quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

UM BAGRE NOS PAMPAS


O começo dos pampas, perto de Encruzilhada do Sul ( RS)

Tirei umas ferias do blog, mas estou a mil por hora. Andei fazendo uma viagem de estudos ao Rio Grande Do Sul no começo do ano, interessantíssimo. Fizemos um trabalho de campo na região da campanha, entre Encruzilhada do sul e Piratini, a antiga capital Farroupilha. Descobri que o Rio Grande é terra de macho: de dia, está 38 graus à sombra, e, de noite, o vento no lado da coxilha te dá uma sensação de 15º. Tem de botar blusa, ou o frio te pega. Ou seja, é um clima de quase deserto, o pampa. E a turma lá, toda piuchada, tomando mate e guentando firme aquele solzaço na nuca. Coisa de macho, fui obrigado a concordar.  Senti saudades do cerradão de Goiás, onde de noite sopra um vento fresco, sem trocadilho.  

Piratini é uma bela cidadezinha no alto de uma colina. Lá, se diz coxilha. Tem muito prédio histórico, igrejas bonitas e uma visual maravilhoso. Entre todos os prédios, destaca-se o antigo palácio onde Bento Gonçalves, Netto e Canabarro comandavam a República Riograndense contra os soldados imperiais. Um prédio simples, mas muito bem cuidado. No entanto, senti falta de um bom museu. Uma cidade com tanta historia deveria ter um museu pra que nós, simples mortais, tomemos conhecimento das coisas que ali se passaram. Mas nada, um prédio só, e ainda por cima fechado no domingo.
Isso pra uma cidade que na Semana Farroupilha, em 20 de setembro, recebe cerca de 80 mil guascas de todo o estado e mesmo de todo o Brasil. Dá pra imaginar a Deitada-a-beira-do-mar com tanta gente? No entanto, nisso a cidade é um fiasco, não tem hotel nem pra cem pessoas, que dirá pra cem mil. Os caras têm que ser garrudos e acampar mesmo, e torcer pra não gear no fim de setembro. Coisa de macho. Falta uma Secretaria de Turismo por ali. Alguém da terrinha se candidata?
No caminho de volta, uma placa me deixou desconfiado: de um lado, a placa apontava Pelotas; para o outro lado, era o sentido de Bagé. E agora, caboclo? Questão existencial das mais ardidas essa que nos coloca a tal da RS-114. Qual o rumo a tomar? Entre um destino e outro, todas as cores do arco-íris...
Qual o rumo que tomei? Ora, fui pra Pelotas! Pra quem, como eu, mora em Campinas, digamos que é a mesma coisa, nada mudou. Pelotas pra além da caricatura é uma baita duma cidade, cheia de comercio, indústria e cultura. E, claro, cheia de prédios velhos, de um passado colonial de uma terra tão rica que a tornou famosa no Rio Grande como a terra dos almofadinhas educados em Paris. Pros guasca de Bagé era tudo viado, claro.
Enfim, foi muito divertido trabalhar por lá. É um povo sofrido, o do pampa, mas que é guerreiro por natureza, sabe lidar com as adversidades do clima e do trabalho campeiro. Trabalho esse que mudou muito, hoje tem plantação de pinus e eucaliptos de monte no meio do mato. E o mato não é só campo, em também um mato baixo que parece o mato de maricá que dá nas varzes de antonina: umas árvores enfezadas, ceias de espinhos, baixinhas e difíceis de passar. Quem aí se lembrou da caatinga lembrou certo, esse é o pampa gaucho. O que um bagrinho como eu foi fazer por lá? que coisa, tchê! 

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