segunda-feira, 15 de abril de 2019

PARA MESTRE ELIMAR TREIN, COM CARINHO (2)


Depois que eu me formei, em 1989, eu saí de Curitiba, para fazer meu mestrado em São Paulo. Tempo rude e difícil, e cheio de mudanças em todos os planos.  
Na vida profissional, aquele era um tempo cheio de incertezas. Vivíamos a inflação galopante do final dos anos Sarney. Ter as coisas em casa era uma loucura, os preços variavam no mesmo dia. Na USP, as bolsas de estudo, essenciais para nos manter estudando e fazendo nossas pesquisas, sempre atrasavam. O ambiente era de uma cruel, marcadas por um governo inimigo da educação, o governo Collor.
Voltei a Curitiba em 1991, e consegui uma vaga precária para dar aula como professor substituto na UFPR. Eu havia ficado em segundo lugar no concurso para substituto, e o primeiro colocado, depois de um tempo, havia saído.
Foi aí que eu reencontrei mestre Elimar Trein, agora com Chefe do Departamento de Geologia da UFPR.
Rapidamente, Mestre Elimar se pôs a trabalhar e viabilizou minha contratação. Fez de tudo para que eu começasse logo a dar aulas, e me deu os meios para fazer isso. Uma a uma, as questões burocráticas foram resolvidas e meu contrato foi feito. Era um contrato muito precário, pois recebíamos como prestadores de serviço, sem direito a nenhuma garantia. Mas para quem não tinha nada, foi alguma coisa. Hoje, este sistema está bem melhor, embora sempre há quem queira voltar a este passado ruim.
Lembro de quando cheguei para dar minha primeira aula. Era uma aula de Geologia Geral para a Engenharia Cartográfica. Estava iniciando a aula quando o Coordenador da Engenharia Cartográfica entra na sala de aula, esbaforido e meio raivoso: “Ainda não arrumaram o professor substituto?”, perguntou para mim e para a turma.
Quando eu me apresentei, dizendo que era o professor da disciplina, ele se deu conta da situação. Havia me confundido com os alunos. Afinal, na época eu tinha um pouco mais que a idade dos meus alunos, e poderia facilmente me passar por eles. Depois, quando fui contar para Elimar da situação, rimos demais.
E assim foi. Volta e meia eu passava na sala da chefia de Departamento e nós íamos tomar um cafezinho. Volta e meia íamos também à cantina da Exatas, tomar um café e conversar, coisas sérias ou não. Não me lembro direito destas conversas, mas eu lembro que era um tempo bom.
Acabei saindo no final do meu contrato. Esse meu período, que durou dois semestres aproximadamente, foi marcado pelo apoio do meu agora colega Elimar Trein. Um apoio firme e amigo, do qual eu jamais me esquecerei.

3 comentários:

  1. Muito bonita e tocante a homenagem ao seu professor!

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    1. Muito obrigado, Edson! (Aliás, saudade de teus comentários!). Elimar Trein foi uma pessoa muito importante pra mim, mesmo.

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    2. Apenas um detalhe: ñ se tratava de um monomotor, mas sim, um Catalina, bimotor. E a mala não estava abarrotada de dinheiro, mas de livros, mtos considerados subversivos à época.

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