou foi grande. Seria o elemento que faltava para a declaração de guerra formal aos países do Eixo que o governo brasileiro fez cinco meses depois, em agosto. 

Enquanto isso, Lydio anota em seu diário as precauções da embarcação para uma viagem em tempos de guerra. Com o receio de um ataque, nenhuma luz podia ser acesa no navio. Sequer fumar no convés era permitido. No meio de tantas preocupações, Lydio certificou-se de colocar um colete salva-vidas ao lado do beliche, para o caso de qualquer perigo.

Na primeira noite, a agitação entre os passageiros era geral: com o embalo do navio, os passageiros estavam todos enjoados, vomitando tudo o que haviam comido pela amurada. Milton Horibe, o chefe Beto e Manduca estavam entre os passageiros que passaram mal nesta primeira noite. 

Após passar por todo o litoral paulista, tendo ao largo Ilha Bela e São Sebastião, o navio começou a mudar seu curso, e em breve estaria atracando no Armazém 3 das docas de Santos. A última etapa da viagem estava chegando.

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