segunda-feira, 13 de junho de 2011

UM ESPECTRO RONDA SÃO JOSE DOS PINHAIS


O Quarto Estado (Pelizza da Volpedo, 1890) (aqui )
Que Gleise que nada. A notícia mais interessante que eu vi estes dias sobre o Paraná foi sobre a greve de 37 dias que os metalúrgicos de São José dos Pinhais construíram. Uma greve de metalúrgicos de mais de um mês, gerando prejuízos para a empresa em mais de 1 bilhão de reais. Segundo as informações  que recolhi (aqui), deixaram de ser produzidos 23 mil unidades durante a greve. Os grevistas ganharam, alem de aumento no salário, aumento na Participação nos Lucros e Resultados (PLR), além de outros itens, como data base, abono salarial e plano de cargos e salários.

Entre os ganhos intangíveis, isto é, os que não podem ser medidos, estão a equiparação com os metalúrgicos paulistas. Ou seja, ganhou mais lá, ganhou em São José também. Metalúrgico paranaense também é gente. Quando as montadoras foram para a RMC, nos anos 90, uma das apostas das autoridades que acertaram a vinda das montadoras era o esvaziamento do ABC e de suas lideranças sindicais, leia-se nisso o PT e seu braço sindical, a CUT. Apostavam num operariado mais dócil, mais barato e fácil de ser enganado.

Ora, assim como os peões do ABC aprenderam nos anos 70 e 80, a polacada também está descobrindo o caminho das pedras. Previsível. Como água ladeira abaixo e fogo morro acima, operário organizado ninguém para. O movimento sindical anda meio esquecido. Parece que o PT se esqueceu do movimento operário, e a CUT está andando com o freio de mão puxado. Como é que é isso? Será que é só impressão minha?

O Paraná é um estado ainda agrário e conservador. As principais lideranças empresariais são as lideranças do agronegócio, o mesmo que sustentou as ultimas candidaturas do PSDB nas últimas eleições. O agronegócio tem cuidando de seus interesses gente de primeira linha, como Reinhold Stephanes. É gente que está por trás das alterações da lei florestal recentemente aprovada pelo congresso, por exemplo. Por este passado e por este presente, o Paraná sempre teve lideranças conservadoras e/ou autoritárias. Nosso perfil é de gente braba, mas “que faz”. É o perfil de Ney Braga, o perfil de Roberto Requião e, a nova estrela ascendente, a Gleise (será?). Lideranças carismáticas e populares, como Leonel Brizola, à esquerda, Mario Covas no centro e – porque não? – Paulo Maluf, na direita, estas nunca tivemos. O ministro Paulo Bernardo, até a semana passada nosso grande quadro em Brasília, por exemplo, não seria nem vereador em Londrina, seu domicílio eleitoral.

Precisamos de indústria, de serviços, de educação. Precisamos, mais que tudo, vencer nosso estigma de periferia de São Paulo ou do Rio Grande do Sul. Precisamos mostrar que o Paraná tem gente e não bichos. No passado, a gente se orgulhava de ser chamado de “Bicho do Paraná”, lembram? Hoje, o orgulho paranaense é o de ter uma cidade limpinha e organizada como Curitiba, ou de termos “todas as etnias da Europa” em nosso quintal. Somos arianos, por acaso? Nos anos 90, o Paraná era o estado onde o movimento separatista foi mais forte – alguém se lembra dos adesivos nos carros “O sul é meu país”? Aonde queremos chegar?

Por tudo isso, eu saúdo a greve dos operários de São José. A classe operaria chegou ao Umbará. Mesmo sabendo que o sindicato não é lá aquelas coisas, que seu presidente é no mínimo suspeito, eu saúdo meus irmãos proletários paranaenses. Nada temos a perder com isso, senão os grilhões que nos atam. E temos muito cachorro quente com vina pra comer na esquina.


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