Bairro da Serraria, Capão Bonito (SP), 1940. |
No dia seguinte, os escoteiros aproveitaram as camas da
pensão do Chefe Mimi, e dormiram um pouco mais. O sol forte do caminho ia
começando a produzir seus estragos. Os rapazes, como de hábito, acordaram cedo.
No entanto, tiveram que esperar pelo café, para ser tomado com o chefe e sua
família. Tomaram um bom café ao redor da mesa da pensão. Mas os rapazes estavam
impacientes, a estrada os esperava. Lá pelas 9:30, puseram-se novamente em marcha.
A partir de Capão Bonito, os rapazes entrariam numa região
bem mais plana que o planalto de Apiaí e as serras de Paranapiacaba. No plano, também,
havia vários caminhos a percorrer. O mais curto deles passava por cidades
pequenas, como São Miguel Arcanjo e Pilar do Sul. No entanto, avaliaram que
seria muito mais penoso, e com menos estrutura. Decidiram, portanto, seguir a
rota mais antiga e mais longa, mas que passava por centros maiores, como
Gramadinho, Itapetininga Sorocaba e São Roque.
O caminho foi bastante tranquilo. Apesar do sol forte, os
rapazes chegaram a Gramadinho, a próxima etapa da viagem, ainda no fim do dia. Lá,
acabaram por pedir pouso numa Delegacia de Polícia. Lídio não esqueceria esta
noite.
Atacado por uma forte dor de cabeça, Lídio pediu aos companheiros
um copo de agua para tomar uma aspirina. Milton e Manduca foram ao poço que
havia nos fundos da delegacia. Mas eles estavam demorando para trazer o tal do
copo de água. Lídio se impacientou. Mesmo com febre e dor de cabeça, foi lá fora
ver onde eles estavam. A situação que encontrou não era nada fácil.
Com os pés no chão frio e meio zonzo da febre, Lídio foi
encontrar os companheiros. No meio da noite, Milton e Manduca estavam tentando
passar por um arame farpado que dava acesso ao poço. O acesso se fazia por meio
de um caracol de arame farpado, que foi difícil de cruzar no meio da noite
escura.
Uma vez resolvido o acesso ao poço, os rapazes tiveram que
consertar a manivela do poço, que estava quebrada. Mas, apesar de todos os
perrengues, ainda viriam outros mais: quando puxaram a água do poço viram que o
balde estava furado. Nada de água. A febre de Lídio continuava.
Um deles foi pegar uma marmita. Improvisada como balde, jogaram
a marmita lá embaixo. Quando rodaram a manivela, cada barulhinho que a manivela fazia era uma apreensão só. Mas deu tudo certo: a marmita desceu e voltou lá de baixo cheia água. No entanto, quando foram ver, a água
era meio salobra. Mas Lídio estava desesperado. A febre seguia e ele estava louco para tomar a aspirina. Nessa hora, o rapaz não quis nem saber. Pegou
a marmita e tomou a aspirina na água ruim do poço da Delegacia.
Quando voltaram para o alojamento, ainda meio zonzo, os
rapazes foram dormir. Após um momento, a dor de cabeça de Lídio foi passando e,
com ela, veio o sono. Somente no dia seguinte foi que ele se lembrou de uma
linguiça salgada com farinha suruí, que havia comido na noite anterior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário