briga de nuvens no céu de Denver, Colorado |
Para quem estava apreensivo com a viagem até Denver, tudo
correu direitinho. Fui um dos últimos a entrar, depois de ser chamado e
verificado pelos funcionários da companhia aérea. Depois de olhar tudo, listagens,
cartões de embarque e passaporte, me colocaram na rampa de acesso com um “nice
trip, Mr Picano!”. Não perdi tempo, e corri para o avião.
O voo para Denver foi tranquilo. Espremido entre dois adolescentes,
que só tinham olhos e ouvidos e tudo o mais que que se queira para seus
celulares, fiz uma viagem tranquila, lendo meu livrinho e vendo umas comédias
no avião.
A paisagem era monótona, uma grande planície que se estendia
até onde a vista alcançava. Ao redor de Dallas não se via muitos sinais de
agricultura. Só mesmo perto de Denver é que o ambiente ficou mais verde. Era uma
grande colcha de retalhos com quadrados ora mais ora menos verdes e alguns
circulares, por conta dos pivôs de irrigação.
Quando o avião virou pra aterrissar é que vi pela primeira vez
as Rochosas. Um espetáculo fascinante, uma grande barreira azulada ao fundo,
onde termina a grande planície. Aqui e ali, alguns picos nevados. Picos nevados
dão uma sensação diferente e bonita, principalmente quando você está de longe.
Ao chegar no aeroporto de Denver, fui direto pegar minha
mala. Estava apreensivo, pois não sabia direito se ia achá-la ou não. Já ouvi histórias
terríveis de extravios de malas em aeroportos americanos. Quando eu entrei no salão de despacho de bagagens eu já estava pensando em
como ia ficar vários dias com a roupa do corpo.
Minha mala, com alça, estava paradinha no corredor, lado a
lado com outras malas de outras pessoas que devem ter se perdido em algum
lugar. A pessoa se perde, mas a mala não. Não tinha ninguém ali pra me exigir o
ticket. Peguei a mala e fui embora.
Demorei um pouco pra me entender com a máquina que vendia os
bilhetes de trem. Se não fosse a intervenção do guardinha da estação, não teria
conseguido. Me senti um analfabeto funcional. Mas o guardinha me tranquilizou: “essas
maquinas são malucas mesmo. Ninguém entende o que elas querem”. Agradeci e
fui embora.
O resto da viagem foi tranquilo. Peguei um trem até o centro
de Denver, e com o mesmo bilhete, que ninguém me cobrou, cheguei até a cidade
de Golden, onde estou agora. Nós, brasileiros, em geral nos espantamos com
essas coisas. Pensando na nossa situação, dá uma sensação de falência da nossa
cultura. Quando vamos ter coisas controladas pela nossa confiança mútua?
O céu estava limpo, mas logo nublou com as nuvens vindo das
cordilheiras nevadas. O céu de Denver era um céu azul bonito, de verão. Lembrei-me
até dos versos de Mário Quintana sobre os belos céus azuis de Porto Alegre. Aqui
e ali, algumas nuvens fofas e gordinhas da estação. Logo o céu, que parecia ter
um pé direito muito mais alto, nublou com a chegada das nuvens de chuva. Uma chuva
de verão, cheia de vento e com alguns raios aqui e ali.
Protegido pelo vidro do trem, foi bonito ver a chegada
daquela chuva. Lembrei até de um dia de infância, na janela de minha casa de Antonina,
vendo uma forte tempestade de verão chegar, junto com minha tia Zila.
Era assustador o negrume da chuva, e o vento que ela trazia.
Tia Zila me confortou, me fazendo ver que era o poder da natureza. E ele era
bonito e não assustador. A forte tempestade de verão passou, como todas passam.
No entanto, sua passagem me deixou feliz e não mais assustado com seu poder. Passei
a mostrar para meus filhos a chuva que chegava, segundo os mesmos princípios de
beleza e força. Nenhum deles se tornou meteorologista, mas acho que hoje enfrentam
chuvas numa boa, sem medo.
Logo peguei o trem para Golden, na bela estação central de
Denver. Toda remodelada, ela é bem bonita e merece mais que um reles translado.
É uma estação do século passado, bem grande, que foi recentemente reformada e
está cheia de lojas cafés e livrarias. mas fui pegar meu trem.
À medida que o trem chegava perto de Golden, a chuva e as
montanhas ficavam mais perto. É um trajeto bem bonito e bem rápido. Na beira da
estrada existem diversos conjuntos residenciais de tijolinho vermelho aparente,
lembrando as vilas inglesas, de casas todas
iguais. Até os condomínios de prédios baixos tem esse formato.
O trem finalmente nos deixou num grande complexo
de prédios, que compreendem o Distrito do condado de Jefferson, ao qual pertence
a cidade de Golden. Sim, o nome é esse e eu fiquei procurando umas placas para
tirar selfie com meu nome. Mas o ônibus chegou antes. Estava próximo ao meu
destino.
Não deixe de visitar Historical Morrison. Boa viagem!
ResponderExcluirBem mais tranquilo e menos ansioso esse capítulo de Jeff nos States. Aguardando as impressões de Golden. Abraço!
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