domingo, 7 de outubro de 2018

OS BOLSOMINIONS E O SENSO COMUM


Existem ideias que parecem simples. O mundo é simples e fácil de resolver.  Parece que sempre foi o obvio e nós, burros que somos, jamais vimos a verdade ali, na nossa frente. Parecem geniais, estas ideias. Mas não são. Muitas destas genialidades foram ditas por eleitores de Messias Bolsonaro no ultimo mês. 

Uma delas é a questão da violência. Como numa conversa de bar, o cara se posiciona, firme: “tem que botar mais polícia!”. A evidência empírica mostra que mais policia não resolve. Resolve aqui, não resolve ali, e a violência continua tudo igual.
O cara do bar retruca: “tem que botar o exército!”. Que ideia genial! Porque não pensamos nisso antes? Em minha vida cheguei a ver três intervenções do exercito no Rio de Janeiro. Se intervenção militar resolvesse, o Rio seria uma Suíça. Mas não é. Ou é?
Bandido bom é bandido morto. Quem nunca ouviu essa platitude? Parece simples, como num faroeste: tem os mocinhos e tem os bandidos. Os bandidos, é claro, tem todos os defeitos do mundo. Os bandidos são facínoras e sem piedade. O mocinho consegue matar 10, 100, mil, e ainda vai ganhar o beijo da mocinha ou a benção do padre.
Neste mundo tão simples, não cabe complexidade. Por que será que a maior parte das vitimas da polícia são jovens negros? O cara do bar hesita em sua resposta, porque vai entrar no terreno do preconceito. O cara do bar, que não é o general Mourão, tem algum filtro do que fala. Não vai fazer nenhum discurso justificando a violência pela “raça” da vítima, alguma falta de “caráter”, nem falar sobre a “malandragem dos negros”, como fez o general Mourão. Mas pensa. Você pode imaginar o que ele pensa? Ou no que ele vota?
Ideias simples, muitas vezes cheias de informações falsas e preconceitos sempre existiram. Falar de segurança publica não é tarefa para o cara do bar. Por que a criminalidade hoje mudou das grandes para as pequenas cidades? Porque mudou dos grandes centros para o norte e nordeste? Como deter o tráfico de drogas? Como lutar contra as milícias?
Nenhuma destas questões tem uma resposta simples. Muitas soluções já foram tentadas. A maior parte, envolvendo mais armas, mais violência, mais guerra. E a violência não para de crescer. O homem do bar não sabe o que fazer.
Aí entra o medo. O discurso do medo. Todos precisamos nos armar. Outra ideia simples e aparentemente perfeita. No entanto, sabemos que aumento dos homicídios por armas de fogo em razão da ausência de políticas específicas (veja aqui). Como resolver isso? Com políticas de segurança.
Mais ciência e menos Chuck Norris.
Mas o homem do bar não se convence. Ele conhece zil e um exemplos de que isso não funciona. E insiste nas ideias simples e de fácil implementação, fáceis como um chá de boldo pra curar a ressaca.
São ideias do senso comum. Se te disserem que um peso com penas e um peso de chumbo caem com a mesma velocidade você acredita? Parece óbvio que o peso de chumbo cai mais rápido. Você está vendo isso. Mas não é. Galileu precisou de muita experimentação para provar isso.
Levar o conhecimento acima do senso comum, da observação simples. Soluções negociadas e complexas para problemas complexos. Pensar com ciência e criatividade. Em lugar disso, você vê uma fala vazia de conteúdo e cheia de emoção. Quando não, ódio.
Insistir em senso comum e ideias simples como as disseminadas no último mês nos levam a mais do mesmo. Ou vamos daqui a quatro anos trocar as fraldas e os políticos pela mesma razão, como disse Eça de Queiroz numa placa de caminhão.  
Se daqui a quatro anos ainda houver democracia, essa coisa tão esquisita e tão longe do senso comum....


Nenhum comentário:

Postar um comentário