Ao cair da tarde do dia 4 de março de 1942, depois de passar
ao largo de Cananeia e entrar no canal da Ilha do Mel, o vapor que conduzia os
cinco escoteiros estava chegando ao atracadouro do porto de Paranaguá. O fato
do navio chegar até ali e não ir até Antonina era simplesmente o fato causador
da viagem dos rapazes, fazia três meses quase: o fechamento da Companhia Costeira
pelo Governo Federal, que fazia a rota comercial até Antonina.
A carta que os rapazes haviam entregado explicava ao Ditador
as razões da cidade para ter a volta dos navios da Costeira de volta. Antonina
era o caminho mais curto para Curitiba, servido diretamente pela estrada da
Graciosa. Era o atracadouro mais ocidental da baia de Paranaguá, com obvias
vantagens em termos de distância e, consequentemente, em fretes.
Os navios da Costeira, que haviam sido recentemente estatizados
pelo Governo, eram o grande elo que unia Antonina na rede do comercio de
cabotagem do Brasil. Sem ele, o comercio perdia todas as suas vantagens e a
cidade perderia muito em importância e em dinheiro. Na carta, a cidade pedia
que a costeira pudesse voltar, e apelava para os mais nobres sentimentos do
ditador.
Getulio fez o que lhe convinha: posou para fotos com os
rapazes, ressalvou-lhes a coragem. Fez com que a Costeira voltasse a tocar, de
maneira tímida, o atracadouro antoninense. Mas era pouco. Quando o ditador
caiu, em 1945, a Costeira desapareceu tão irremediavelmente que nenhuma viagem
a pé poderia faze-la voltar. A viagem dos rapazes que agora terminava como um
grande sucesso, na verdade havia sido um movimento de grande coragem, mas em
vão.
Longe deste horizonte, os rapazes iam acompanhando a manobra
do navio para atracar no porto de Paranaguá naquele início de noite. No cais,
os meninos foram recebidos pelo chefe dos escoteiros de Antonina, Maneco
Picanço, e por alguns antoninenses que moravam na cidade. Foi uma grande festa.
Um Ford V8 preto estava ali, esperando para levar os rapazes de volta para
casa. Seria a última viagem até Antonina, de onde haviam partido em dezembro.
O motorista foi encher o tanque, uma tarefa bastante
complicada naqueles tempos. A gasolina estava racionada em tempos de guerra, e
demorou quase duas horas para voltar com o tanque cheio. De tanque cheio também
estavam os rapazes, levados pelo Chefe para fazer uma boquinha antes da última
viagem.
O Ford deixou Paranaguá as 22:00 horas, passando pela vila
de Morretes despois de quase duas horas de viagem. Prosseguiram até Porto de
cima e São João, no entroncamento da Estrada da Graciosa, onde pararam para
descansar. Ali estava esperando por eles o Sr Nicolau Cecyn, em seu Ford verde,
para acompanha-los no trecho final. No quilometro 8 da rodovia da graciosa o
delegado de polícia de Antonina, o Sr Penny Withers, esperava para dar a boa
vinda aos rapazes, em nome do prefeito, Capitão Custodio Afonso Neto.
Quando a caravana chefiada pelo Ford Preto cruzou a Avenida
Thiago Peixoto, os foguetes começaram. Segundo Lydio, o espetáculo pirotécnico era
indescritível. Foguetes e morteiros estouravam sem cessar, anota ele. Os carros
só pararam, em meio ao foguetório, depois do portal da cidade, próximo do pátio
da Estação Ferroviária. Uma grande multidão cercava os rapazes, dando-lhes beijos
e abraços.
Como Lydio anotou em seu diário, teve início um grande desfile
escoteiro nas ruas de Antonina que durou parte da madrugada, que só terminou na
Caserna da Tropa Valle Porto, acompanhados por grande massa de pessoas. Ali,
finalmente, os rapazes foram dispensados de sua missão e puderam ir para suas
casas.
Ao chegar em casa, com sua família, Lydio conta que estava
muito excitado para dormir. Estava cansado, com fome, mas sem sono, querendo
desesperadamente falar. Sua mãe, dona Nathalia, foi fazer um café. Enquanto
isso, Lydio contava para seu pai alguns dos detalhes da viagem. Eram 4 da manhã
quando finalmente conseguiu pegar no sono. Segundo conta, sentia falta do
balanço do navio. Fechava os olhos e tentava reter na memória tudo o que havia
acontecido naquela memorável madrugada.
Enfim, em casa!
O escoteiro Lydio ficaria contente com a reconstrução do passado que você fez, a partir das suas anotações.
ResponderExcluirObrigado, Edson!! Eu também gostaria de saber se ele ficou mesmo contente...
ResponderExcluirOlá Jeff. Fui contratado para escrever um livro sobre a odisseia dos escoteiros. Na minha pesquisa achei teu blog. Gostaria de conversar contigo. meu email é eduardoeugeniosigaud@gmail.com. Obrigado
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