A praça Rui Barbosa e os bondes de Santos, cerca de 1940 |
Estava já escuro, mas mal o Vapor atracou nas docas do porto
de Santos Lydio saltou para terra. Queria conhecer a cidade. Ficou muito
impressionado com o movimento comercial do centro, mesmo àquela hora
da noite. Visitou as praças Rui Barbosa e José Bonifácio, que gostou muito. Mas
ficou mesmo impressionado com os bondes da cidade.
Os bondes tinham motorneiros vestidos em impecáveis ternos
brancos, e usavam luvas. Chamou atenção os vastos bigodes que quase todos eles
apresentavam. Só depois, mais tarde, se deu conta que eram quase todos
portugueses. Deixando para trás os bondes, e andando um pouco mais, Lydio viu um circo.
Era o circo Piolom. Com sua tenda armada num terreno baldio
das proximidades, estava bem na hora de mais um grande espetáculo. Provavelmente,
o maior espetáculo da Terra. A vontade que Lydio sentiu de assistir ao espetáculo
daquela noite só não foi maior do que o medo de perder o navio. Entrou de volta
pelo armazém 12 e andou pelo cais apreciando os navios ali ancorados.
Estavam ali ancorados diversos navios americanos e ingleses,
os quais mostravam, na proa e na popa, canhões e metralhadoras antiaéreas. O tempo
de guerra e o encontro com submarinos e belonaves alemãs não era uma ameaça distante,
como já vimos. Os navios brasileiros que Lydio encontrou ali atracados também estavam
armados. Mais do que os navios de guerra, entretanto, os cassinos flutuantes que também
estavam ancorados ali também chamaram a sua atenção.
Havia muita gente e muita luz. De lá de dentro, muita música
também ressoava. No interior do navio-cassino, imagina, Lydio, jogava-se e dançava-se
freneticamente. A maioria dos frequentadores, segundo nota, eram estrangeiros. No
próprio vapor em que viera, o carteado também corria solto no convés. O clima
de festa dos navios ressoou intenso. No entanto, tinha que voltar ao seu navio.
De volta, correu ao seu camarote e dormiu sob o embalo das ondas.
Pela manhã, ao acordar, os rapazes viram o movimento intenso
do porto, com seus guindastes trabalhando freneticamente tirando e colocando
cargas destinadas a todos os lugares do brasil e do mundo. Após o café, saíram para
conhecer a cidade, agora de dia.
Após visitarem um conhecido de Antonina que estava morando
em Santos, os rapazes andaram pelo centro e passearam pelas praias de Gonzaga e
José Menino. Passaram de bonde pelo estádio de Vila Belmiro onde, mal sabiam eles,
surgiria, dezesseis anos depois, a maior lenda do futebol mundial e um dos
maiores times de futebol já vistos. Mas isto é outra história. Na cidade, mais
do que o futebol, o que mais chamou a atenção dos rapazes foram os canais.
Iniciados em 1907 pelo engenheiro Saturnino de Brito, os
canais eram uma grande inovação higienista e urbanística, drenando os terrenos
alagadiços da Ilha e controlando as aguas pluviais. Contribuíram para o
controle de doenças e induziram a ocupação urbana da cidade durante o século XX.
O mais novo dos canais só seria terminado em 1968. Em 1942, os canais de Santos
já eram uma obra de chamar a atenção dos jovens escoteiros. Lydio também notou
os morros de Santos, observando lá em cima, a mancha branca da igreja de N.S.
de Montserrat. Era hora de voltar ao navio.
Os rapazes ficaram no salão do navio, ouvindo as músicas
tocadas ao piano pela jovem Doralice, gaúcha de Porto Alegre. De namorico com
Milton Horibe, a gauchinha ficou por lá conversando alegremente com os rapazes,
até que chegou a hora de se recolherem. Durante a madrugada, Lydio saiu ao convés
para ver a tempestade que já citamos, a qual quase lhe custou a vida. Logo
depois, o escoteiro voltou ao camarote e dormiu pesadamente. Quando acordou,
havia perdido o café da manhã. No entanto, ao conversar no convés com um
marujo, descobriu que estariam chegando em casa no começo daquela mesma noite.
Enfim, de volta pra casa!
Bravo, Jeff! Estive afastado alguns dias do computador, mas a primeira coisa que fiz, ao voltar, foi entrar no urublues e me deliciar com os seus textos. Bravo novamente! Bravíssimo!
ResponderExcluireu é que agradeço a audiência e a paciência...
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