A Praça Carlos
Cavalcanti, em Antonina. A foto é antiga. Talvez seja uma das fotos do folheto propagandístico
do Dr. Heitor Soares Gomes, o prefeito municipal do período mais pujante da
Deitada-à-beira-do-mar, no inicio do século XX. A foto, portanto, pode ser de
meados dos anos 20. A
foto original do PowerPoint era um xerox velho, apagado e manchado assim como
nossa memória. A foto estava em algum fichário antigo, desses de furar, pois se
vê dois furos na lateral esquerda da foto. Por baixo, um belo pedaço de papel
tigre (o qual, se faz favor de explicar, porque era que o papel tigre era papel
verde?). Enfim, antigamente, meninos, papel tigre, esse papel verde aí era o
papel de que se encapavam os nossos cadernos de escola. Encapar cadernos? Alguém
ai se lembra do que é?
De quando é
a foto? Parece bem antiga. O chafariz estava sendo construído, talvez. Não há
ali nenhum sinal das arvores da praça, as quais conheço bem. O coqueiro, ao que
tudo indica está mais baixo, era um jovem ainda, não a grande e imperial
palmeira que nos embeleza a praça. Hoje, de tão alto, o coqueiro sequer
apareceria nesta foto, pelo menos não por inteiro. Atrás de tudo, ao fundo, está
o mato do morro, o mesmo mato do morro que está ali desde os imemoriais tempos
do onça. Do buraco da onça.
Dominando a
foto, e a praça, está o belo prédio neoclássico da estação ferroviária. Belo,
com suas colunas coríntias (sem qualquer trocadilho) seus grandes janelões,
seus capitéis e seu belo relógio. Aliás, como sempre perguntava meu pai, onde
foi parar o relógio da estação? Tudo podia parar, menos o relógio da estação,
qual Big-Ben dos bagrinhos do século XX, marcando o horário de chegada e
partida dos trens. Onde anda o tal relógio? Será por isso que parece que o
tempo na cidade parou, ou caminha mais devagar? Onde está o relógio? Onde estão
os trens?
A Praça Carlos
Cavalcanti pra mim ainda é a “Pracinha da Estação”, onde brincávamos de um
monte de coisa, onde jogávamos bola, com meus amigos Zé Paulo Azim, Marcos
Cruz, Robertinho, Lídio, Valmor, Jorginho Fayad e tantos-tantos outros. Ali naqueles
bancos também dei minhas primeiras paqueradas, as primeiras e timidíssimas
tentativas de entender – quem há de? – o universo feminino. Tempos bons, os da
juventude. Ainda bem que desperdiçamos esse
tempo tão bom em andar de bicicleta, jogar bola (muito) e namorar (pouco).
No entanto, lamento dizer, não gosto desta
foto. É de uma praça que ainda não era nossa, de um tempo que parece que não tem
gente. É foto de propagando política, estão mostrando as obras de um prefeito realizador,
por isso mostram obras e prédios, com o coqueirinho ainda tímido do lado e o
mato verde e exuberante no fundo. Na frente, os tijolos, o cal, as coisas em
trânsito de se fazerem. O progresso, como um novo Fausto, vendendo a alma à Don
Lúcio Fer por um punhado de votos, ou um mandato de deputado estadual. Merrequinhas.
De que nos importa isso? O que vale são as crianças brincando, os velhos
descansando, os turistas passando ali e vendo o conjunto arquitetônico do Dr
Heitor Soares criando a Antonina mítica que nós, do final do século XX pra cá
nunca vimos mas sempre sonhamos. Repito: não gosto da foto da praça vazia. Sem
gente, a pracinha da Estação não tem graça.
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