O telefone,
cruel, começa a fazer seu ruído na cozinha: é minha mãe, com notícias nada boas
de Antonina: faleceu Laura Veiga de Camargo, Dona Laura, a boa, bela e doce
Dona Laura não está mais entre nós. Consta que faleceu serena, como serena
viveu. Impossível não chorar neste momento triste.
No entanto,
ora bolas, somos egoístas: choramos pela sua perda, mas choramos por nós e pela
nossa perda. Dona Laura, pessoa boa e bela, viveu a vida com prazer e
intensidade, sempre fiel às coisas em que acreditava. Para onde foi, foi com
certeza em paz. Se existe vida após a morte, com certeza ela estará no céu, ao
lugar destinado às pessoas boas. Se não existe – dessas coisas nada sabemos –
fica o seu exemplo e a lembrança de sua vida boa e digna. Para nós, que
continuamos na toada da vida, temos que honrar, respeitar e lembrar seu nome e
seu exemplo.
Para todos,
Dona Laura dava sempre um sorriso, um carinho, uma palavra de apoio. Lembro-me
especialmente de um dia em que, no primeiro ano primário, tive um ataque de
choro e queria ir pra casa. Ainda não estava acostumado com a vida de escola.
Dona Laura me acalmou, me levou pra fora, tranqüilizou-me e me deixou desenhar com
os pincéis atômicos numa folha de papel que ela me entregara. “Sabia que os
astronautas na lua escrevem com ele?” me disse, com carinho. Era o tempo das
viagens espaciais e da Apolo 11, e eu era vidrado no mundo da Lua (ainda sou,
confesso!!). Com a conversa de Dona Laura, me tranqüilizei e voltei pra minha
sala. E continuo até hoje entre os muros da escola.
Lembro-me
com carinho de sua casa e do seu quintal cheio de goiabeiras que tão generosamente
compartilhamos na infância, os meninos da minha rua. Lá, montamos os circos que
Rafael fazia, víamos e participávamos dos espetáculos circenses. No carnaval saímos
acompanhando o boi de Rafael, sempre sob o olhar carinhoso de dona Laura vendo
aquela piazada entrar e sair de sua casa, feliz e generosa como ela só sabia
ser.
Cheguei a freqüentar
– pouco, menos do que deveria – sua casa de Curitiba, casa cheia de gente boa,
agora a casa de Geraldo Leão, de Rafael, onde conheci e curti muitos artistas
da cena curitibana. Como a casa de infância, continuava sendo uma casa
generosa, onde todos entravam e saiam felizes, onde se viam pelas paredes
quadros de Geraldinho e ouvíamos a musica de Rafael, sob o olhar feliz de dona Laura.
Mais recentemente,
conheci a dona Laura dos belos e singelos textos, alguns publicados pela
prefeitura nos anos 90. Outros textos, conheci pela rede mesmo, como o belíssimo
texto dos “Sons de Antonina” que postarei logo a seguir. Contavam histórias
belas, histórias engraçadas, historias cheias de emoção, como a das
brincadeiras de Seu Geraldo Leão, seu marido, das historias dos caranguejos com
velas nas costas assombrando as crianças como almas penadas, historias do
cotidiano da cidade: a chegada do navio, do trem, os sons das pessoas
trabalhando e vivendo. Tudo isso tomava um ar de saudade e melancolia, mas com
uma leveza e uma alegria que só ela, dona Laura, poderia proporcionar.
Estive há
pouco com ela, acho que no inicio do ano: veio nos visitar em casa de minha mãe,
e, na volta, a deixei em sua casa antes de subir a Serra pra Curitiba. Conversamos
sobre diversas coisas, rimos muito, saímos felizes de sua casa, a pequena
casinha no Buraco da Onça, casa boa e generosa como as casas que conheci na infância
e na adolescência.
Ao lembrar
dela, aqui de longe, lembro de seu sorriso, de sua risada galhofeira, da
ternura de suas palavras, da maneira com que se dirigia a nós, sempre pelos
diminutivos: sempre me chamou de “jeffinho”, assim, com carinho, embora tenha
virado esse grandalhão feioso que hoje sou. Com ela do meu lado contando histórias
em casa de minha mãe, me senti pequeno e magrinho, com vontade de tomar dolé de
maracujá no bar ao lado de sua casa, ali do lado da casa de minha avó. Dona Laura,
que falta a senhora nos faz!
(meus pêsames a toda sua família, de quem tanto gosto)
(meus pêsames a toda sua família, de quem tanto gosto)
Me bateu uma enorme saudade do tempo do circo no quintal da Tia Laura...
ResponderExcluir...lembro-me do amigo Claudinho (hoje na estiva), pulando do pé de goiabeira, lá do alto, era a última atração do circo... só o Rafa para fazer uma coisa dessa mesmo... rsss
...Tia Laura, tia Tite, amigas e cumplices de mamãe... Lindas, assim como todas as belas mulheres antoninense são...
...é uma pena que um pouco das nossas referências estão indo para um outro plano... são traços do destino, é a única certeza plena...
...assim como o meu amigo Jeffinho..., me compadeço pela passagem da Tia Laura.
Neuton Pires
belo texto, Jeff.
ResponderExcluirAdorava dona Laura. Fiquei devendo muitos cafés pra ela
puxa, gente, que privilegio foi termos nós todos convivido com um ser humano como ela, não?
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