terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

EM PIUMHI

No alto da Serra da Pimenta. No fundo, o lago da Represa de Furnas. 
 Escrevo da cidade mineira de Piumhi, onde estou faz uma semana acompanhando os trabalhos de mapeamento geológico dos alunos de geologia. Piumhi é uma simpática cidade de trinta mil habitantes situada próxima das nascentes do rio São Francisco e próximo da represa de Furnas. A cidade tem um bom comercio e está se iniciando no turismo, com o aproveitamento do potencial do lago da hidroelétrica de Furnas. Aqui tem solos bons pra agricultura, fruto da decomposição de lavas antigas, uma das mais antigas que se conhece no Brasil e no mundo.
Estes terrenos como o de Piumhi são muito procurados tanto pelo aspecto de representarem uma oportunidade de aprendermos um pouco mais como era o nosso planeta em seu inicio. Hoje sabemos que ele era muito mais quente. As lavas que temos aqui são lavas magnesianas, que dão um solo danado de bom pra agricultura. Sabemos também, pela existência de estruturas em almofada que vemos em alguns lajedos do rio, que estas lavas foram formadas debaixo d’água, de algum oceano primitivo. A idade mínima para estas lavas é de 3,16 bilhões de anos – para uma comparação, a terra tem por volta de 4,5 bilhões de anos.  
O entorno da cidade, onde estamos trabalhando, é muito bonito, com campos verdes e altas serras, onde ocorre uma bela vegetação de cerrado. Adoro o cerrado, desde os tempos em que trabalhei em Goiás. O cerrado é uma formação vegetal muito bonita, com suas arvores retorcidas e suas plantes de flores pequenininhas.aqui e ali, vêem-se blocos e lajes de rocha esbranquiçada que chamamos arenitos. Por ai, dá pra ver que, embora trabalhando, e trabalhando muito catando amostras de rochas por estas serras, estou também me divertido muito.
Em geral acordamos vedo, tomamos um café e pegamos a estrada. Alguns podem ir em veículos maiores. Outros, que estão trabalhando em áreas mais retiradas, têm que ser levados em caminhonetes. O trabalho se faz, tenha sol ou tenha chuva, subindo e descendo morros. Atravessando rios, cortando as veredas (formações de mata-galeria) anotando, descrevendo e medindo as rochas, no final, fazemos um mapa com as ocorrências de rocha e solo da área. Quando disponível este mapa servirá de base para outros mapas – como os mapas de risco que a MINEROPAR fez aí na terrinha. Estes mapas também são usados na investigação de jazidas minerais, na obtenção de água subterrânea, de óleo e gás, de uma série de coisas.
Detalhe das lavas de mais de 3,16 bilhões de anos...maravilha!
Os meninos da geologia estão se esforçando. O trabalho é duro, envolve muito esforço físico e tenacidade. Pegamos uns dois dias inteiros de chuva, mas o trabalho correu normal. Sempre aparece um que se fere com estilhaços de rocha, é picado por abelhas, formigas e mosquitos. Mas, no fim, tudo termina bem. Todos voltam cansados, mas felizes com o trabalho bem feito.
Quanto mais eu fico velho mais me ocorre a necessidade que temos de formar pessoas, e formar pessoas melhores que nós. Precisamos tanto...saúde, educação, desenvolvimento tecnológico...são tantas as áreas que precisamos avançar, e, apesar de estarmos nos últimos anos finalmente avançando depois de mais de vinte anos parados no mesmo lugar, estamos avançando muito pouco. Com isso, me remeto à minha cidade, aos meus conterrâneos em sua bela baia: como vai a educação na Deitada-a-beira-do-mar? Será que está tudo bem? As vezes, tudo bem não é a normalidade, mas sim a preocupação com o futuro. Se não estivermos de olhos atentos, e somente olhando o ir-e-vir da maré, estaremos perdendo pontos importantes na corrida rumo ao futuro. O futuro que é deles, os jovens de hoje, mas que só será algo se nós nos movermos agora. O futuro é já. 

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