quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 76: NA SALA DE RECEPÇÃO



A Estação primeira de Mangueira em 1937, cinco anos antes da passagem dos escoteiros antoninenses pelo Rio. 
(Estamos no mês de fevereiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, percorreram 1250 quilômetros numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 26 de fevereiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca), já sem muito que fazer, passeiam pela Cidade Maravilhosa. Onde será que eles vão?)

O dia 26 de fevereiro, uma quinta feira de muito calor, foi um dia de folga para os rapazes. Afinal, a programação oficial havia acabado. Não havia mais museus e estatuas para visitar. O Carnaval havia acabado, e todos estavam retomando suas atividades. 

A UEB e a Federação dos escoteiros estavam preocupados com suas rotinas e afazeres. As passagens de volta em navio e ainda por cima de primeira classe, já estava comprada. Sobrava, então, pouca coisa para os rapazes fazerem.

Neste dia de manhã eles aproveitaram para lavar os uniformes. Como eles usavam cotidianamente os uniformes, eles tinham que ser lavadas periodicamente, ou poderiam receber mais alguma bronca do general. Mas foi só. 

Eles também estavam cansados cada um dos outros. Ela primeira vez, eles resolveram fazer programas separados. Depois de dois meses seguidos olhando um para a cara do outro, já estavam cansados de tanta união e cumplicidade. De tarde, cada um foi para um lado. 

Lydio foi conhecer as favelas. Essa era a grande novidade do Rio, conhecer as favelas. Lydio explica que favelas são conglomerados de barracos, cobertos de zinco ou de lata e “equilibram-se nas encostas ou não” dos morros. As ruas são sem alinhamento, e a pobreza é geral. 

Mas – e há sempre um mas – as favelas também são os locais onde estão os músicos do Rio de Janeiro, bem como das cabrochas das escolas de samba. As favelas cariocas, ontem e hoje, são grandes dínamos de produção social e cultural do Brasil. Artistas, políticos, escritores, estudiosos, todos estavam curiosos para conhecer as favelas. Lydio era somente mais um deles. 

Naquela tarde calorenta, ele visitou o morro do Querosene e o Morro da Mangueira. O Morro da Mangueira é uma das mais tradicionais favelas do Rio. Sua ocupação começou a se dar ainda no tempo do Império. 

Naqueles anos de Estado Novo, a Mangueira era o território de uma das primeiras Escolas de Samba do Rio. Berço de grandes legendas do Samba, como Cartola, Nelson Cavaquinho, Nelson Sargento, entre muitíssimos outros, o Morro da Mangueira é uma das maiores instituições brasileiras. A Sala de Recepção. 

No entanto, para Lydio, dar uma olhada no sagrado território do samba foi o bastante. As favelas são muito grandes, justificou ele em seu diário. Sim, elas eram grandes e continuaram a ser. Verdadeiras cidades dentro da cidade. 

Mas havia outra explicação: andando sozinho, ele não se sentia seguro. O jovem escoteiro, uniformizado e com cara de forasteiro, não se sentiu bem-vindo ali no território do samba, como se fosse um animal estranho. Sentiu o “olhar atravessado” das pessoas. 

De Noite, ele foi passear perto do Cine Astória, pra ver se descolava uma namorada. O Cine Astória, em Copacabana, era uma das mais finas atrações da cidade. Recém inaugurado, era o point da gurizada. Mas, nesta noite, deu com os burros n´água. Nenhuma carioquinha sentiu-se atraída por seu charme. 

De noite, de volta ao Colégio Militar, os rapazes ficaram trocando detalhes de suas aventuras pelo Rio. Cansados, foram tentar dormir naquele calorão. 

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