terça-feira, 28 de janeiro de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 47: OS BORRACHUDOS DE SEROPÉDICA


Faculdade de Zootecnia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Os escoteiros passaram por aqui em 1942 durante a construção destes prédios magníficos

(Estamos no mês de janeiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 28 de janeiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) desceram a Serra e estão em Seropédica, quase chegando no Distrito Federal.)

Ainda estava escuro quando Canário, Milton, Manduca, Lydio e Chefe Beto voltaram a caminhar. Os rapazes de Antonina caminharam até as dez da manhã. Nesta hora, o sol começara a esquentar demais o asfalto, e estragava as botinas com que eles caminhavam. 

O asfalto derretia a ponto de afundar com a simples passagem dos carros. Podia-se facilmente ver as marcas dos pneus no piche quente. Os próprios motoristas já sabiam disso. Neste horário, são raros os veículos que transitam por ali. Com todo aquele calor, o rendimento dos motores diminuía. O desgaste poderia mesmo fundir algum motor e, desta forma, acabar com uma viagem. 

Logo mais, eles avistaram vários edifícios em construção à beira da estrada. Quando chegaram mais perto, perguntaram a um trabalhador da conserva da estrada o que vinha a ser aquilo, e ele respondeu somente: “É uma construção do governo”. 

Não contentes com o laconismo do homem, eles resolveram perguntar mais. Logo souberam que ali estava sendo construída uma faculdade de Agronomia e Veterinária e também um curso de Meteorologia. 

Outros edifícios menores estavam sendo construídos também, como o prédio do serviço Nacional de malária e outro menores. Também havia um posto fiscal de saúde e um alojamento para os Mata-mosquitos da Guarda Sanitária. 

Este é o local onde se situa hoje a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Fica no distrito de Seropédica. É uma das maiores e melhores universidades públicas do Brasil. Apesar de ser uma ditadura e das mais ferozes, o Estado Novo tinha um projeto de país e, ao invés de destruir, construía universidades. Outros tempos... 

Os rapazes fizeram amizade com os guardas sanitários que estavam por ali. Eles advertiram para que não caminhassem no período de sol mais forte, por causa do perigo de insolações. Obedientes, os rapazes almoçaram ao meio dia e descansaram toda a tarde. As três tomaram uma chuveirada pra espantar o calor e as 16 tiveram um jantarzinho. 

Os guardas sanitários ainda trocaram os bornais dos rapazes, que eram de pano, por bornais de lona, mais resistentes. Os bornais velhos estavam começando a estragar. Muito agradecidos aos guardas sanitários, eles ainda ganharam sanduiches para o lanche da noite. 

Ao fim do dia, recomeçaram a marcha para alcançar alguma localidade onde pudessem pernoitar com segurança. A escuridão era muito grande, e logo nuvens de mosquitos vieram a importunar os rapazes. Tinha de tudo. Os mosquitinhos pólvora eram os mais doídos, deixando pequenas feridas vermelhinhas, ao redor das quais sempre dava muita coceira. 

Precavidos, os rapazes tinham comprimidos de Aralem, que tomavam para evitar os mosquitos transmissores da febre amarela e da malária. Era preciso cuidar. Estavam chegando e não queriam nenhuma baixa na equipe. 

Chegaram na famosa reta do Guandu, com 8 quilômetros de extensão, e só pararam na ponte do rio Guandu, ou ponte Victor Konder. Ali, tiveram que fazer uma fogueira para fazer fumaça e espantar os mosquitos infernais. Do ponto onde estavam, eles avistaram a estrada de ferro do Laguinho e viram ao longe as Luzes da cidade de Nova Iguaçu. 

A escuridão era muito grande. A cerração ia baixando e eles não conseguiam enxergar mais muito a frente. Mas eles estavam no pique, e caminhavam. Na ponte sobre o Rio Guandu mirim, ou ponte Washington Luiz, eles atravessavam a última divisa importante a do estado do Rio com o Distrito Federal. Faltava pouco, pouco mais de 50 quilômetros!

Ainda caminharam mais um pouco. Cruzaram Santa Cruz e dormiram em Campo Grande, onde pararam para pernoitar num posto policial posto a disposição deles. Pelo telefone, eles comunicaram vários veículos de imprensa de sua chegada iminente à Capital Federal.

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