Antigo Portal da cidade: por aqui passaram os escoteiros no primeiro dia de sua marcha |
(Estamos no mês de dezembro de 1941. Enquanto o mundo está em
Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de
Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão desde 16 de dezembro de 1941 numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro
para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 17 de dezembro de 1941, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca)
estão iniciando a marcha pela perigosa estrada do Curitibaiva.)
No primeiro dia, os rapazes caminharam somente 4 quilômetros.
Mas, também, o dia havia sido cheio, com alvoradas, foguetórios, desfiles,
despedidas. As 17:40, segundo o relógio de pulso de Lydio, eles montaram
acampamento ainda na estrada da Graciosa, numa Olaria de propriedade dos irmãos
Vieira.
Três colegas foram de bicicleta passar a noite com eles:
eram Lourival Silva, que era também, como Lydio, remanescente do Raid Antonina-Curitiba, mais Alceu
Nascimento e Walter Vieira. Nesta primeira noite, o lanche dos rapazes e seus visitantes foi um café com
leite condensado e bolachas de mel.
Durante a noite, foram feitos turnos de guarda de 2 horas
cada um. No meio da noite, durante a guarda de Manduca, um burrico que estava
por ali deu um relincho. Manduca deve ter se assustado, e o burrico mais ainda.
Para desespero de manduca, o pobre animal acabou dentro da Olaria, derrubando
tijolos por todos os cantos. Com o barulho, todos se levantaram e ajudaram Manduca a tirar de lá de dentro o burrico, antes que o estrago ficasse maior.
Mais umas risadas, e todos voltaram a pegar no sono.
De manhã cedo, os rapazes se despediram dos três colegas e
tomaram a estrada do Curitibaiba. Era muito barrenta, cheia de charcos, e o
calor estava grande. As 11 horas, eles já estavam no Morro Grande, onde fizeram
um pouso na casa do senhor Bernardo Moreira. Ali, na fresca, tomaram um bom chimarrão
e almoçaram uma farofa de frango que Milton havia trazido.
Acabaram por visitar o engenho de aguardente de seu Bernardo,
e se impressionaram com a engenhosidade da roda d’água, que movimentava todos
os maquinários do engenho. Em vez de aguardente, os rapazes aproveitaram a
garapa que um empregado do senhor Moreira fez exclusivamente para eles.
Pouco depois, de volta a estrada, eles já estavam no rio do
Meio. Depois de atravessar o rio, os rapazes deram uma descansada. Chefe Beto,
com seu uniforme que, segundo Lydio, lhe dava o ar de um oficial inglês,
deitou-se na grama e pôs se a fumar seu cachimbo. Pra espantar os mosquitos,
segundo ele. Lydio observou que as baforadas que ele dava erguiam-se rápido no
calor da tarde.
As 14:30 chegaram na venda do senhor Mokito Yassumoto, no
Cacatu. Lá, compraram algumas coisas e seguiram adiante. Manduca e Canário
andavam a maior parte do tempo descalços pelo caminho, sem machucar os pés. De
todos, quem mais tinha esta capacidade era Canário, que podia caminhar a maior
parte do tempo assim descalço. Já os outros, calçavam “sapatos-tênis”, mais
confortáveis.
Mais alguns quilômetros adiante, os rapazes passaram pela
fábrica de papelão e pasta mecânica do Dr Italo Pellizi. O sol estava tão
quente que eles ficaram um pouco à sombra do portão da fábrica. Ali,
encontraram um caboclo, que ensinou aos rapazes (tintim por tintim, como anotou
Lydio) sobre o caminho que os levaria para o outro lado da Serra.
Quando chegaram no Rio cachoeira, Lydio sugeriu que eles o
atravessassem a nado. Milton, mais ponderado, fez ver aos companheiros que ali
tinha muita correnteza. O Rio, segundo ele era muito profundo por ali. Ficaram
um tempo esperando um canoeiro que os atravessasse. Quando, depois de algum
tempo, o canoeiro chegou e procedeu a travessia, os rapazes ficaram muito
felizes com a pequena aventura náutica. Agradeceram ao canoeiro e se puseram a
caminhar. As 17 horas, chegaram na fazenda Santa Olympia de propriedade do
Senhor Ymaguti.
Nesta fazenda tinha um posto telegráfico. Chefe Beto
comunicou a chegada e informou que estava tudo bem com eles. O senhor Ymaguti e
sua esposa receberam os rapazes, alojaram-nos num cômodo de sua própria casa e
lhes ofereceram um jantar.
Nesta noite, com o corpo todo picado de mosquitos e com
muitas dores lombares e pés inchados pelo peso que carregavam, os rapazes
dormiram um sono dos bons.
Que riqueza de detalhes. Abraço!
ResponderExcluirValeu, Edson...é trabalho, só trabalho!!
ResponderExcluirShow! Nao sabia que timgam ido por este caminho. 👏👏👏
ResponderExcluirSim, Renato; não sei exatamente porque, mas foi por aí...
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