Odeio correr em aeroporto. Detesto. Convenhamos, não é o melhor lugar pra correr. Está mais para o estresse que para a saúde. Correr no aeroporto é correr num lugar cheio de gente, cheio de pisos diferentes, escadas, escadas rolantes, um infindável número de quiosques de coisas no seu caminho. E temos que correr.
Em geral, não é uma corrida simples. Além de ser uma corrida
de obstáculos, você ainda está carregando alguma coisa. Uma mala, uma mochila,
um pacote com o presente que você comprou para alguém querido, suas blusas de lã...a
lista é infindável.
Já fui bom de corrida. Tive tempos memoráveis antes de meus
joelhos me traírem. Hoje, correr é praticamente só no aeroporto. E eu detesto. Correr
contra todos os que estão no seu caminho, tenham eles culpa ou não de estar na
sua frente. Nunca tem nem nunca terão culpa, exceto os distraídos crônicos, dentre
os quais me incluo. Correr contra o tempo, correr para pegar um check in aberto,
correr para não perder o voo. Correr pra alguma coisa que vai acontecer e você não
tem tempo.
Ontem, quando entrei nos Estados Unidos, entrei por Dallas. Passei
por toda a parafernália da imigração. As entrevistas até nem são muito
complicadas, e o pessoal se mostrou atencioso. O problema é passar pelos tais
detectores. Tive que, como todos, tirar os sapatos, os cintos, estripar a
mochila e abrir tudo. Esvaziar os bolsos, colocar tudo para fora.
Dentro daquele escâner de gente, é você praticamente como veio
ao mundo, tirando algumas roupas por cima. Fiquei com medo. E se o escâner mostrasse
quem eu sou? Quem eu realmente sou? Anos e anos de análise e terapia (freudiana
e lacaniana), de meditações, de conversas profundas e discussões de relacionamento – vou encontrar
quem eu sou no escâner de um aeroporto no Texas? Bizarro.
Depois, de passar pelo escâner, tive que correr. Fiz de tudo para não
correr, mas meu voo estava ora num canto ora no outro, e fiquei perdido entre
os balcões de embarque. Quando eu achei, foi depois de uma maratona e uma meia
maratona e mais o complemento de uns 100 metros rasos com um “peixinho” na
chegada. No entanto, apesar de todo este esforço, perdi meu voo.
A funcionária do balcão da companhia aérea não deu muita
bola para meu sofrimento. Não teve qualquer pressa em fazer suas funções. Cada coisa
a seu tempo, “no rush”. Entretanto, apesar de sua cara de poucos amigos, Cindi
(era o nome no crachá) me deu uma outra possibilidade. Um voo no outro
terminal. Outra viagem dentro do aeroporto. Trem, escadas rolantes, corredores
imensos e vazios. Aqui estou. Espero nunca mais correr em aeroportos.
Estou aqui, em outro guichê, em outra espera, cheio de gente
ansiosa ao meu redor. Eu tento esconder minha ansiedade. Mas estou ansioso. Será que
vou conseguir embarcar? Será que vou ficar por aqui pra sempre, como aquele filme do Tom
Hanks? Menos, Jeffinho, menos...
Só fico pensando na minha mala, que já despachei...será que um
dia vamos nos encontrar?
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