O começo dos pampas, perto de Encruzilhada do Sul ( RS) |
Tirei umas
ferias do blog, mas estou a mil por hora. Andei fazendo uma viagem de estudos
ao Rio Grande Do Sul no começo do ano, interessantíssimo. Fizemos um trabalho
de campo na região da campanha, entre Encruzilhada do sul e Piratini, a antiga
capital Farroupilha. Descobri que o Rio Grande é terra de macho: de dia, está
38 graus à sombra, e, de noite, o vento no lado da coxilha te dá uma sensação
de 15º. Tem de botar blusa, ou o frio te pega. Ou seja, é um clima de quase
deserto, o pampa. E a turma lá, toda piuchada, tomando mate e guentando firme
aquele solzaço na nuca. Coisa de macho, fui obrigado a concordar. Senti saudades do cerradão de Goiás, onde de
noite sopra um vento fresco, sem trocadilho.
Piratini é
uma bela cidadezinha no alto de uma colina. Lá, se diz coxilha. Tem muito
prédio histórico, igrejas bonitas e uma visual maravilhoso. Entre todos os
prédios, destaca-se o antigo palácio onde Bento Gonçalves, Netto e Canabarro
comandavam a República Riograndense contra os soldados imperiais. Um prédio
simples, mas muito bem cuidado. No entanto, senti falta de um bom museu. Uma
cidade com tanta historia deveria ter um museu pra que nós, simples mortais,
tomemos conhecimento das coisas que ali se passaram. Mas nada, um prédio só, e
ainda por cima fechado no domingo.
Isso pra
uma cidade que na Semana Farroupilha, em 20 de setembro, recebe cerca de 80 mil
guascas de todo o estado e mesmo de todo o Brasil. Dá pra imaginar a
Deitada-a-beira-do-mar com tanta gente? No entanto, nisso a cidade é um fiasco,
não tem hotel nem pra cem pessoas, que dirá pra cem mil. Os caras têm que ser
garrudos e acampar mesmo, e torcer pra não gear no fim de setembro. Coisa de
macho. Falta uma Secretaria de Turismo por ali. Alguém da terrinha se
candidata?
No caminho
de volta, uma placa me deixou desconfiado: de um lado, a placa apontava
Pelotas; para o outro lado, era o sentido de Bagé. E agora, caboclo? Questão
existencial das mais ardidas essa que nos coloca a tal da RS-114. Qual o rumo a
tomar? Entre um destino e outro, todas as cores do arco-íris...
Qual o rumo
que tomei? Ora, fui pra Pelotas! Pra quem, como eu, mora em Campinas, digamos
que é a mesma coisa, nada mudou. Pelotas pra além da caricatura é uma baita
duma cidade, cheia de comercio, indústria e cultura. E, claro, cheia de prédios
velhos, de um passado colonial de uma terra tão rica que a tornou famosa no Rio
Grande como a terra dos almofadinhas educados em Paris. Pros guasca de Bagé era tudo viado, claro.
Enfim, foi
muito divertido trabalhar por lá. É um povo sofrido, o do pampa, mas que é
guerreiro por natureza, sabe lidar com as adversidades do clima e do trabalho
campeiro. Trabalho esse que mudou muito, hoje tem plantação de pinus e
eucaliptos de monte no meio do mato. E o mato não é só campo, em também um mato
baixo que parece o mato de maricá que dá nas varzes de antonina: umas árvores
enfezadas, ceias de espinhos, baixinhas e difíceis de passar. Quem aí se
lembrou da caatinga lembrou certo, esse é o pampa gaucho. O que um bagrinho
como eu foi fazer por lá? que coisa, tchê!
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