quarta-feira, 12 de junho de 2019

UMA TARDE EM GOLDEN - Diários (norte) americanos 4


Feirinha semanal de produtos naturais em Golden; ao fundo, as capas de basalto mesozoico, parecendo muralhas;
Depois de alguns contratempos, consegui achar o alojamento estudantil da Colorado School of Mines, onde me encontro agora. A princípio, ninguém dos meninos na recepção do campus sabia do que se tratava. Foi uma pesquisadora que estava por ali, a Nicole, que tratou de me levar ao alojamento. Viva Nicole! Agora, finalmente, estou em casa em Golden.
No dia seguinte, sai para conhecer o campus da Colorado School of Mines. É um campus muito bonito, e bastante grande.  Tem várias e várias quadras, bem típica do que se conhece dos campi americanos, com prédios,  grama e ruas arborizadas e tranquilas. Dispersos pelas quadras, estão prédios de vários institutos. Achei o prédio da Engenharia de Minas, que é o carro chefe da escola, e o prédio da Geologia e da Química. Tem também a sede local do Serviço Geológico Americano, o USGS.
Aqui, pelo que me falou Frances Renger, geólogo do USGS, aqui em Golden trabalha uma equipe de cerca de 100 pessoas que é responsável pela parte de escorregamentos – que é o motivo do simpósio para o qual estou aqui – e um centro de estudos de terremotos, referência no país. O USGS é uma das grandes referencias mundiais da geologia.
A missão do USGS, gravada no seu logo, diz tudo: Ciência para um mundo em transformação. Pra nós, na insondável e elegível burrice que nos assola, parece coisa de outro mundo. Estamos, no Brasil, destruindo literalmente nossos serviços geológicos. Fazendo conhecimento virar pó. Por aqui, com Trump e com tudo, o USGS tem trabalhos técnicos em diversas áreas, inclusive em educação. E tem um papel importante nas decisões do governo federal relativas à geologia e ao meio ambiente. 
O campus da Colorado School of Mines é todo gramado e arborizado, limpinho e cheio de esculturas. Algumas de bom gosto, outras nem tanto. Tem prédios desde 1874, quando a escola foi fundada, até prédios modernos ainda em construção (só pra lembrar: nossa mais antiga escola de minas, a Escola de Minas de Ouro Preto, é de 1876). 

Alguns destes edifícios mais antigos apresentam na fachada colunas coríntias cheias de adornos e enfeites. Em geral, não gosto muito destas fachadas grandiosas, barrocas. Entretanto, os estilos são os mais diversos, desde o neoclássico mais feioso até o moderno mais esquisito. Outros, que parecem ser dos anos 80 parecem os nossos indefectíveis “pinotinhos”, só que mais grandiosos.
Saí para andar pela cidade de Golden. Ela é muito limpinha e organizada. Ruas que se cruzam em ângulo reto, fachadas meio feiosas, mas charmosas, lembrando o estilo velho oeste. Nas calçadas e nas casas, inúmeras decorações com um arenito vermelho muito característico da cidade. Na avenida Washington há uma grande instalação com as inscrições “Welcome to Golden”. De tão brega até parece bonita.
Logo depois, cruza-se a ponte do Clear Creek. É um rio de montanha, com forte correnteza e cheio de blocos de pedra. De rocha, perdão! A água não está muito clara, apesar do nome do rio.  Nesta época do ano, uma época chuvosa nas montanhas, o degelo ainda está operando forte. Logo, a água tem uma cor vermelho sujo.
Era um sábado ensolarado. Havia uma feirinha de produtos naturais num espaço aberto. Barraquinhas organizadas, vendendo desde frutas (poucas), verduras e legumes orgânicos, além de pães de todos os tipos. Não vi comida mexicana. E ainda haviam barraquinhas de mel, artesanatos, produtos esotéricos. Tudo o que uma feirinha tem direito. Bem limpinha e arrumadinha. 
Havia muita gente no parque, ao longo do rio. Gente passeando com cachorro, de bicicleta, a pé. Famílias, casais, grupos de amigos. Um grupo de bombeiros (acho que voluntários), todos de camiseta vermelha, estavam tendo alguma espécie de aula de campo observando o Clear Creek e sua correnteza. Mais acima, havia pessoas fazendo boia cross e canoagem. Um destes fazia proezas admiráveis com seu pequeno caiaque, numa pequena queda do rio, mantendo-se sempre no lugar e dando cambalhotas, virando de um lado para outro. Muita gente parou para ver. Eu incluído.
O entorno da cidade, que fica numa vale, é composto por grandes muralhas de basalto. Uma delas se destaca, por parecer uma pequena mesa. Dão um toque geológico especial para a pequena Golden, tão ligada á geologia e à história da mineração.
A tarde estava bonita, mas eu precisava descansar. O dia seguinte seria intenso, com a nossa excursão para as rochosas, para ver os grandes fluxos de detritos por lá. Voltei para o alojamento e procurei dormir o sono dos justos. Justamente.  

Um comentário:

  1. Adorei os relatos e "corri" ao Google Earth para visualizar a instalação de boas vindas a Golden. Ansiosa para ler o relato do grandioso campo nas Montanhas Rochosas! Beijo

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