segunda-feira, 8 de abril de 2019

PARA MESTRE ELIMAR TREIN, COM CARINHO (1)


Fim de tarde no rio Ribeira, que Elimar Trein conhecia tão bem...
Semana passada tive a notícia da morte de meu querido professor Elimar Trein.
Desde então, como pequenos flashes, as lembranças deste mestre querido foram se enredando e se embaralhando em minha cabeça, formando uma teia de saudades. Nunca fui íntimo dele. Não sei dos pormenores de sua vida além da dos tempos da Faculdade. Portanto, vou me ater as lembranças do mestre e, com muito orgulho, colega Elimar Trein.
Minha primeira lembrança, ainda muito tímida, foi de quando eu fui pela primeira vez estagiário na saudosa Mineropar. Ainda no segundo ano do curso de geologia, estava lá numa salinha do primeiro andar do prédio do Juvevê, às voltas com atualizações de mapas de áreas de mineração, quando o vi pela primeira vez.
 Elimar Trein era o vozeirão que passeava pelos corredores conversando com todo o mundo. Ele era então o Diretor Técnico da empresa. De vez em quando ele colocava a cabeça pela porta de nossa sala, dava um bom dia e seguia em frente. Ficávamos ali, entre assustados e orgulhosos pela lembrança do chefe. Naquele tempo ele já era uma lenda.
Afinal, Elimar Trein fora um dos geólogos da legendaria Comissão da Carta Geológica do Paraná. Junto com gente de renome como Reinhardt Fuck, Onildo Marini, Arsênio Muratori e outros geólogos, a Comissão da Carta foi um divisor de águas na geologia paranaense.
Até hoje, vendo aqueles mapas impressos e coloridos e passear pela geologia e pelas rochas ali descritas, pode-se sentir o peso daquele trabalho, que mapeou a região Leste do Paraná numa escala de detalhe nunca antes mapeada. Façanha que nunca seria repetida. A julgar pelos sombrios tempos que correm, não o será tão cedo. A Comissão da Carta é hoje somente uma lenda. 
Elimar Trein foi o autor de algumas destas cartas, e autor de textos importantes da geologia do Paraná. Vê-lo andar em passos largos pelos corredores da Mineropar era como se víssemos a bibliografia que estudávamos a passear na nossa frente, viva e pulsante.
Ao contrário de Reinhardt Fuck e Onildo Marini, que foram posteriormente para a UnB e fizeram carreira memorável como pesquisadores, Elimar ficou no Paraná. Não foi inicialmente para a academia. Trabalhou em diversas empresas de mineração e esteve dentro da equipe que fundou a Mineropar. Foi, naqueles anos de muita atividade, um incansável gerente de equipes de campo.
Anos depois, comecei a encontrar com ele, de novo, nos corredores do Centro Politécnico. Estava vindo nos dar aula, e estava se atualizando, assistindo as aulas do prof. Pio Fiori. Alguns colegas até riram quando o viram assistir algumas aulas. Como se isso o diminuísse. Na verdade, era outra faceta marcante de Elimar: aprender e reaprender.
Não é fácil voltar aos bancos escolares depois de algum tempo. Mas não é nenhum problema, ao contrário. Não é voltar a aprender, mas continuar aprendendo de uma maneira mais rápida e honesta, que é através do ensino regular. No mundo de hoje, por conta da informação da internet, muitas pessoas acham que se pode prescindir do ensino formal e regular. Ledo engano.
Elimar Trein ministrou aulas de Geologia Estrutural para nós no segundo semestre de 1985. Foi o meu pior período no curso de geologia, com estudante. Por contas das agitações da política estudantil, e não só por conta delas, acabei faltando demais, e acabei reprovando.
Voltei no semestre seguinte. Encarei de novo Elimar Trein e a Geologia Estrutural. Desta vez, foi fácil. Lembro-me bem do trabalho de campo final, no vale do Ribeira, num dia quente e ensolarado. Depois de percorrido o perfil do dia, paramos num pequeno bar na beira da estrada, e tomamos umas cervejas. 
Com o calor e a poeira, os primeiros goles eram de um alivio que não se descreve com palavras. Lembro de mestre Elimar contando histórias de mineração, de trabalhos de campo, de fatos pitorescos da vida de geólogo de campo. Continuava o mestre, nascia o amigo.
Elimar Trein foi meu professor em diversas outras disciplinas. Lembro-me de que, durante a disciplina de mapeamento geológico, professor Jose Manoel dos Reis Neto, também de saudosa memória, nos avisou antes de irmos para o campo: “não vão forçar a barra ao caminhar, porque o Elimar não aguenta”. Aguentou sim, e discutimos muita geologia e nos divertimos nas estradas de Piên.
Na banca de graduação, foi um dos que nos arguiu com severidade, mas com suavidade. Apontou corretamente o que estava estranho, e mostrou o que estava bom. Quando ele encerrou sua arguição, olhei para Flavio Oliver e Jonas Furman, meus colegas de equipe, com um olhar de “agora somos geólogos”.
Faltava muito ainda, e Elimar Trein sabia disso.

2 comentários:

  1. Caro Jeff. Meu nome é Juliano Trein, sou filho do Prefessor Elimar, e em nome de toda nossa familia (especialmente da esposa Almeide, filhos Juliano, Andre e Fabricio, noras Eloisa, Ingrid e Maria Helena, e netos Bia, Lorenzo, Tetê e Manô), gostaria de agradecer por esta bela homenagem, que descreve tão bem o caráter do marido, pai e avô que nos deixou recentemente. As suas palavras foram ratificadas por tantos colegas, ex-alunos e amigos que tiveram a oportunidade de se despedir dele na semana passada. Além do amor pela geologia e pela universidade, nosso pai nutria uma outra grande característica, que era o senso de justiça e igualdade, por isso sempre foi tão admirado. Tenha certeza que suas palavras nos confortam ainda mais, e que compartilharemos a sua homenagem àqueles que ainda estão entre nós, e com os familiares dos que infelizmente já nos deixaram. Forte abraço e mais uma vez, OBRIGADO!!!

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    1. Caro Juliano: muito obrigado por suas palavras. E meus sinceros pêsames por sua perda, que, acredite, foi também de muitas pessoas que, como eu, teve a oportunidade de conviver com o Mestre que seu pai foi. Aceite meu abraço.

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