segunda-feira, 1 de outubro de 2018

O CANDIDATO QUE NÃO AMAVA AS MULHERES



Os bolsonaristas que saíram as ruas no domingo foram dispersados, em São Paulo, por uma forte chuva. Problemas com São Pedro, talvez? Mas, ainda assim, mesmo molhada, a manifestação dos bolsonaros foi uma manifestação muito grande. Foi uma reação contra as grandes manifestações anti-bolsonaro deste sábado, que reuniram centenas de milhares (milhões?) de pessoas pelo país. Principalmente mulheres.
Por mais que se grite e esperneie contra o Coiso, a grandereação contra o capitão reformado parece ser mesmo a feminina. Os números gritam: cerca de 50% das mulheres não votariam “de jeito nenhum” neste candidato, contra 33% dos homens.  
Recentemente, o jornal El Pais comparou o movimento das mulheres contra Bolsonaro com a história lendária da Hidra de Lerna, a que se cortava uma cabeça e cresciam várias. O ataque dos grupos bolsonaristas à página “mulheres contra Bolsonaro” no Facebook deu impulso não só ao grupo, mas também incentivou o surgimento de outros grupos e deu ânimo para as manifestações de rua deste último fim de semana.
Esta rejeição é muito bem explicada. A misoginia do discurso bolsonarista não conhece limites. É famoso o seu discurso do “não te estupro por que você não merece”, contra a deputada Maria do Rosário. É uma fala das cavernas. O estupro como forma de punição, como houve nas sociedades primitivas, juntamente com a diminuição da oponente mulher: nem isso você merece.
Alias, desmerecer mulheres é uma pratica desse discurso: a tal da “fraquejada” do capitão reformado teria gerado sua única filha mulher. Outra vez a afirmação do feminino como o fraco, o inferior. Tal desmerecimento tambémse reflete nos salários inferiores recebidos pelas mulheres, conforme já explicou o douto candidato: “Afinal, elas engravidam...”
Por isso e muito mais, não se espere que as mulheres se encantem pelas propostas do capitão. Ali somente há mais do mesmo: depreciação, aviltamento, subordinação. Tudo coisas que a sociedade já jogou e está jogando na lata de lixo dos costumes.
 Mas o bolsonarismo é persistente: numa fala recente o deputado E. Bolsonaro também citou que, ao contrario das mulheres de “esquerda”, que repudiam a candidatura de seu pai são menos higiênicas que as mulheres de direita. Nada mais fascista que um discurso higienista. A fala do bolsonarismo, enfim, é um discurso de ódio e aversão às mulheres.
As mulheres que, aliás, já tem muitos outros problemas em viver num mundo machista e patriarcal. Agora, tem ainda que se preocupar com um candidato a presidente misógino. Há a violência cotidiana, a violência doméstica. Há a violência nas ruas. Há a violência do mundo do trabalho. Tudo isso, não vê quem não quer, impacta também nossa economia e nossa sociedade.
 E ainda vem o tal vice, o general Mourão, a dizer mais uma de suas “pérolas”: famílias lideradaspor mulheres são “fábricas de desajustados”. Como se não bastasse toda a carga sobre as mulheres, ainda sobra a culpa pela crise da sociedade na qual elas não mandam.
Essa carga e esse discurso estão se refletindo agora nas urnas. O capitão e seu vice general tem muito com que se preocupar. Afinal, elas são a maioria. E sabem muito bem qual a carga que pesa, qual a fala que fere, qual a violência que mata.
O capitão e todos os que acham esse discurso “politicamente incorreto” e “lacrador” bacana, que coloquem suas barbas de molho. É muito fácil falar isso em rodinhas de homens. Nestas rodas, em geral, ganha quem mais se mostrar cruel e misógino. Quem contar mais barbaridades, ganha uns risinhos de aprovação e uns comentários maldosos. É o cara. Pois não é.
(Eu já frequentei essas rodas. Eu mesmo já fiz comentários deste tipo. Fui criado num ambiente machista. Eu mesmo sou e tenho muitas atitudes machistas. Estou aprendendo a não ser, com ajuda de todas as mulheres com quem convivo. Também acho que o mundo deve caminhar numa outra direção. Eu quero um mundo onde o feminino e o masculino e outras orientações sexuais possam viver em paz.)
A realidade é bem outra. Somos uma sociedade de mulheres forte e de homens infantilizados. Muitos desses homens aí até sabem fazer um churrasco, mas não sabem esquentar papinha de bebê. Nas rodinhas de homens que temos hoje, quantos não são os bolsonaros, contando suas safadezas e mesquinharias com mulheres como se fosse uma busca pelo Graal? Enquanto isso, lá estão elas, em casa, a cuidar da vida e da família, e até deles mesmos.
É o mundo das famílias sem homem, tanto real quanto virtualmente. Só não sabe disso aquele mundinho de testosterona e misoginia que são os quartéis. Ah, os quartéis! Alguns destes homens, vivendo nesta bolha, até se acham e se intitulam “homens de bem”!
Os homens como chefe de família são mais raros que no passado. Ao contrário do que disse o general Mourão, o que há é um país onde as mulheres já são 40% dos chefes de família. E na maioria das vezes dão conta do recado, apesar dos pesares.
Por tudo isso, temos um embate inédito nestas eleições. Um embate entre a sociedade contra uma visão de mundo. Uma sociedade majoritariamente feminina. Que não é monocrática, nem unitária, nem partidária. A espinha dorsal deste movimento, desta vez, são elas.
O espaço que a sociedade está colocando para todos aqueles que queiram mandar, ordenar regulamentar ou violentar o corpo das mulheres está ficando cada vez mais estreito. Isso não se dá por ideologia, ou por politica institucional. Isso vem se dando por ações políticas no nosso cotidiano. Não dá pra fingir que isso não existe. O empoderamento feminino veio para ficar.
O mundo dos candidatos que não amam as mulheres está com os dias contados.

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