domingo, 26 de novembro de 2017

CRÔNICAS DO DUTO (2) - FITZCARRALDO

Ao longo do eixo do duto, a corrente humana para levar os equipamentos para o local de sondagem
Escavocar o solo para colocar um duto não é tarefa fácil, em nenhum lugar do mundo. É coisa pra cachorro grande.  Tipo a Petrobras. Existem muitos serviços que exigem muito, mas muito esforço mesmo. Acompanhei na semana passada a retirada de duas sondas percussivas de um local ao longo da faixa que foi uma epopeia.
Pra começar, o terreno era muito íngreme e escarpado. Os morros muito altos, quase tudo com o topo na cota 1000 m (acima do mar). Não havia estradas ou caminhos que facilitassem a entrada destes equipamentos, cada um dos quais pesa mais de 200 quilos de ferragem, mais motores, mangueiras, chaves e outros equipamentos. Só um destes equipamentos, o percussor, um cilindro de ferro com 25 cm de diâmetro mais uma haste de 80 cm, pesa 65 quilos. Carinhosamente apelidado “Jorginho” pelos sondadores, é individualmente a peça mais pesada e difícil de carregar.
Mas os bravos pernambucanos da equipe de sondagem conseguiram fazer com que tais equipamentos descessem a tal da encosta. Pra descer, descíamos segurando em cordas. Pra subir, uma vez encerrado o trabalho, convocamos uma turma de mais de 15 pessoas exclusivamente pra tirar as ferragens da grota.
Com cordas e muita vontade, as pecas foram amarradas e içadas uma a uma vertente após vertente. Eram duas vertentes, ambas muito íngremes. Os equipamentos, amarrados uns nos outros, muitas vezes pesando cem quilos ou mais.
Foram dispostas cerca de vinte pessoas, a cada patamar da encosta, pra ajudar a puxar os equipamentos. Vistos de longe, os uniformes azuis e cinzas faziam uma linha pontilhada ao longo do morro. Parecia uma cena de Fitzcarraldo, filme do diretor Werner Herzog, onde uma multidão de trabalhadores puxa um enorme barco morro acima na Amazônia.
O pessoal puxou as cordas rindo e brincando uns com os outros, parecendo uma grande brincadeira. Uma alegria que nos contagiou a todos, e fez com que o trabalho fosse menos penoso. Impressionante mesmo.

(Estas crônicas eu escrevi quando trabalhava num projeto de gasoduto entre Atibaia e Sao José dos Campos, em São Paulo, no final de 2009.)

(publicado em 2009 pela primeira vez aqui)

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